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Uma vez ali chegado, sentei-me numa sala de
conferências com onze gerentes de unidades in-
dustriais, todas pertencentes a empresas diferen-
tes, que formaram uma aliança invulgar: todas uti-
lizam os resíduos umas das outras. O presidente
do grupo, Michael Hallgren, é gerente de uma fá-
brica da Novo Nordisk responsável por metade da
produção mundial de insulina e que, juntamente
com uma empresa-irmã, a Novozymes, fabrica
330 toneladas de subprodutos de levedura. Essa
calda é transportada de camião até uma fábrica
de bioenergia, onde é transformada em biogás su-
ficiente para abastecer seis mil agregados familia-
res e adubo suficiente para fertilizar quase 21 mil
hectares. Este é apenas o mais recente dos 22 inter-
câmbios de resíduos (água, energia ou materiais)
que compõem a Kalundborg Symbiosis.
Nada estava previsto, afirmou Lisbeth Randers,
uma das coordenadoras do projecto. Foi crescen-
do ao longo de quatro décadas, com uma sucessão
de contratos bilaterais. Um fabricante de pladur
instalou-se em Kalundborg em parte porque os
resíduos de gás provenientes da refinaria de pe-
tróleo eram disponibilizados como fonte de ener-
gia barata. Mais tarde, adquiriu gesso à vizinha
central electroprodutora alimentada a carvão,
que o produzia, removendo o dióxido de enxofre
dos seus fumos de escape. Nada disto aconteceu
por razões ambientais, mas a Kalundborg Sym-
biosis reduz as emissões de dióxido de carbono
em 635 toneladas por ano, ao mesmo tempo que
poupa 24 milhões de euros aos seus membros.
Nos campos verdejantes da Vestefália, na Ale-
manha, pátria de um famoso tipo de presunto,
encontrei-me com uma mulher que, sem qual-
quer formação em engenharia, concebeu uma
solução de escala industrial para um dos maiores
problemas da região: os excedentes de estrume
de porco. Os nitratos que escorrem dos campos
excessivamente adubados poluíram os aquíferos
subterrâneos em cerca de um quarto do território
da Alemanha. Um agricultor típico dos arredores
da cidade de Velen, onde me encontrei com Doris
Nienhaus, poderá despender 36,5 mil euros por
ano para transportar quase duas mil toneladas de
estrume líquido até um campo que ainda não se
encontra estrumado a mais de cento e sessenta
quilómetros de distância. “A certa altura, isso dei-
xa de ser economicamente viável”, afirmou Doris.
A sua solução é uma fábrica que extrai os nu-
trientes básicos (fósforo, azoto e potássio) do es-
trume. No passado, Doris trabalhava para a fede-
ração regional dos agricultores e criava porcos.
Agora, convenceu 90 agricultores a investirem 7,6
milhões de euros. O estrume das suas quintas é di-
gerido por micróbios e o biogás resultante do pro-
cesso alimenta um gerador que abastece a fábrica,
produzindo excedentes de electricidade que são
vendidos à rede. Centrifugadoras rápidas, um po-
límero patenteado e fornos quentes transformam
a polpa digestora num líquido castanho, rico em
azoto e potássio, e numa cinza que contém 35%
de fósforo. Tudo isto será vendido. Segundo Doris
Nienhaus, a fábrica não produzirá resíduos.
Noutros tempos, cada agricultor mantinha uma
economia circular, criando apenas os animais que
ele ou a sua terra eram capazes de alimentar e es-
ses animais só defecavam aquilo que a terra con-
seguia absorver. A criação industrial de animais
quebrou esse círculo. Há poucos anos, passei al-
gum tempo numa unidade de engorda de gado no
Texas. Foi ali que comecei a reflectir sobre a eco-
nomia circular. Vi 110 vagões de comboio carre-
gados de milho do Iowa entrarem, ruidosamente,
em Hereford, no Texas, e vi montes de estrume na
unidade de engorda, aguardando transporte para
as explorações agrícolas locais. Perguntei a mim
mesmo: será que aquele estrume não deveria re-
gressar ao Iowa para adubar o milho? É demasia-
do dispendioso, responderam-me. Mas se lá exis-
tisse uma fábrica como a de Doris Nienhaus, só
seria necessário transportar os nutrientes. Talvez
seja possível fechar novamente o círculo.
Em 2006, Eben Bayer aprendera a pensar de
forma divergente, e o problema sobre o qual se de-
bruçava era o das colas tóxicas existentes em pai-
néis de aglomerado de madeira e fibra de vidro.
Tendo crescido numa quinta do estado de Ver-
mont, Eben Bayer passara muitas horas a despejar
pazadas de lascas de madeira numa fornalha para
fabricar xarope de ácer. Muitas vezes, as estilhas
de madeira coalesciam por terem sido coloniza-
das por micélio, a malha densa de fibras micros-
cópicas que compõem as raízes dos cogumelos.
Eben Bayer interrogou-se: serão os cogumelos
capazes de gerar uma cola inofensiva?
O primeiro produto criado por si e pelo seu só-
cio, Gavin McIntyre, na empresa que fundaram,
a Ecovative Design, foi uma embalagem. Eles in-
jectavam pequenas quantidades de micélio em
fibras de cânhamo ou lascas de madeira tritura-
da, e as minúsculas raízes brancas preenchiam os
espaços entre as partículas, enredando-se nelas e
colando-as. Descobriram que era possível cultivar
o material dentro de moldes com qualquer forma.
Ele pára de crescer quando é desidratado e pode