IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

Há, portanto, a destacar, neste quadro, duas forças atuantes - uma, política, no sentido da
consecução dos objetivos do governo; outra, militar, visando a preservar a coesão, a eficiência e os
interesses do Exército.


Se estas duas forças estão em consonância - o que deve ser normal -, subordinando-se a segunda
à primeira, o processo político evolui favoravelmente. Se, no entanto, colidem ou divergem, surgem
dificuldades que podem conduzir a graves acontecimentos.


No atual caso brasileiro, particularmente, em que o Presidente da República é um delegado da
Revolução de 1964, escolhido pelas Forças Armadas - pelo menos o foi até março de 1974 -, essa
harmonia de idéias e objetivos entre o governo e as Forças Armadas deve ser perfeita. Nada mais ele
é do que um executor dos objetivos e postulados daquela Revolução, recebida pelo povo com
delirantes aplausos, que a consagraram na História.


As Forças Armadas são, por conseguinte, responsáveis perante a Nação brasileira pelos êxitos
ou fracassos de sua atuação.


Restaurar a economia do país, sanear moralmente a Nação e combater a subversão constituem a
trindade da redemocratização revolucionária.


Qualquer política que a impedisse deveria ser corrigida e qualquer comportamento, individual
ou coletivo, que a violentasse, denunciado. Todas as ações ou omissões que denegrissem a
Revolução deveriam ser reveladas à Nação, desmascarando-se, assim, os oportunistas e os falsos
revolucionários.


Era este o nosso pensamento - dos tenentes-coronéis e coronéis - nos primórdios da nova era
revolucionária. O passado já estava sendo julgado; comprazia-nos o advento de uma fase de
dignidade e austeridade.


O Exército tinha, assim, o direito e o dever de acompanhar a marcha dos acontecimentos e os
acompanhou até 1974.


Ao assumir o governo, o general Ernesto Geisel não se encontrava, entretanto, a julgar pelos
fatos posteriores, imbuído destes propósitos. Recomendou-me logo, num dos primeiros despachos,
que controlasse os boletins e relatórios de informações, enviados mensalmente às unidades de tropa
e demais organizações militares, para que não houvesse exagero na descrição e interpretação das
ocorrências.


Disse-lhe, naquela época, que esses documentos forneciam aos oficiais os únicos dados sérios
sobre a conjuntura, visto que os jornais e revistas, na maioria das vezes, não eram distribuídos nas
guarnições do interior ou publicavam notícias incompletas. Acentuei que os nossos documentos
informativos, por merecerem todo o crédito, orientavam a oficialidade, livrando-a da exploração
política capciosa dos fatos.

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