FOTOS: IMAXTREE (5)
ESTILO
26 ELLE PT
para as apaziguar, através de gestos e de
um sorriso largo). «E como não havia
marcas novas... então tornei-me obcecado
pela Balenciaga», acrescenta – e como ele,
muitos outros designers assim ficaram.
Ghesquière e Ramsay-Levi foram rapi-
damente recompensados por tornarem
a Balenciaga uma das etiquetas mais en-
tusiasmantes do século XXI. Ghesquière
conquistou um lugar de topo na Louis
Vuitton, tornando-se o responsável pela
linha feminina, e Ramsay-Levi é a direto-
ra criativa da Chloé. E para Dossena qual
foi a recompensa? O reconhecimento
quechegou depois da transformação
que operou no negócio de roupa
da Paco Rabanne.
Ao longo destes últimos seis
anos, Dossena conseguiu des-
pojar a marca do seu futurismo
kitsch. Sob o seu controlo, a Paco
Rabanne agora trabalha um radicalismo
suave,apostando na precisão de corte
daspeças, para que assentem facilmente
nocorpo. E essa é, precisamente, a sua
habilidade: fazer com que o seu trabalho
elaborado pareça fácil e, mais importan-
te,bonito. Das peças para usar no ginásio
às de alfaiataria, das inspirações barrocas
às clássicas peças em malha (resistentes
à passagem do tempo), a roupa que ele
desenha é simples de usar e de conjugar
(aindaque um vestido com cristais da
coleção FW19 leve 144 horas a ser pro-
duzido). Essa característica é algo que o
designer credita ao tempo que passou na
Balenciaga, à qual se refere sempre com
carinho enquanto falamos. «Eu ainda lá
estariase o Nicolas estivesse», admite.
Masa separação de Ghesquière da marca,
em2012, envolvendo um processo de
9,2milhões de dólares, tornou essa opção
obviamente inviável.
«Aprendi muito ao testemunhar
comotudo terminou», diz Dossena.
E recorda que o tempo que ali passou
o preparou para dirigir a Atto – a sua
própria marca, que teve uma vida curta,
e quese comprometia com o seu públi-
coapresentando peças bem cortadas,
lançada em 2013 – e depois a Paco
Imagens do desfile
de primavera-verão
2020 da Paco
Rabanne.
«SEMPRE VALORIZEI O TRABALHO (...) É A ÚNICA
RAZÃO PELA QUAL ME SINTO CONFIANTE EM
RELAÇÃO ÀQUILO QUE FAÇO COMO DESIGNER»
nish Arora e Lydia Maurer, que estiveram
apenas um ano). Dossena provou ser a pes-
soa certa para repensar o passado-futuro
da marca, tornando-a atraente para uma
nova geração de clientes. Tinha apenas
30 anos quando entrou, mas contava já
com um excelente currículo enquanto
designer sénior de uma casa de moda
multimilionária: antes de chegar aqui,
Dossena tinha sido uma das estrelas dos
bastidores da Balenciaga, trabalhando
ao lado de Natacha Ramsay-Levi como
braço direito do então diretor criativo,
Nicolas Ghesquière. Ali, levaram adiante
a moda francesa com peças fáceis de usar
em tecidos futuristas que se destacaram
entre os clássicos gigantes parisienses:
Chanel, Dior e Saint Laurent. «A cena
parisiense era um bocado aborrecida antes
do Nicolas», lembra Dossena, instanta-
neamente movendo as mãos para reite-
rar que não está a desprezar as grandes
Maisons francesas (ele tem este hábito de
corrigir ou qualificar as suas declarações