IDEAIS TRAÍDOS - sylvio frota - 706 Págs

(EROCHA) #1

O parecer do Chefe do Estado-Maior do Exército foi remetido ao presidente do Conselho de
Segurança Nacional e, em cópia, ao Ministro do Exército, como informação, tudo a 8 de maio de



  1. Entendi-me com o general Dale Coutinho sobre tão delicado problema, estando ele
    absolutamente acorde com o que dissera no parecer. Sugeria, apenas, ressalvasse o direito do
    presidente, de quem era amigo, de decidir. Mostrei-lhe ser isso desnecessário, mas que poderia
    acrescentar uma locução ressaltando aquele direito, sem contudo modificar - um mínimo que fosse -
    minha opinião contrária ao estabelecimento das relações diplomáticas, particularmente nas
    condições propostas.'


Em julho de 1974, já ministro, procurou-me o general Hugo Abreu - Chefe da Casa Militar do
governo Geisel. Vinha a mando do presidente para tratar da questão relacionada à República Popular
da China. Disse-me, então, que aquele parecer fora considerado por demais incisivo, na
manifestação contrária ao estabelecimento das relações diplomáticas com o governo de Pequim.
Transmitiu-me o desejo do presidente de concretizar estas relações, alegando tratar-se de uma nação
de 900 milhões de habitantes, potencial fabuloso que, explorado comercialmente, traria poderoso
impulso às nossas exportações e importações. Frisou, enfaticamente, que eu, como ministro,
pertencia agora à equipe de governo do presidente e não poderia, portanto, contrariá-lo desta forma.


Perguntei-lhe se tinha outros dados concretos a fornecer-me, porque pretendia manter, na posição
de ministro, toda coerência com a que adotara no Estado-Maior do Exército. Acrescentei, a seguir,
que sempre vira a discordância, fundamentada e respeitosamente apresentada, como uma forma
construtiva de cooperação. Pernicioso para mim era o assentimento sistemático e lisonjeiro. O
presidente poderia tomar a deliberação de reconhecer a República Popular da China não obstante o
meu e outros pareceres discordantes, em face de ser de sua inteira responsabilidade tomar tal
decisão, sem que pretensas suscetibilidades fossem atingidas.


Argumentou o general Hugo Abreu, em vista da minha irredutibilidade de substituir o documento,
que eu quebrasse, ao menos, a rigidez da parte final do existente, apondo-lhe uma frase - uma
"janelinha"; para ser fiel ao diálogo - por onde pudesse o presidente sair. Tratava-se da mesma
objeção do ministro Coutinho.


Considerava o general Hugo Abreu meu amigo e retribuía-lhe, com sinceridade, a amizade.
Soldado disciplinado, com reais serviços prestados à Pátria nos campos de batalha da península
itálica, onde se destacou pela coragem e eficiência profissional, fora meu subordinado, quando
comandava ele a atual Brigada Páraquedista e eu o 1 Exército.


Tinha-o em elevado conceito. Estou hoje convencido de que o presidente explorou ao máximo
aquela amizade, enviando-o ao meu gabinete ministerial em todas as ocasiões difíceis. Prometi-lhe,
pois, procurar uma solução que, confirmando integralmente meu pensamento, realçasse caber ao
presidente a última palavra.


E assim foi feito, em Aviso de 16 de julho de 1974, endereçado ao Presidente da República.
Free download pdf