ligado a corruptos e outro aos partidários do marxismo. Não pode fugir de Cila para cair em
Caribdis.
(Nada tenho a acrescentar ou cortar nas palavras do meu amigo general Adyr Fiuza de Castro.)
O general Hugo Abreu cumpriu a promessa. Na noite de 15 de julho, inesperadamente, visitou-
me. Não veio acompanhado e manifestava sinais de nervosismo, o que não lhe era normal. Após os
cumprimentos sociais, minha família retirou-se para o interior do apartamento e ficamos a sós.
Foi o primeiro a falar no diálogo que encetamos:
- Como vai passando, ministro? Está bem de saúde?
- Muito bem! Tranqüilo de consciência, porém magoadíssimo com você por ter lido na televisão
- apontei o aparelho à frente - uma nota do governo que você sabia ser mentirosa!
- Não vim aqui, ministro, para escusar-me! Vim para explicar fatos... No sábado, dia 8 de
outubro, antes de sua exoneração, o presidente Geisel declarou-me que tomara a decisão de demiti-lo
por incompatibilidade e motivos políticos. (Disse-me o general Hugo Abreu, textualmente, "motivos
políticos", no entanto, nas páginas 128 e 129 do seu livro O outro lado do poder, procura dar força
à" incompatibilidade pessoal" existente entre o presidente e o ministro. Por quê? A narrativa
mostrará.) Protestei e chamei a atenção do presidente para a gravidade de sua decisão, sem que ele
recuasse. Na segunda-feira, quando voltei ao assunto, disse ao presidente que se a situação tornara-
se insuportável fora mais por culpa de Golbery, Figueiredo e minha também. Que eu achava solução
mais justa a demissão do ministro, dos generais Golbery, Figueiredo e minha. O presidente insistiu
na incompatibilidade pessoal e, por isso, resolvi dar-lhe todo o apoio. Declarou, ainda, que, se não
tivesse força para exonerar o Ministro do Exército, renunciaria. - Mas você me mandou dizer pelo tenente-coronel Kurt Pessek que, se eu fosse afastado pelo
presidente Geisel por motivos políticos, você também se demitiria. - Realmente mandei dizer isso... mas não houve razão para agir assim...
- No entanto você confirmou ser o motivo meramente político quando eu saía do palácio, no dia
12 de outubro. Meu ajudante-de-ordens ouviu e pode confirmar.
Sem retomar o assunto, Hugo continuou:
- Decidido a prestigiar o presidente, tomei todas as medidas de ligação com os comandos do
Exército que interessavam. Ficou estabelecido que um avião militar iria buscar, na manhã de 12, o
general Bethlem, que deveria vir incógnito, em trajes civis, sob o pseudônimo de Bernardo Geisel,
por medida de precaução. Fiz as ligações com a Aeronáutica nesse sentido. - O Comandante do 1 Exército, general José Pinto Araújo Rabello, já sabia com antecedência da