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EM 1860, OS ESCRAVOS eram a base da econo-
mia norte-americana e tinham mais valor do que a
totalidade do capital investido nas actividades
industrial, ferroviária e bancária. O algodão repre-
sentava 35 a 40% das exportações dos EUA, segundo
Joshua Rothman, historiador da escravatura da
Universidade do Alabama. “Os bancos de todo o
mundo faziam aplicações no Alabama, no Missis-
sípi e na Louisiana, investindo nas plantações, nos
bancos dos estados do Sul e nos escravos, que
podiam ser hipotecados”, afirma o investigador.
Era proibido importar escravos para os EUA
desde 1808 e, em 1859, o preço dos escravos do-
mésticos disparara, reduzindo drasticamente os
lucros dos donos das plantações e reforçando as
reivindicações em prol da reabertura do tráfico.
Um defensor acérrimo desta posição foi Timo-
thy Meaher. Natural do Maine, filho de imigrantes
irlandeses, Meaher e vários irmãos mudaram-se
para o Alabama e fizeram fortuna como constru-
tores navais, comandantes de navios e magnatas
madeireiros. Também eram donos de grandes ex-
tensões de terra, trabalhada por escravos.
Durante uma discussão acesa com um grupo
de empresários do Norte, Meaher fez uma aposta
arrojada: propôs-se transportar um carregamento
de cativos africanos até Mobile, mesmo debaixo
do nariz das autoridades federais.
Meaher teve poucas dificuldades em encontrar
investidores para o seu esquema ilegal. Poucos
anos antes, William Foster, seu amigo e colega na
construção naval, construíra uma escuna elegan-
te e veloz chamada Clotilda para transportar ma-
deira e outras mercadorias em viagens pelo golfo
do México. Meaher fretou o navio por 35 mil dóla-
res e contratou Foster como comandante.
No fim de Fevereiro ou no início de Março, de
1860, a tripulação partiu rumo ao porto esclavagis-
ta de Ouidah, no actual Benin. Assim começava
uma das expedições navais negreiras mais bem
documentadas da história dos Estados Unidos.
Foster deixou um relato manuscrito da viagem.
Mais tarde, Meaher e vários africanos também
contaram a sua história a jornalistas e escritores.
Dois dos antigos escravos, que ainda eram vivos na
década de 1930, figuraram em curtas-metragens.
COMÉRCIO CRUEL
K. BOURNE, JR.
CAPÍTULO 1
A organização sem fins
lucrativos National Geogra-
phic Society ajudou a
financiar esta reportagem.