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A16 Metrópole QUARTA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
FERNANDO
REINACH
A advogada Nancy Aiello Co-
raini Okubaro, de 72 anos,
morreu ontem, às 5h30, de-
pois de lutar por 22 meses con-
tra uma leucemia. Era casada
com o jornalista Jorge J. Oku-
baro, editorialista do Estado.
Trabalhou por mais de 30
anos no Sindicato dos Empre-
gados no Comércio de Santo
André. Foi consultora jurídica
do Sincoquim. Era formada
em Sociologia e História. Dei-
xa também o filho Tadeu
Naoki, a nora Sílvia Helena e a
neta Nara Yuki. Pediu para ser
cremada em uma cerimônia
simples e íntima.
N
o dia 18 de fevereiro, exatas
três semanas atrás, a Itália ti-
nha três casos de coronaví-
rus e nenhuma morte. Vida normal.
Hoje, a Itália tem mais de 10 mil ca-
sos com 631 mortes. O sistema de
saúde das áreas mais afetadas está
em colapso: pacientes são atendi-
dos nos corredores de hospitais, pra-
ticamente não há mais leitos de UTI
para internar pacientes mais graves
e muitos deles, entubados, são trata-
dos em salas de operação converti-
das em UTIs. Muitos médicos e en-
fermeiros foram infectados e aban-
donaram seus postos. Para tentar re-
tardar o alastramento da doença, a
Itália colocou 60 milhões em isola-
mento e o país vive situação de caos.
Da normalidade ao caos em 21 dias.
A Itália não está sozinha. Proces-
sos semelhantes estão ocorrendo
no Irã e na Coreia do Sul. França,
Alemanha e Espanha podem estar
no início desse processo – sabere-
mos em uma ou duas semanas. Es-
ses são fatos, não especulações ou
modelos.
Também é fato que o Estado de São
Paulo, com 44 milhões de habitantes,
tinha ontem 19 casos de coronavírus e
302 suspeitas. Isso demonstra que São
Paulo ou outra cidade brasileira pode
se encontrar em situação semelhante
em três semanas. Veja bem: isso não
quer dizer que teremos uma epidemia
em três semanas, mas demonstra, sem
sombra de dúvida, que essa é uma pos-
sibilidade real. Difícil de aceitar, mas
absolutamente real.
Diante dessa possibilidade, há duas
posturas possíveis. A primeira é espe-
rar e ver se essa possibilidade se torna
real. Nessa postura, à medida em que o
cenário piorar reagiremos da melhor
forma possível. É a típica reação de go-
vernos brasileiros: nomeio uma comis-
são para não dizer que não estou preo-
cupado, divulgo algumas estatísticas,
uma vez ao dia, testo algumas pessoas.
Mas investimentos e medidas concre-
tas deixo para depois, ou porque sou
relapso ou porque tudo é muito difícil
por aqui. Afinal, em três semanas tal-
vez nada aconteça, Deus é brasileiro.
A outra possibilidade é implementar
de antemão um sistema capaz de lidar
com um número grande de casos de
modo a minimizar a possibilidade de
colapso do sistema de saúde quando a
epidemia chegar. É o que Inglaterra,
França e Alemanha estão fazendo há
mais de um mês. Mas o prazo é curto,
são semanas para agir, não meses ou
anos. Vejamos o que esses países estão
fazendo. Não são segredos – os planos
de ação desses países estão na internet
e vêm sendo estudados por epidemio-
logistas brasileiros há algumas sema-
nas. O problema é convencer o gover-
no a se mexer.
A primeira providência é proteger os
médicos e todo o corpo técnico dos
postos de saúde e hospitais. Para isso,
é preciso considerar todo caso de gripe
viral como potencial caso de coronaví-
rus e não somente viajantes que vie-
ram do exterior. Isso quer dizer másca-
ras, luvas e todo o resto. Todos esses
casos precisam ser testados para coro-
navírus e os positivos e seus contatos
precisam ser colocados em isolamen-
to. Na Inglaterra, se você acha que po-
de ter coronavírus, não deve ir a um
centro de saúde, você liga e alguém te
testa em casa. Isso porque, tanto na
China como em outros países, os pri-
meiros casos que chegaram sem ser
identificados acabaram infectando
médicos e enfermeiros o que, de saída,
debilita o sistema de saúde.
Mas para isso é preciso que os testes
para coronavírus estejam disponíveis
em larga escala e o tempo de resposta
seja curto. A Inglaterra já testou mais
de 20 mil pacientes só para garantir a
integridade do seu sistema de saúde.
