Valor - Eu & Fim de Semana (2020-03-13)

(Antfer) #1

16 |Valor|Sexta-feira,13demarçode


E

m comentáriosobreasaída do Rei-
no Unidoda UniãoEuropeia(UE),
afinalconsumadanofimdejaneiro,
“The Economist”fala dos desafiosa
que agoraopaís se expõe,obrigadoa mo-
ver-sepor águasdesconhecidas. Umadúvi-
da arevistanão tem: para fazeressa navega-
ção, em que deverá“recalibrara economiae
redefinirsuasprioridadescomvisãoestraté-
gica,não maispor táticasde campanha”, o
primeiro-ministroBorisJohnson“precisade
uma estrela-guia”, e esse pontoluminosode
orientaçãodeveseroliberalismo.
Talvez se possadizerque “TheEcono-
mist”tem sido, ela mesma,uma espécie de
“estrela-guia”, já que “moldouo mundo
habitadopor seus leitores”, comonota Ale-
xanderZevinem “Liberalismat Large-The
World Accordingto The Economist”(Ver-
so,importado).Eofez integrando três
camposde relacionamento, interessese in-
fluências:a defesaintransigente do libera-
lismo;aascendência sobrea City,ocentro
financeirolondrino;ec omo voz respeitada
em diferentes esferas do poderde Estado.
“TheEconomist”professano artigo:“A
crençana liberdadecomobase da civiliza-
ção, no Estadocomoservodo indivíduoe
não vice-versa,e no livreintercâmbiode

bens, serviços e opiniões, nasceu na
Grã-Bretanha. Ajusta-senaturalmenteaum
caráternacionalque questionaaautorida-
de [pelaprimaziadas leis] e tendeao prag-
matismo, enão ao idealismo. Deu sustenta-
ção ao progressodo país nos séculosXIX e
XX esedifundiu,paratornar-seafilosofia
políticadominantedo mundo”. E adverte:
“Agora[esseprincípio]estáameaçado”.Bre-
xit ésinônimode riscoslatentes variados,
econômicosepolíticos.
Em seu livro, Zevinconta,com o espírito
crítico,ahistóriaintelectualde “The Econo-
mist”por meiode suas decisõeseditoriais
comparadasa referências do pensamentoe
práticasde cunholiberalque a revistacon-
tribuiupara disseminar no ReinoUnido, na
Europae, em certamedida,no mundo. Para
tanto, Zevin,Ph.D. pela Universidadeda Ca-
lifórniae professorde históriana City Uni-
versityde NovaYork, escolheutrês campos
de investigação específicosque estãoau-
sentesdas indagaçõessugeridasnos estu-
dos do liberalismoclássicoou nelesapare-
cem de formaisolada:como os liberaisres-
ponderamà propagaçãoda democracia,à
expansãodo império(primeiro, obritâni-
co; depois,o americano) e ao aumentodo
poderfinanceirotransnacional?

São questões que se somam adificuldades
inerentes, aindahoje,à própria conceituação
deliberalismo,porissomesmoabertaavaria-
ções de interpretação tambémencontradas
em análises e opiniões de “TheEconomist”,
quando não levam a contradições(inclusive
darevista)queolivroigualmenteexpõe.
Zevinnão nega,comodiz em entrevista
aoValor, que suas inclinações ideológicas
“possamser parcialmente vislumbradas”
no livro.Mas faz ressalvas:há um método
em seu modode contara históriado pen-
samentopolíticoe econômico no contexto
da intercorrênciade forçasmateriais, so-
ciais e institucionais— “em oposiçãoa con-
ceitosque as ignoram”.
Evitando enredar-se nessa “armadilha
em que caírammuitasinterpretações do li-
beralismo, acadêmicasou não”, ele tenta
iluminaravertentedominantedesseseg-
mentoda filosofia político-econômica,as-
sim consideradaaquelaem que “TheEco-
nomist”seinscreve,“da maneiramaiscom-
pletapossível”,aolongodequasedoissécu-
los, comparativamente,e acompanhando
seus movimentosatravés das fronteirasna-
cionais.“Essa é a práticaintelectualem que
me formei,em parteao ler eescreverna e
para a‘New Left Review’[ondehoje ele inte-

MÍDIA


‘TheEconomist’temhistóriacontadapormeiodasdecisões


editoriais comparadasa referênciasdopensamento liberal que


ajudaa disseminar. Por CyroAndrade, para o Valor, deSãoPaulo


Um guia do


liberalismo

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