IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

cho oportuno abordar, agora, a questão do estabelecimento das relações diplomáticas entre o
Brasil e a República Popular da China. O assunto veio ao meu conhecimento quando exercia ainda a
chefia do EME, através de documento do Conselho de Segurança Nacional, datado de 9 de abril de
1974, o qual solicitava, dada minha qualidade de membro deste Conselho, parecer sobre Exposição
de Motivos do Ministro das Relações Exteriores, propondo fossem assentadas aquelas relações.


A matéria, considerando a sua excepcional importância, foi estudada sob minha orientação
direta, usando-se nesse trabalho os numerosos dados e informações existentes na Segunda Seção do
EME. A pesquisa reavivou argumentos invocados por ocasião do reatamento das relações
diplomáticas com outra grande potência marxista para fundamentar, naquela época, como
imprescindível a uma nova era da economia brasileira, o reatamento desejado. As estatísticas, no
entanto, delineando, em maio de 1974, uma ameaça de estagnação neste intercâmbio mercantil,
mostravam a falibilidade desse otimismo.


Não foram esquecidas neste exame as condições peculiares ao comércio com os países
socialistas, sempre interessados em negociar, de governo a governo, de preferência na exportação de
bens de capital, visando ao "séquito de técnicos"; fórmula já desmascarada de infiltrar agentes de
espionagem. O choque de valores culturais entre as duas nações, a ingerência chinesa, mais ou menos
velada, de acordo com a conjuntura internacional, na política de outros países e a obstinada e
impertinente exigência do rompimento com a China Nacionalista, provocando um problema com
Formosa, com quem mantínhamos excelentes relações - comerciais e políticas - mereceram especial
atenção.


Nenhum ângulo da questão ficou fora de foco. A grande responsabilidade para com o regime
democrático levou a apreciação dos aspectos de expansão dos quase 900 milhões de chineses, em
busca de vazios de ecúmenos e de domínio político, carreando para áreas cobiçadas da África negra,
e, talvez, da América do Sul, o marxismo, transformado em fanática religião maoísta. Mostraram-se
aí os benefícios para a segurança interna em conservar, no país, as representações da República da
China, que atuariam - em virtude de seu antagonismo ideológico com os chineses de Pequim - como
rigorosos vigilantes do comportamento destes últimos.


Não podíamos, por outro lado, prescindir de uma análise do panorama sociocultural da
República Popular da China, então sob o férreo domínio de Mao TséTung, coadjuvado pela fanática
"camarilha dos quatro", da qual era predominante figura sua esposa Chiang Ching.

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