National Geographic - Portugal - Edição 227 (2020-02)

(Antfer) #1
ARQUITECTURAANIMAL 35

mas, a economia dos materiais, locais acessíveis,
adaptação ao ambiente ou a sustentabilidade”.
A tão repetida estratégia dos 4 R – reduzir, reci-
clar, reutilizar e reabilitar – que hoje tanto custa
aos seres humanos implementar, tem sido reali-
zada por todos os organismos (incluindo os nos-
sos antepassados) desde o início dos tempos. E o
objectivo mantém-se: cumprir a ordem suprema
que todos os animais vivos carregam nos genes,
assegurando a sobrevivência da espécie a lon-
go prazo, o que contradiz a visão de curto prazo
adoptada pelo Homo sapiens pós-industrial, para
o qual parece não existir amanhã.

ALÉM DE SOLUÇÕES ENGENHOSAS DE ARQUITECTURA,
alguns animais revelam a capacidade de mobilizar
técnicas de engenharia extraordinárias para opti-
mizar a funcionalidade das suas estruturas. As
térmitas são um exemplo fascinante: não é por
acaso que estes insectos xilófagos são os criadores
daquela que se considera a maior estrutura do pla-
neta, segundo uma investigação de 2018 liderada
por Stephen J. Martin, biólogo da Universidade de
Salford. Os cientistas constataram que, nos esta-
dos brasileiros da Bahia e de Minas Gerais, as tér-
mitas da espécie Syntermes dirus construíram 230
mil quilómetros quadrados de montículos de bar-
ro (aproximadamente a superfície do Reino Uni-
do), uma obra colossal iniciada há cerca de quatro
mil anos. São pelo menos duzentos milhões de
termiteiras, cerca de 1.800 por quilómetro quadra-
do, que ficaram a descoberto devido à defloresta-
ção. Cada montículo é composto por cerca de
cinquenta metros cúbicos do solo, o que exigiu a
escavação de mais de dez quilómetros cúbicos de
terra, “algo parecido com 4.000 Pirâmides de Gui-
za”, afirmam os autores do estudo.
Às dimensões descomunais das termiteiras,
abundantesnaAméricadoSul,naOceâniae em
África,acrescenta-seo sofisticadosistemadeven-
tilaçãointerno,o qual,recorrendoa complexosca-
nais,mantémumatemperaturainteriorestávelde
30°C,idealparaasnecessidadesvitaisdastérmitas.
Especialistas em técnicas de climatização
eventilação,astérmitasevoluíramparadomi-
nar os sistemas de ventilação utilizando uma
chaminé centralque tirapartido de umfenó-
menofísicochamadoefeitoVenturi:trata-sede
umtuboaolongodoqualháumestreitamento
quepermiteque umfluidoganhemais veloci-
dade e pressão enquanto o atravessa, mobili-
zandoassimaforçanecessáriaparacontinuar
a avançar.

Os castores do Parque
Nacional Grand Teton,
no estado de Wyoming
(EUA), construíram
esta estrutura com
troncos, protegendo-a
com uma eficiente
represa à qual acedem
por baixo de água.

ficientemente interessada, o artista começa dissi-
muladamente a contorná-la por trás para copular
com ela. Completará assim a sua missão!
Já Antoni Gaudí dizia que o arquitecto do fu-
turo se baseará na imitação da natureza, porque
é a forma mais racional, duradoura e económica
de todos os métodos. Não há dúvida de que assim
é, concorda Josep Ignasi Llorens, catedrático da
Escola Superior Técnica de Arquitectura de Bar-
celona: “Os seres vivos demoraram mais de qui-
nhentos milhões de anos a evoluir no seu equilí-
brio com o ambiente sem comprometer a conti-
nuidade geral do sistema.” Para ele, “os organis-
mos baseiam-se em princípios como a poupança
energética, a reciclagem, a optimização das for-

PETE OXFORD/MINDEN PICTURES


(Continua na pg. 42)

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