IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

e imprescindíveis a adoção ou formulação de uma doutrina revolucionária e a criação de
instrumentos que defendessem e explicassem as suas teses. Em outras palavras, isto significava que a
Revolução, além de definir-se por um corpo de princípios, deveria dispor de uma associação de
indivíduos, aglutinados, por convicção, em torno de suas idéias.


O Ato outorgado legitimou-a, porém, por sua natureza, não poderia satisfazer essas exigências.
Os governantes revolucionários, não possuindo uma DOUTRINA nem a tendo elaborado, apegaram-
se, então, à da Escola Superior de Guerra que, visando a uma época de estabilidade democrática,
nada tinha de revolucionária, aplicando-se, aqui, este termo em sua lídima acepção histórico-
cultural.


Um partido político, um grupo de jornalistas credenciado pela combatividade, mestres,
empresários e homens de valor em todos os setores teriam de ser acionados para difundir os
propósitos revolucionários e irradiar, por todo o Brasil, a esperança de uma nova era.


Infelizmente, essa campanha de esclarecimento e catequização não se processou com a pujança
necessária a converter a abulia de nosso povo - gerada pelos maus governos - em confiança
revolucionária.


Esqueceram-se os chefes militares da sentença de que só a ofensiva conduz à vitória.

Criou-se, para continuidade revolucionária, a Aliança Renovadora Nacional (Arena), que sendo
mais um partido de governo do que da Revolução não justificou plenamente o nome.


Não era uma aliança, porquanto em várias áreas regionais seus integrantes viviam às turras,
digladiando-se por questiúnculas e prestígio provinciais. De renovadora, se algo tinha, era muito
pouco, sendo mais restauradora dos comportamentos oligárquicos, que relembravam a época do
"coronelismo". Finalmente, seu qualificativo de nacional prendia-se mais à sua distribuição pelo
nosso imenso território do que ao puro sentido de superpor os interesses da Nação aos regionais. Era
de mentalidade provinciana, da qual numerosos políticos ainda não se libertaram.


A Arena, portanto, foi na realidade um partido de governo da Revolução, mas nunca um partido
revolucionário.


Em julho de 1964, o Movimento de março continuava lutando para afirmar-se como uma
Revolução. No entanto, sem bases doutrinária e política, não contava com homens de convicção,
necessários para as grandes realizações de alcance sociopolítico-econômico que eliminassem as
aberrações de um sistema político inadequado e as injustiças sociais persistentes.


Uma estimativa dos Serviços de Informações enviada ao presidente naquele mês concluía: "O
governo não terá mais, pois, grande probabilidade de levar a cabo seu programa de restauração
financeira, de normalização da vida nacional e de implantação de reformas profundas."

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