Por aqui, os testes ainda são feitos em
pequenos lotes com enorme dificulda-
de por alguns laboratórios públicos. Se-
ria preciso montar um sistema capaz
de testar mais de 2 mil pessoas por dia
com respostas disponíveis em 12 a 24
horas. Estamos longe disso.
Dos casos de coronavírus, aproxima-
damente 80% podem ser tratados em
casa e a pessoa se recupera em uma ou
duas semanas. Essas pessoas precisam
ser identificadas, isoladas e seus conta-
tos precisam ser testados. De novo a
necessidade de um sistema de testes
robusto. Os outros 20% precisam de
tratamento hospitalar. O principal pro-
blema são os 6% de casos que precisam
ser tratados com oxigênio e grande par-
te deles precisa ser entubada. Essas
pessoas precisam de leitos de UTI e
respiradores. Dois terços dessas pes-
soas (4%) se recuperam e as estatísti-
cas mostram que 2% morrem. O que
tem ocorrido em todos os países é que
esses pacientes ocupam por duas a
três semanas o leito de UTI, impedin-
do novas internações. A quantidade de
leitos livres no sistema hospitalar é
muito pequena pois a maioria dos lei-
tos é ocupada por pacientes com ou-
tras doenças. Aí vem a outra priori-
dade: aumentar leitos de UTI. Na
China foram construídos dois hospi-
tais – por volta de 5 mil leitos foram
adicionados. Uma conta superfi-
cial, que precisa ser refeita por espe-
cialistas, sugere que o Estado de São
Paulo provavelmente necessitaria
de 4 mil leitos além dos que existem.
Claro que isso é impossível de orga-
nizar em duas ou três semanas, afi-
nal não somos a China, mas se prepa-
rar significa aumentar os leitos e de-
cidir sua alocação.
Além dessas providências, os paí-
ses criaram protocolos para cuidar
de pacientes, sistemas para monito-
rar pessoas em quarentena, creden-
ciamentos de médicos e enfermei-
ras aposentados, e um sistema sofis-
ticado de informação ao público. De-
pois de tudo isso, países como Ingla-
terra e Alemanha avaliam que estão
parcialmente preparados para en-
frentar o número de casos que seus
epidemiologistas acreditam que vi-
rão a ocorrer.
Que eu saiba no Brasil nem se-
quer decidimos possíveis cenários
que podemos enfrentar. Serão 10
mil casos, 100 mil ou 1 milhão em
2020? Estamos esperando para ver.
Estamos brincando com fogo e pro-
vavelmente vamos nos queimar.
]
É BIÓLOGO
ESCOLA PEDE
SORRISOS EM VEZ
DE ABRAÇOS
Falecimentos
Mateus Vargas / BRASÍLIA
O número de casos confirma-
dos do novo coronavírus no
Brasil subiu de 25 para 34 em
24 horas e há cinco pessoas in-
ternadas, conforme infor-
mou ontem o Ministério da
Saúde. O governo ainda pre-
tende permitir que testes pa-
ra diagnóstico sejam cober-
tos por planos de saúde e de-
seja repassar a municípios
até R$ 900 milhões para au-
mentar de 1,5 mil para 6,7 mil
o número de postos de saúde
com atendimento ampliado
no País.
Segundo o ministério, há seis
casos com transmissão local no
País, sendo cinco em São Paulo
e um na Bahia. Ontem, em co-
municado interno, a Compa-
nhia Siderúrgica Nacional
(CSN) informou aos funcioná-
rios que foi confirmado um ca-
so entre os colaboradores do es-
critório de sua sede na Avenida
Faria Lima. “O colaborador es-
tá bem de saúde e os sintomas
se equivalem ao de um resfria-
do leve”, segundo a empresa.
Também ontem, o secretário
executivo da Saúde, João Gab-
bardo, disse que a Agência Na-
cional de Saúde Suplementar
(ANS) deve fazer uma resolu-
ção em rito simplificado, para
permitir a inclusão do teste de
coronavírus entre os procedi-
mentos cobertos por convê-
nios. “Acredito que nas próxi-
mas 48 horas isso será resolvi-
do”, disse. Normalmente, essa
lista é revista a cada dois anos.
Gabbardo disse ainda que o
governo já tem recursos para
ampliar o serviço nos postos de
saúde e deve dar prioridade à
habilitação de postos em locais
com transmissão do novo coro-
navírus. Segundo a pasta, 90%
dos casos são leves e podem ser
atendidos nesses locais.
