Caderno 2
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Mais informações sobre o filme
‘Nóis por Nóis’ na pág. C6
Luiz Carlos Merten
Filmado numa área considera-
da violenta de Curitiba – a Vila
Sabará –, o novo longa de Aly
Muritiba, Nóis por Nóis, correali-
zado por Jandir Santin, estreou
na Première Brasil do Festival
do Rio de 2018 e entra em car-
taz amanhã. Muita coisa ocor-
reu depois disso, no País e no
mundo. Em Ferrugem, Muritiba
focara temas como o bullying
virtual e a pornografia da vingan-
ça, no universo da classe média.
Em Nóis por Nóis, e em du-
pla – Santin é educador –, dá
voz à periferia. Um grupo de
jovens, novas questões – racis-
mo, brutalidade policial. Um
dos jovens é Café, interpreta-
do por Matheus Correa. Ele or-
ganiza festas de hip-hop na co-
munidade, o que o coloca nu-
ma posição duplamente des-
confortável, imprensado entre
a polícia e o tráfico. No Brasil
que, nos últimos anos, adotou
a cultura das armas, Café anda
na contracorrente. Brande o
celular, que vira a sua arma.
“Isso aqui é mais poderoso
que um oitão”, diz.
Café usa a câmera do celular
para registrar a violência da po-
lícia. Nóis por Nóis dialoga as-
sim com o remake de 5 x Fave-
la, que inicialmente teve o sub-
título de Agora por Eles Mesmos
(os favelados), corrigido para
Agora por Nós Mesmos. O pro-
blema dessas abordagens pode
ser um certo paternalismo. O
cinema dominante – dos bran-
cos – fornece os meios para
que a periferia (os excluídos,
marginalizados) se manifeste.
O longa de Muritiba e Santin,
desde o título, busca outro re-
gistro – Nóis por Nóis. Café e
seus amigos organizam um bai-
le. Ocorre um crime que choca
a comunidade e os jovens têm
de agir, ou reagir. Se tivesse
chegado aos cinemas logo
após a apresentação no Festi-
val do Rio, Nóis por Nóis seria
um filme. O tempo que passou
- um ano e meio – mudou mui-
ta coisa, senão tudo. Houve a
eleição, a chacina num baile da
periferia de São Paulo. Nóis por
Nóis ficou mais explosivo.
Silvio Santos
inspira musical
Espetáculo lembra a
trajetória de sucesso
do apresentador
Pág. C3
Estreia. Filme tem no
elenco jovens da maior
ocupação urbana da
cidade de Curitiba
GRAFO
Cinema. ‘Nóis por Nóis’ fala de temas como racismo e opressão policial ao retratar o cotidiano violento da Vila Sabará, em Curitiba
Explosão
da periferia
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C1 QUARTA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE 2020 ANO XXXIV – Nº 11590 O ESTADO DE S. PAULO