Nesta ocasião, ao sair de um despacho presidencial, contou-me um dos meus assistentes, que me
acompanhara ao palácio do Planalto, ter ouvido textualmente do secretário particular do Presidente
da República, Heitor Aquino Ferreira, a seguinte frase, referente ao tema sobre o qual discorremos:
"Por causa destes milicos de... (aqui foi proferida a famosa palavra do general Cambronne) não
poderemos fazer relações com Cuba!" Este estado de espírito do secretário particular do presidente
evidenciou-se, também, em um bilhete encontrado pelo chefe da Agência Central do SNI, em sua
mesa de trabalho, no qual aquele mesmo senhor, pelos mesmos motivos, dirigindo-se a um oficial,
tachava de tacanhos os militares. Narrou-me o fato o próprio chefe da Agência Central.
Não tive mais conhecimento deste assunto, nem participei de qualquer ato oficial que se
relacionasse com o estabelecimento das relações diplomáticas com a República Popular da China,
efetivado a 15 de agosto daquele ano. Depois disto, segundo difundiram, indignados, os chineses de
Taipé, seus bens foram confiscados por nossas autoridades, a pedido do governo de Pequim, e
entregues aos representantes da República Popular da China.'
Intensificava-se, no entanto, a penetração amarela no Brasil. Soube, mais tarde, pelo meu serviço
de informações, que uma corrente imigratória clandestina, constituída de asiáticos orientais, fluía
para o Brasil, mais particularmente para São Paulo, através da fronteira de uma nação amiga, no sul
do continente. Tratava-se de uma organização internacional, especializada em ações deste tipo, que,
com agentes, colocados no território do país amigo e no nosso, conduziam com êxito a penetração e
fixação destes elementos.
Seriam todos estes clandestinos, na realidade, pacíficos foragidos da miséria e perseguição
existentes nos países asiáticos, dominados pelo marxismo? Fica a pergunta aos interessados em
respondê-la.
Em maio de 1978, atormentados por graves preocupações, os presidentes do Centro Social
Chinês de São Paulo e da Câmara do Comércio e Indústria Chinesa do Brasil, dirigiram ao
Presidente da República Federativa do Brasil um documento ostensivo no qual expressavam seus
temores e intranqüilidade em face de notícias sobre o estabelecimento, em São Paulo, de um
escritório comercial da República Popular da China.7
Ao ser exonerado do cargo de Ministro do Exército, dei difusão a uma nota dirigida aos meus
comandados, em que aludia à questão do reconhecimento da República Popular da China. Muitos
críticos - jornalistas e mesmo congressistas - agindo de boa-fé deram crédito a informações
distorcidas ou falsas, lamentando não tivesse eu divulgado, no momento oportuno, minha
discordância daquele ato, como se os ministros de Estado fossem obrigados a relatar, publicamente,
seus despachos com o Presidente da República. Considerei tais manifestações frutos de
interpretações precipitadas, inadequadas ao elevado conceito de que desfrutavam.
A imprensa exerce função de grande valor nas comunidades, informando-as dos acontecimentos;
porém deve fazê-lo com equilíbrio, firmando-se na veracidade destes. A preocupação profissional -
tida pelos jornalistas como importante - de divulgar notícias, em primeiro lugar, leva à difusão de