O aumento do número de pos-
tos com horário ampliado será
feito pelo programa Saúde na
Hora 2.0. Cada município rece-
be R$ 15 mil mensais a mais para
investir nas unidades habilita-
das. A ideia é garantir aumento
no atendimento de unidades de
40 horas para 60 horas ou 75 ho-
ras semanais. E não há, segundo
Gabbardo, previsão de enviar
mais recursos para os Estados –
os secretários reivindicam mais
R$ 1 bilhão. Ele disse ainda que
o governo terá “preocupação re-
dobrada” com leitos de UTI em
hospitais de referência. “Inter-
nações de casos mais graves são
longas, de até três semanas.”
Turma do 1º ano no Rio Branco passou a se
cumprimentar fazendo coração com as mãos
E-MAIL: [email protected]
ESPECIAL CORONAVÍRUS
Luiz Batista do Nascimento –
Dia 9, aos 76 anos. Era casado com
Luzia Rosa do Nascimento. Deixa
os filhos Orlando, Lucinda, Veróni-
ca, João, parentes e amigos. O en-
terro foi realizado no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Geraldo Ferreira Cavalcante –
Dia 8, aos 66 anos. Era casado com
Delita Severo Barsani Cavalcante.
Deixa os filhos Raphael, Rubens, Ro-
dolfo, Romário, parentes e amigos.
O enterro foi realizado no Cemitério
e Crematório Primaveras.
MISSAS
Maria Angela Calderaro Tali-
ba (Lilita) – Hoje, às 19 horas, na
Paróquia Nossa Senhora do Perpé-
tuo Socorro, na R. Honório Líbero,
90, Jardim Paulista (7º dia).
Heloisa Durgante da Cunha
Cintra – Amanhã, às 11 horas, na
Igreja de São José, na R. Dinamar-
ca, 32, Jardim Europa (7º dia).
Lygia Marques Kigar – Dia 14,
às 16h30, na Paróquia de Santa
Joana D’Arc, na R. Gaurama, 192,
Jardim Franca (1 mês).
Dagmar Maria Julieta Angera-
mi – Dia 14, às 17 horas, na Paró-
quia Divino Salvador, na R. Casa do
Ator, 450, Vila Olímpia (7º dia).
Otavio Cardoso Fernandes
Pontes – Dia 14, às 16 horas, na Pa-
róquia de Nossa Senhora do Perpé-
tuo Socorro, na R. Honório Líbero,
90, Jardim Paulistano (1 mês).
Juíza exige
exame de marido
de infectada
PARA PUBLICAR ANÚNCIO FÚNEBRE: BALCÃO IGUATEMI – SHOPPING IGUATEMI 1A - 04, TEL. 3815-3523 / FAX 3814-0120 – ATENDIMENTO DE 2ª A SÁBADO, DAS 10 ÀS 22 HORAS, E AOS DOMINGOS, DAS 14 ÀS 20 HORAS. BALCÃO LIMÃO – AV. PROF. CELESTINO BOURROUL, 100, TEL. 3856-2139 / FAX
3856-2852 – ATENDIMENTO DE 2ª A 6ª DAS 9 ÀS 19 HORAS. SÓ SERÃO PUBLICADAS NOTÍCIAS DE FALECIMENTO/MISSA ENCAMINHADAS PELO E-MAIL [email protected], COM NOME DO REMETENTE, ENDEREÇO, RG E TELEFONE.
Isabela Palhares
C
om o aumento de ca-
sos de coronavírus no
Brasil, escolas particu-
lares estão adotando diferen-
tes estratégias para evitar a
transmissão. “Os cuidados e
orientações que temos dado
estão evoluindo conforme o
avanço da doença”, diz Es-
ther Carvalho, diretora do
Colégio Rio Branco, em Hi-
gienópolis. Como agora a
transmissão ocorre local-
mente, a escola lançou na úl-
tima semana uma campanha
entre os alunos para que tro-
quem abraços e beijos por
sorrisos. A apresentação às
crianças fez uma turma do 1.º
ano do ensino fundamental fe-
char um acordo para se cumpri-
mentar de uma forma diferen-
te: eles fazem um coração com
as mãos em direção aos colegas.
No Bandeirantes, na zona sul
de São Paulo, depois de uma alu-
na de 13 anos ter sido infectada,
a escola reforçou a comunica-
ção para tranquilizar pais e alu-
nos e aumentou a quantidade
de recipientes de álcool em gel
pela unidade. “Desde 2009,
quando houve o surto de gripe,
instalamos e mantivemos ál-
cool em gel nas salas de aula e
áreas comuns”, diz a coordena-
dora Enrica Brito.
