O Estado de São Paulo (2020-03-11)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 11 DE MARÇO DE 2020 Caderno 2 C5


ROBERTO


DAMATTA


Eliana Silva de Souza


DE OLHO NA ÍNDIA


Vai ao ar, de quarta, 11, a sex-


ta, dentro do Jornal da Band a


série de reportagens especiais


Passagem para Índia, que reve-


la segredos desse país, tido


como a quinta maior econo-


mia do mundo. A repórter Sô-


nia Blota e o cinegrafista Clau-


dinei Matosão mostram como


a Índia se transformou em po-


tência tecnológica, mantendo


empresas de ponta, que inves-


tem cada vez mais na criação


e uso de aplicativos. Reporta-


gem aborda também a questão


dos empresários e profissio-


nais brasileiros que estão em-


polgados com esse populoso


país. Tem ainda a questão


mística e locais mágicos que


atraem milhares de pessoas


do mundo todo. Especial será


exibido a partir das 19h20.


PRECISA GOSTAR MUITO


Com estreia marcada para o


dia 19 de março, às 22h30, na


Nat Geo, a série documental


brasileira Em Busca das Cobras


traz Rato e Vini, dois especia-


listas em herpetofauna, em


muitas aventuras durante des-


bravamento do temido mun-


do das cobras mais mortais do


Brasil. Dirigido por Rafa Calil,


os dois investigadores desses


ofídios estão à procura de


uma cobra principal. Eles pre-


tendem capturá-la com segu-


rança e fazer um breve estu-


do. Mas o perigoso desafio


não será o único, pois os dois


precisam superar os próprios


limites, como o pavor de altu-


ra de Vini e o desconforto de


Rato dentro da água.


ASSUNTO DA VEZ


O Discovery exibe, no dia 25


de março, às 22h, com reprise


no dia 28, às 23h40, o docu-


mentário Coronavírus: Ameaça


Global. Vamos ver os bastido-


res do início dessa epidemia


na China, ouvindo especialis-


tas daquele país, que contam


como funciona o vírus. Até o


momento, as origens reais


da doença ainda são um mis-


tério, que deixa todos em


alerta, pois o número de in-


fectados no mundo continua


crescendo.


SENHOR POP


Está disponível no Bis Play


documentário sobre Elton


John (foto), que pode ser vis-


to até dia 31 de março. Filme


faz um retrato da trajetória


do músico britânico, desde


sua infância, com depoimen-


tos do artista ao longo do


tempo. Compositor de inú-


meros sucessos e tema do


longa Rocketman, no qual é


interpretado por Taron Eger-
ton, Elton John faz reflexões

sobre sua carreira e o legado


deixado para a música.


MEMÓRIA ILUSTRE


A cantora e atriz Adelaide


Chiozzo, que morreu no dia


4, aos 88 anos, será homena-


geado pelo Canal Brasil com


a exibição do filme É Fogo na


Roupa. Sessão será nesta


quarta, 11, às 17h15. Dirigida


por Watson Macedo, comé-


dia de 1952 traz ainda no


elenco Ankito, Violeta Fer-


raz, Heloísa Helena, Emili-


nha Borba e Augusto Aníbal.


Documentário. O Film & Arts exibe nesta quarta, 11, às 20h55,


David Bowie: The Last Five Years, que mostra o processo criativo


dos dois últimos discos do músico. Direção de Francis Whately.


Sons e imagens


20.000 Léguas Submarinas/


20000 Leagues Under the Sea


(EUA, 1954.) Dir. de Richard Fleis-


cher, rot. de Earl Felton, com Kirk


Douglas, James Mason, Paul Lukas,


Peter Lorre, Carleton Young.


Meu Mundial – Para


Vencer não Basta Jogar/


Mi Mundial


(Uruguai, 2019.) Dir. de Carlos


Andrés Morelli, com Facundo


Campelo, Nestor Guzzini, Cesar


Troncoso, Verónica Perrotta.


A adaptação da obra de Jules


Verne por Fleischer não deixa


de proporcionar uma homena-


gem ao astro Kirk Douglas, que


morreu em 5 de fevereiro, aos


103 anos. Equipe que busca evi-


dências de um monstro submari-


no encontra o atormentado capi-


tão Nemo e seu protótipo de


submarino. Grande aventura.


TEL. CULT, 19H40. COLORIDO, 127 MIN.

M


orreremos do coração,


mas o coração (esse termô-


metro do amor) pode mor-


rer antes da gente.






Um dia, entrei no gabinete do
meu avô Luar e encontrei o texto

abaixo:


“Meu coração morreu faz 20


anos. Os espíritos não esquecem do


dia e ano de suas mortes porque sa-


bem que os mortos não vão mais to-


mar sorvete, beijar na boca e comer


arroz com feijão. Na eternidade on-


de estou há enfado porque não há o


instante – o que passa. Sabendo que


morri, estou metido na eternidade


onde nada acontece.


