IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

todos os princípios morais e éticos esposados por homens de bem. Na outra hipótese, da violação da
correspondência, constitui crime, que a prepotência não se envergonha de realizar habitualmente.


Contudo, é preciso esclarecer que o general-de-exército Antonio Carlos de Andrada Serpa disse
posteriormente ao general Hugo Abreu ter sido um dos destinatários o autor da delação.


Na ânsia de punir Hugo Abreu o ministro infringiu o Regulamento Disciplinar do Exército
(Artigo 31, Item 2, Parágrafo 3°) que, em síntese, não permite referências deprimentes ou ofensivas e
alusões pessoais. Mau exemplo!


O "revanchismo , que se tornou a palavra da moda nos meios oficiais, não pode, naturalmente,
ser aplicado às ações do governo.


Recebi essa falada carta de Hugo - comentei certos trechos à margem -; ele a publicou em seu
livro O outro lado do poder, nas páginas 180 a 185.3


Em maio de 1979, o Ministro do Exército aplicou em Hugo Abreu outra prisão disciplinar.
Prendeu-o por mais 20 dias, usando nas considerações justificadoras de seu ato expressões vagas,
dessas que lembram frases adaptáveis tanto à alegria dos batizados como à tristeza dos féretros.
Nada de uma objetividade corajosa na citação de fatos concretos.


A prisão de Hugo foi em decorrência da publicação de O outro lado do poder, livro que
incomodou bastante as autoridades governamentais, menos pelo teor das narrativas do que pelas
denúncias e acusações nele contidas.


O governo - por indiscrições de Hugo e seus amigos ou, quiçá, por inconfidência dos editores -
deve ter tido conhecimento da data em que o livro seria lançado. Provavelmente, por processos
pecaminosos e aéticos teve, também, vistas à matéria.


Apreendê-lo não seria aconselhável ao prestígio de um governo que nascera sob o signo da
abertura e cujo chefe assegurava ser, geneticamente, um democrata.


Por outro lado, o livro já se achava nas livrarias, desde o início da segunda quinzena de abril,
aguardando o lançamento público, marcado para 22 de abril. Era, pois, inevitável a sua divulgação e
a tarefa de retirá-lo do comércio, sem alarde, muito difícil.


Decidiu, então, cercear militarmente o autor colocando-o nas malhas da disciplina, caso não
evitasse, ante a ameaça, a divulgação.


A solução casuística surgiu em socorro dos angustiados homens do Planalto: o Regulamento
Disciplinar do Exército seria alterado!


Páginas atrás, fiz referência às quatro modificações desse Regulamento, no período
revolucionário. Não quis especular sobre as razões políticas dessas alterações - houve na realidade

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