Mandaria, contudo, exercer rigorosa fiscalização quanto à veracidade e comedimento das
informações que fossem difundidas.
Aproximadamente dois meses após estas recomendações, voltou o presidente ao assunto,
mostrando-me um boletim de informações do 1 Exército no qual eram divulgados acontecimentos das
áreas política e econômica - aliás pouco recomendáveis à lisura revolucionária.
À margem do boletim - que apresentava várias partes grifadas - li, num determinado trecho,
escrito com a letra inconfundível do general Golbery do Couto e Silva, uma palavra de acerba
censura.
O presidente perguntou-me como eu deixara sair uma notícia daquela espécie.
Esclareci que o censor das informações dos boletins dos Exércitos era o seu próprio comandante
e que a notícia não podia sofrer restrições por ser verídica e nada ter de alarmante.
Considerando que o boletim tinha sido elaborado no Rio de janeiro, sede do 1 Exército, e que
em Brasília, talvez, oficialmente, só o recebessem o CIE e o SNI, não havia dúvida de que um
elemento de qualquer destes dois órgãos entregara ao Chefe da Casa Civil um documento de caráter
reservado que, aparentemente, em nada poderia interessá-lo, a não ser que fosse movido pela
intenção de intrigar o ministro e o Comandante do 1 Exército com o Presidente da República.
Aos poucos, porém, o general Geisel foi revelando o seu ponto de vista que se resumia no
seguinte: o Exército nada mais precisava saber do que assuntos relacionados diretamente à
administração militar.
Isto significava que as informações relativas aos campos econômico e político deveriam ser
excluídas dos relatórios e boletins informativos, ficando as do campo psicossocial sujeitas a uma
filtragem.
Procedi a rigoroso controle daqueles documentos, mas nunca deixei de remeter a todos os
escalões subordinados informações indispensáveis a orientá-los no panorama sociopolítico-
econômico nacional, quaisquer que fossem a sua espécie.
Entre os comezinhos princípios da dinâmica das informações, no âmbito militar, está o de que as
informações ou informes devem ser difundidos sem perda de tempo aos escalões interessados em
usá-los.
Recebi pelo menos duas recomendações por escrito, transmitidas pelo Chefe do SNI, em nome
do Presidente da República, para que não permitisse apreciações dos fatos pelos grandes comandos,
pois tal procedimento cabia exclusivamente ao Serviço Nacional de Informações.
Procurava-se o monopólio das informações, nas mãos do governo, que já o possuía,
praticamente, no setor das Comunicações.