marxista? Não compreendo isto... não está certa a sua decisão...
O general Hugo Abreu levantou-se, deu dois passos pela sala, voltou-se para mim e...
desprendeu o desabafo que continha a custo:
- Ministro! Entre a corrupção e a subversão preferi ficar ao lado da subversão para combater a
corrupção... O Golbery e seus comparsas vão vender o Brasil às multinacionais... aliás já estão
vendendo. Jamais sairão do poder, se não houver uma forte reação... A corrupção dos vencimentos e
vantagens de Golbery, Aquino, Humberto Barreto e outros é de estarrecer... Ganham muito dinheiro...
Mas o Exército não permitirá que a subversão tome conta... Discordo, como o senhor, da intromissão
do Exército na política... Escrevi ao general Bethlem esta carta (deu-me a cópia de uma carta de 30
de maio de 1978, dirigida ao ministro Bethlem).' Não desejo ver o Exército atrelado à política...
Estou cético do comportamento do Alto Comando... Numa das últimas reuniões do Alto Comando, o
Walter Pires declarou que se o Euler vencesse não tomaria posse e o Jansen repeliu esta
declaração... Preteriram o Fiuza por ser seu amigo... Todos querem agradar o governo... Até o
Pamplona, meu amigo, que sempre defendi e apoiei, como o senhor bem sabe, deu parte do meu filho
acusando-o de estar fazendo reuniões de oficiais...
Parou de falar. Disse-me que iria retirar-se e pediu para despedir-se de minha família.
Ao sair, ainda excitado pela indignação, na presença de meus familiares, repetiu com voz firme:
- Foi isso, ministro! No dia 12 de outubro os generais esconderam-se no meu gabinete, temerosos
do que o senhor estava fazendo... Tive nojo deles. Voltarei outra ocasião para falar com o senhor...
Num domingo à tarde, no mesmo mês de julho, voltou Hugo Abreu a procurar-me. Fez-me, desta
vez, o que não conseguira fazer na anterior - uma rápida exposição sobre a situação do Euler e pediu-
me uma declaração de apoio ao candidato da Frente Nacional de Redemocratização.
Neguei-a, sustentando a negativa em razões por demais conhecidas para aqui repisá-las
enfadonhamente. Combativo, como era, insistiu, variando argumentos, porém não acedi.
Nunca mais o vi pessoalmente.
Em 2 de outubro foi punido com 20 dias de prisão pelo Ministro do Exército por ter escrito uma
carta a seus pares, segundo a nota oficial "semeando a desarmonia, a discórdia e a desconfiança" e
vir mantendo "contatos políticos" e "envolvimento ostensivo em atividades político-partidárias".2
Nessa prisão de Hugo Abreu retenho-me, apenas, no episódio da carta, levada ao ministro em
original ou em cópia "xerox"; conforme tinha sido entregue por um dos oficiais destinatários ou
violada a correspondência por agentes do governo. No primeiro caso não há termos para definir a
podridão de caráter de um oficial que, recebendo de um general carta pessoal, tratando-o como caro
chefe e amigo ou simplesmente caro amigo, vá mostrá-la ao Ministro do Exército, rompendo com