Já no Dante Alighieri, tam-
bém na região central paulista-
na, os cuidados foram reforça-
dos. “Temos uma equipe
médica na escola orientan-
do, pois às vezes a desinfor-
mação faz hábitos errados se-
rem adotados. Por exemplo,
quando vemos aluno usando
máscara, explicamos que
não há necessidade do uso”,
diz Valdenice Minatel, direto-
ra educacional.
A escola também tem feito
reuniões para preparar um
plano de contingência, caso
as aulas tenham de ser sus-
pensas. O Rio Branco tam-
bém estuda um plano para o
caso de suspensão, usando vi-
deoaulas.
Fechamento. A Avenues, co-
légio de elite da capital paulis-
ta, decidiu na sexta-feira sus-
pender as aulas após a confir-
mação do diagnóstico de co-
ronavírus de um aluno do 7.º
ano. A previsão de reabertu-
ra é apenas na próxima segun-
da-feira. A escola também in-
formou ter identificado 150
alunos e profissionais consi-
derados como de “alto ris-
co”, que tiveram contato
próximo com o estudante, e
devem permanecer em casa
até 23 de março.
lCâmara dos Deputados
O presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), disse avaliar se
será necessário restringir o aces-
so na Câmara dos Deputados por
risco de contaminação.
Bolsas sobem, depois de dia de tempestade. Pág. B4 }
Os filhos Marcos, Inês e Rosana, o genro Pedro e a nora Virginia, os netos e os
bisnetos da querida
com pesar comunicam o seu falecimento, ocorrido dia 10. O velório será realizado hoje à partir das
8:00hs no cemitério Gethsêmani, na Praça da Ressurreição, 1 - Vila Sonia. O sepultamento
será no mesmo local às 16:00hs.
Antonietta Velloni Kisil
Brasil tem 5
internados e
planos vão
cobrir testes
Ministério ainda deseja repassar R$ 900 mi
para ampliar serviço em postos de saúde
A juíza Raquel Mundim Moraes
Oliveira Barbosa, substituta de
plantão na 8.ª Vara da Fazenda
Pública do Distrito Federal, de-
terminou que o marido de uma
paciente com o novo coronaví-
rus confirmado fosse obrigado
a realizar exame a respeito.
O pedido havia sido formula-
do pelo governo local, após An-
dré Luis Souza Costa da Silva
se recusar a fazer o teste. A ma-
gistrada ainda decidiu que ele
deve ficar em isolamento domi-
ciliar até que saia o resultado.
Ontem, Silva foi até um labora-
tório particular para realizar a
coleta das amostras das vias
respiratórias e da boca. A Se-
cretaria de Saúde do Distrito
Federal vai solicitar o compar-
tilhamento da amostra para
realizar o teste também na re-
de pública.
Silva é casado com Cláudia
Maria Patrício de Souza Costa.
Ela está internada no Hospital
Regional da Asa Norte de Brasí-
lia com o diagnóstico de síndro-
me da angústia respiratória do
adulto, secundária à infecção
por coronavírus. Ele teve conta-
to próximo e chegou a apresen-
tar sintomas da doença.
A juíza Raquel Barbosa lem-
brou na decisão que alguns Esta-
dos estão se valendo do atribu-
to da “autoexecutoriedade dos
atos administrativos para man-
ter os pacientes em tratamento
ou quarentena até que seja des-
cartada a contaminação”. Nes-
sas situações, o indivíduo deve
submeter-se a certas ingerên-
cias corporais.
A Lei Federal 13.979, de 6 de
fevereiro de 2020, estipula a
realização compulsória de tra-
tamentos médicos específi-
cos e de testes laboratoriais
como uma das formas de en-
frentar a emergência médica
do novo coronavírus. E a Se-
cretaria de Saúde do Distrito
Federal considera que qual-
quer pessoa que tenha conta-
to dentro de um metro com
alguém que tenha sintomas
respiratórios está em risco. /
FAUSTO MACEDO
WERTHER SANTANA/ESTADÃO
Campanha. Escola já reforçava necessidade de hábitos de higiene, como lavar as mãos
Mudança de hábito
Brincando com fogo
Brasil nem sequer decidiu
possíveis cenários de
coronavírus que pode enfrentar
Advogada, atuou mais
de 30 anos em sindicato