No dia da minha morte súbita co-


mo um espirro, vi sofrimento e cor-


re-corre. O morto, conforme sabe-


mos, é um inabalável centro de aten-


ção. Um cadáver coberto de flores e


de um elegante véu, imóvel e aparen-


temente contente, dentro de um cai-


xão, escancara o portal da realidade.


No além, vemos isso com nitidez.
Imediatamente notei a perturbação

dos amigos e inimigos, bem como ob-


servei o vazio sentimental dos meus


parentes.


Vivo, fui a muitos funerais, mas ja-


mais havia notado como o morto reú-


ne tanta gente e produz tanto falató-


rio, medo e piadas. Ouvi muita coisa e


notei os círculos em volta do caixão.


Os mais próximos – esposa, filhos e


netos – ao lado do meu rosto tisnado


daquele amarelo cera dos defuntos.


Amigos e colegas ficavam de longe.


É curioso constatar como se faz com


um evento jornalístico um velório.


Mas um velório visto pelo espírito do


morto que sabe de tudo, mas está fora


do palco, fora do drama. Fiquei penali-


zado mais pela situação do que pelas


demonstrações de sofrimento. Quan-


do vivo, jamais achei fácil despachar


(como fazemos com o lixo) o corpo de


um ente querido.


Vi Marcília, minha mulher, choran-


do muito agora que havia enviuvado e


me arrependi de não lhe ter falado


mais vezes do quanto eu a amava. Só


depois que as pessoas morrem é que


nos arrependemos de nossas sovini-


ces emocionais ou das perguntas que


não fizemos.


Meus filhos choravam. Os primos


riam e alguns colegas mal podiam es-


conder o alívio pela minha morte. Um


deles murmurou um meio alto “já vai


tarde...”; e um outro replicou “não vai


fazer falta alguma”... Não fiquei indigna-


do ou triste, não sentia nada porque os


espíritos (como sei agora) vivem ape-


nas parcialmente. Eles, como os santos,


precisam dos vivos para celebrá-los.


Terminado o funeral, muitos foram


a minha casa. Anoitecia e uma lua bri-


lhava só para mim porque logo que


meus parentes, viúva, amigos e colegas


chegaram, os criados abriram muitas


garrafas de vinho e todos usaram mi-


nha morte para beber em minha memó-


ria e em louvor do meu espírito que, ali


presente, ficava um tanto desconfia-


do, mas feliz porque não cabe a ne-


nhum espírito ficar alegre.


Continuei pairando e pelo retinir


das taças logo vi que minha pessoa,


mal havia sido enterrada, começava a
ser esquecida. Afinal, o vinho era

bom e o Dr. Roberto, que só tomava


uísque, sorvia sua terceira dose e se


chegava com desenvoltura a Marcí-


lia, minha viúva.


Logo atentei que havia (conforme


sempre desconfiei) algo entre eles. Eu


sabia (mas não queria entender) que


quando ela ia costurar com as amigas e


eu via o carrão do Dr. Roberto, meu


cardiologista, especialista em salvar


corações, que o elo entre eles ia além


das linhas bordadas. Para meu tormen-


to insensível, pois as almas do outro


mundo não sentem, ouvi o médico se-


gredar algo como “agora, amor, esta-


mos livres...” e no rosto de Marcília


observei um disfarçado riso que eu


bem conhecia na intimidade dos cor-


pos, quando ela se desnudava no


nosso casto e honrado quarto.


Não errei. Um mês depois do meu


enterro, casaram-se e a festa era ou-


tra. Só mencionaram o meu nome


formalmente uma vez. Ao lado dis-


so, meus descendentes só pensa-


vam em mim quando falavam no


que eu havia “deixado”.


No ano seguinte, eu já havia desa-


parecido da vida desse povo que foi


meu. Tal desmaterialização indica-
va que a cada minuto, hora, mês e

ano, eu ia sumindo. Não nego que,


de quando em vez, alguém sente sau-


dade de mim. Mas hoje me confor-


mo que sou lembrado para ser devi-


da e sucessivamente olvidado.


Irmãos, registro nessa psicografia


como fiquei sentido com o egoísmo


dos vivos diante dos mortos. Mas


como evitar esse afastamento que


vira saudade e é correto?”






Eu não sabia que vovô se comuni-


cava com o outro mundo. Só espero,


querido leitor, que ninguém tam-


bém mate o meu coração.


Luiz Carlos Merten


Baseado no livro de Daniel


Baldi, um filme sobre fute-


bol com um charme todo


especial. A habilidade de


Tito com a bola resgata a


família da pobreza e abre


mil possibilidades para o


garoto. O problema é o di-


nheiro. De repente, o que


parecia solução vira proble-


ma. A família corre o risco


de desintegrar-se e Tito, o


de perder tudo, até o amor


de sua juventude. E agora?


C. BRASIL, 15H40. COL., 102 MIN.

A Maior História de Todos os


Tempos/ The Greatest Story
Ever Told

(EUA, 1965.) Dir. de George Stevens,


com Max Von Sydow, Charlton Hes-


ton, Carroll Baker, Sidney Poitier.


