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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE 2020 Economia B3
Idiana Tomazelli/BRASÍLIA
Após o presidente da Câma-
ra, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
ter cobrado do governo lide-
rança no enfrentamento à cri-
se global e a adoção de “ou-
tras ações”, o ministro da Eco-
nomia, Paulo Guedes, reagiu
com uma lista de projetos
que já estão em tramitação
no Legislativo e que são consi-
derados prioritários para pas-
sar pelo período de turbulên-
cia. A relação das propostas
foi enviada em ofício à cúpula
do Congresso Nacional.
“O esforço para a aprovação,
neste semestre, das matérias lis-
tadas tem a capacidade de prote-
ger o Brasil da crise externa”,
diz Guedes no ofício, obtido pe-
lo Estadão/Broadcast. O minis-
tro também acena com a possi-
bilidade de concessão de “ou-
tros estímulos à economia”,
mas deu o recado de que isso
será possível apenas se a agenda
de reformas estruturais tiver
continuidade, abrindo o espaço
fiscal necessário.
Nos últimos dias, em meio à
perspectiva de desaceleração
da atividade econômica, econo-
mistas de diferentes espectros
ideológicos têm feito um cla-
mor pelo aumento de investi-
mentos públicos por meio da
flexibilização do teto de gastos
(que limita o avanço das despe-
sas à inflação), medida rechaça-
da pela equipe econômica.
“Com a continuidade de re-
formas estruturais que o País
precisa, será possível recuperar
espaço fiscal suficiente para a
concessão de outros estímulos
à economia”, diz o ofício, sem
especificar quais estímulos.
A tentativa do ministro da
Economia de passar a bola de
volta para o Congresso Nacio-
nal vem também depois de
Maia ter cobrado publicamente
o envio das propostas do gover-
no para as reformas tributária e
administrativa.
No documento, encaminha-
do a Maia e ao presidente do Se-
nado, Davi Alcolumbre (DEM-
AP), Guedes indica que as duas
propostas serão enviadas em
breve, mas indica uma lista de
projetos de lei que são prioritá-
rios para a equipe econômica e
já estão em andamento nas
duas Casas. O ministro pede ce-
leridade na aprovação dessas
matérias diante da necessidade
de “blindagem” da economia
brasileira ante a crise externa.
Blindagem. “Considerando o
agravamento da crise interna-
cional em função da dissemina-
ção do coronavírus e a necessi-
dade de blindagem da econo-
mia brasileira, o Ministério da
Economia propõe acelerar a
pauta que vem conduzindo jun-
to ao Congresso”, afirma.
Entre os projetos listados co-
mo prioritários estão o Plano
de Equilíbrio Fiscal, que cria
um plano de socorro a Estados
com dificuldades de caixa, a au-
tonomia do Banco Central, a pri-
vatização da Eletrobras, a nova
lei do mercado de gás, o Novo
Marco Legal do Saneamento e a
mudança na Lei de Concessões.
Guedes também cita as três
PECs enviadas no fim do ano
passado ao Senado e que fazem
parte do chamado Pacto Federa-
tivo. As propostas criam uma
série de gatilhos de ajuste nas
contas da União e de Estados e
municípios, mas também pre-
veem maiores transferências
de recursos aos governos regio-
nais.
O ministro também informa
ao Congresso que o governo de-
ve enviar “em breve” o texto da
reforma administrativa e que
trabalha na finalização de sua
proposta de reforma tributária.
Francisco Carlos de Assis
O programa de concessões de
infraestrutura brasileiro envol-
ve ativos e investidores com
perfis de longo prazo. É com
base nesse perfil duradouro
dos projetos e dos investimen-
tos que o ministro da Infraes-
trutura, Tarcísio de Freitas, se
apoia para descartar impactos
da propagação do coronavírus
sobre a atratividade de capital
estrangeiro para os leilões de
aeroportos no País.
“Quando se fala de conces-
sões de infraestrutura, está se
tratando de ativos que serão
operados por décadas e de
um perfil de longo prazo”, dis-
se o ministro em entrevista
ao Estadão/Broadcast. A pasta
se prepara para a concessão
de mais três blocos de aero-
portos – norte, centro e sul –
com leilão a ser realizado em
outubro, com 22 aeroportos.
Freitas também comentou o
episódio da devolução do Ae-
roporto de Natal pela conces-
sionária Inframerica. A seguir
os principais trechos da entre-
vista.
lO aumento de casos de corona-
vírus no Brasil pode exercer im-
pactos sobre a atratividade do
capital estrangeiro pelos leilões
de aeroportos no País?
