IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

capazes, de honestidade e patriotismo inquestionáveis, dignos pela confiança revolucionária de
ocuparem cargos de responsabilidade e exercê-los com eficiência.


O Exército manter-se-ia à distância, empenhado em suas tarefas profissionais, em permanente
vigilância para que não voltássemos ao caos do passado.


Durante a ação militar e nos seus imediatos e posteriores momentos, com o propósito de
assegurar o domínio do organismo público, esse controle, essa penetração nos órgãos civis, era
explicável e até indispensável - em certos e raros casos -, porém, à proporção em que se fosse
firmando, a Revolução deveria ter procedido de outra forma, pois elementos de muito valor foram
esquecidos e abandonados, quando nos podiam ser de imensurável utilidade na reconstrução do país,
em particular na implantação das reformas recomendadas na doutrina da Escola Superior de Guerra,
adotada pelo primeiro governo da Revolução, em falta de outra.


Houve, é preciso reconhecer, exceções neste procedimento, mas, foram, na maioria das vezes,
antipáticos e pecaminosos, porque procuravam atender a interesses e influências mais pessoais do
que revolucionárias. Foi assim que vimos cidadãos capazes, porém reconhecidamente não
revolucionários, assumirem funções da mais alta relevância no país. Poderíamos citar muitos, em
especial no segundo escalão administrativo, contudo a entrega de cargos a Roberto Campos, Israel
Pinheiro e Negrão de Lima são exemplos suficientes. Como poderíamos esperar comportamento
revolucionário destes cidadãos?


Este era o pensamento dominante no Exército!

A exagerada e constante ocupação castrense de cargos da administração civil, direta ou
indiretamente subordinados aos governos federal e estaduais, foi mais perniciosa ao Exército do que
benéfica ao País.


Centenas de oficiais foram afastados do Exército, trazendo sérias dificuldades à tropa, em que as
substituições afetavam a instrução pelos males da solução de continuidade nos comandos. Nos
regimentos de Cavalaria da fronteira Oeste, orgânicos da 4á Divisão de Cavalaria, sob meu comando
em 1965, mais de metade dos pelotões eram comandados por sargentos. Além destes inconvenientes,
havia a circunstância de as substituições onerarem os cofres públicos.


Há a considerar, ainda, que estas facilidades de nomeações e designações de militares para
cargos fora das Forças Armadas, recompensadas por polpudos vencimentos e, não raro,
extravagantes mordomias, somados ao que continuavam a receber na instituição de origem,
estimulavam uma mentalidade utilitarista que, infelizmente, em todos os tempos encontrou acolhida
numa diminuta parcela do Exército.


Faço aqui uma digressão para esclarecer bem este aspecto. A carreira das armas é a única que
custeia, integralmente, a formação de seus profissionais e assegura-lhes durante este período parcos
vencimentos, diria melhor, um auxílio de manutenção social.

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