ROBERTO DAMATTA ESCREVE
ÀS QUARTAS-FEIRAS

A maior história é a de Cristo, e


quem faz o papel é Max Von


Sydow, o grande ator dos fil-


mes de Ingmar Bergman, que


morreu no fim de semana, aos


90 anos. Embora não tenha fei-


to muito sucesso de público


nem de crítica no lançamento,


tem pelo menos uma grande


cena – a ressurreição de Lázaro.


TEL. CULT, 22H. COLORIDO, 193 MIN.

Com menos de um mês para a


9.ª edição do Lollapalooza Bra-


sil, o evento divulgou ontem os


horários das atrações. LollaBR


2020 ocorre nos dias 3, 4 e 5 de


abril, no Autódromo de Interla-


gos, em São Paulo. Serão mais


de 10 horas de festival por dia,


com mais de 50 horas de ativi-


dades ininterruptas.


Segundo assessoria do even-


to, todos os convidados inter-


nacionais até o momento con-


firmam presença no festival. A


apresentação dos headliners


Guns N’ Roses e Lana Del Rey,


será na sexta-feira (3/4), Travis


Scott e Martin Garrix, no sába-


do (4/4) e The Strokes e Gwen


Stefani no domingo (5/4).


Em meio a diversos cancela-


mentos ou adiamentos de


shows e festivais, o rapper ame-


ricano yasiin bey (conhecido


anteriormente como Mos Def)


cancelou sua participação no


Nublu Festival, em São Paulo,


na próxima sexta, 13. A produ-


ção do evento anunciou o gru-


po Slum Village em seu lugar.


Segundo o Nublu, yasiin bey e


sua produção alegaram “condi-


ções de saúde que o impossibi-


litaram de viajar”.


No exterior. A economia local


de Austin, no Texas, passou a


esperar um influxo de receita


do South by Southwest, o festi-


val de música, cinema e tecno-


logia anual que atrai milhares


de visitantes. Mas, por causa


do crescimento do novo coro-


navírus, o evento deste ano foi


cancelado. “Essa é a primeira


vez em 34 anos que o evento


em março não acontecerá”, la-


mentaram os organizadores


do SXSW.


Os festivais são o mais recen-


te setor da indústria do entrete-


nimento a sofrer com o resulta-


do do vírus potencialmente


mortal se espalhando pelo


mundo. A organização do Coa-


chella Valley Music and Arts


Festival confirmou ontem a


transferência do evento de


abril para outubro.


E conforme a temporada de


festivais de verão no Hemisfé-


rio Norte se aproxima, não se-


rá o último. “Esse é o começo


do vírus”, disse o advogado de


entretenimento baseado em


Nova York David Chidekel. “O


que está acontecendo é que as


pessoas, de um ponto de vista


preventivo, começam a pensar


que é melhor cancelar do que,


se algo der errado, parecer os


babacas gananciosos que não


fizeram nada.”


O SXSW relatou mais de 400


mil participantes no ano passa-


do. O Coachella, localizado


num condado da Califórnia


que reportou múltiplos casos


do novo coronavírus, espera


atrair cerca de 250 mil. E o Sta-


gecoach, o festival de música


country após o Coachella, já te-


ve mais de 70 mil.


A perda financeira de jogar


fora um festival pode ser im-


pressionante, chegando aos


milhões. Os organizadores do


SXSW confirmaram para o Aus-


tin Chronicle que não tinham se-


guro cobrindo cancelamento


por “infecções bacterianas,


doenças contagiosas, vírus e


pandemias”. As apólices co-


muns não cobrem esse tipo de


causa, apontou Chidekel,


acrescentando que “elas passa-


rão a cobrir, posso garantir”.


Em relação ao pagamento de


artistas, festivais de música


cancelados podem não ter tan-


ta obrigação financeira. Com a


exceção de headliners que po-


dem ser pagos adiantados – “o


1%, digamos”, afirma Chidekel


–, a maioria dos artistas assina


contratos sujeitos a uma cláu-


sula de “força maior”, o que ali-


via o festival de cumprir suas


obrigações contratuais quan-


do as circunstâncias estão fora


de seu controle.


Ainda no campo da música,


Miley Cyrus cancelou a viagem


que faria à Austrália para um


show beneficente e a apresen-


tação do Guns N’ Roses, em 18


de março, na Costa Rica, tam-


bém não será mais realizada


por causa do coronavírus. / COM


SONIA RAO, DO ‘THE WASHINGTON

POST’ (TRADUÇÃO GUILHERME

SOBOTA)

ESPECIAL CORONAVÍRUS


Não errei. Um mês depois


do meu enterro, casaram-se


e a festa era outra


Quando morre o coração


FELIPE RAU/ESTADÃO - 06/4/2014

DESTAQUE


Sem Intervalo Filmes na TV


Apesar do


coronavírus,


Lolla é


mantido


BRETZ FILMES

FILM & ARTS

CHAD BATKA/THE NEW YORK TIMES

Música. Festival ocorre em SP, em abril;


nos EUA, Coachella será adiado para outubro


Lollapalooza. Todos os convidados internacionais confirmaram presença no festival, segundo assessoria do evento

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