Estamos falando de conces-
sões de ativos que serão ope-
rados por décadas, um merca-
do relevante e um perfil de in-
vestidor de longo prazo. É um
modelo de concessão já con-
solidado após trilhar uma cur-
va de aprendizado e que vem
dando muito certo, vide as úl-
timas concessões. Não vejo o
apetite dos investidores por
esse tipo de ativo sendo afeta-
do pelo coronavírus.
lQual sua visão sobre a devolu-
ção do aeroporto de Natal pelo
Grupo Inframerica?
A concessão do Aeroporto de
São Gonçalo do Amarante foi
uma das primeiras experiên-
cias no setor, ainda em 2011.
O contrato foi anterior a uma
série de inovações de modela-
gem que vêm sendo aplicadas
com muito sucesso no setor.
O Ministério da Infraestrutu-
ra entende a devolução da
concessão como um movi-
mento natural de mercado.
lMas uma devolução de conces-
são não passa uma imagem ruim
para o investidor?
Não. Trata-se de mais um pas-
so significativo na consolida-
ção dos mecanismos criados
pelo Decreto 9.957 (que regu-
lamenta o procedimento para
relicitação dos contratos de par-
ceria nos setores rodoviário, fer-
roviário e aeroportuário, de
que trata a Lei 13.448), o que
passa uma boa mensagem
aos investidores de seguran-
ça jurídica, proteção aos con-
tratos e, principalmente, de
respeito aos usuários, que
contarão com a continuidade
dos serviços.
lO governo pretende fazer ago-
ra com o aeroporto de Natal?
O aeroporto de Natal é um ati-
vo extremamente interessan-
te. Tem proximidade com
América do Norte e Europa e
é uma região turística de enor-
me potencial e com investi-
mento estrangeiro consolida-
do. Vamos fazer uma reestru-
turação muito mais moderna
da modelagem. Estamos con-
fiantes de que será um ativo
muito disputado num leilão fu-
turo.
ENTREVISTA
Crise é fantasia
da imprensa,
diz Bolsonaro
Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura
ESPECIAL
CORONAVÍRUS
Beatriz Bulla
ENVIADA ESPECIAL / MIAMI
Um dia depois de os mercados
financeiros ao redor do mundo
registrarem perdas históricas,
o presidente Jair Bolsonaro ne-
gou que haja uma crise e culpou
a imprensa pela situação.
“Muito do que tem ali é mais
fantasia, a questão do coronaví-
rus, que não é isso tudo que a
grande mídia propaga”, disse
Bolsonaro em evento em Mia-
mi. Na segunda-feira, ele já ha-
via dito que a disseminação da
doença estava “superdimensio-
nada”.
O presidente dos Estados
Unidos, Donald Trump, tam-
bém tem minimizado o corona-
vírus. Segundo fontes presen-
tes no jantar entre Trump e Bol-
sonaro em Mar-a-Lago, no sába-
do, os dois conversaram sobre a
disseminação do vírus e estima-
ram que até o final de abril have-
rá uma melhora na situação.
Nos EUA, há mais de 600 ca-
sos confirmados e na Flórida,
onde Bolsonaro está, duas pes-
soas morreram.
“Alguns da imprensa consegui-
ram fazer uma crise da queda do
preço do petróleo. (...) É melhor
cair 30% do que subir 30% do pre-
ço do petróleo. Mas isso não é
crise. Obviamente, problemas
na Bolsa, isso acontece esporadi-
camente. Como estamos vendo
agora há pouco, as Bolsas que co-
meçam a abrir hoje (ontem) já co-
meçam com sinais de recupera-
ção”, disse a empresários.
Ontem, Bolsonaro voltou a
negar que o governo possa au-
mentar o tributo federal sobre
combustíveis, a Cide, como
forma de compensar uma pos-
sível queda no preço da gasoli-
na. “Zero, zero, não existe isso
(sobre aumento da Cide). A po-
lítica que a Petrobrás segue é a
de preços internacionais, en-
tão a gente espera, obviamen-
te, não como presidente, mas
como cidadão, que o preço
caia nas refinarias e seja repas-
sado ao consumidor na bom-
ba”, afirmou o presidente.
Estímulo virá com reformas, diz Guedes
lCenário
“O esforço para
a aprovação neste
semestre, das matérias
listadas, tem capacidade
de proteger o Brasil
da crise externa.”
Paulo Guedes
MINISTRO DA ECONOMIA
Ministro encaminha ofício a Congresso listando projetos prioritários para enfrentar turbulência, como o plano de socorro aos Estados
AMANDA PEROBELLI / REUTERS - 11/10/2019
Devolvido. Ministro Tarcísio de Freitas diz que aeroporto de Natal á ativo interessante
‘Coronavírus não afeta
apetite por infraestrutura’
Ministro diz que
concessões serão
operadas por décadas
por investidores que
têm perfil de longo prazo