Sexta-feira,13demarçode2020|Valor| 17
Zanny Minton
Beddoes,de 53 anos,
a atualeditora da
“TheEconomist” e
primeiramulhera
assumiro cargo,
escreveuartigo
sobre a desigualdade
derenda
gra oconselhoeditorial]epelo exemplode
muitospensadores de talentoque aadota-
ramapartirdoprincípiodosanos1960.”
Zevineleva“TheEconomist”àcondição
de referênciafundamental, verdadeirape-
dra de toque,comodiz, para se compreen-
der questõesdeixadassem respostasno ar-
cabouçoliberalvigenteno ReinoUnidono
séculoXIX e depois.Aquelecorpoideoló-
gicocentraldo liberalismo clássico, que
empolgouas elitesbritânicasao emergir
na épocade fundaçãoda revista(1843),
constituíaumaagendacoerentee integra-
da, mas incompleta.
Combinava liberdades econômicas(o di-
reitoincondicional à propriedadeprivada;
impostos reduzidos; nenhuma tarifainterna;
livre-comércio externo) com liberdadespolí-
ticas (a primazia da lei; igualdadecivil; liber-
dadedeimprensaedereunião;carreirasaber-
tas ao talento; governoeticamenteresponsá-
vel), mas nissoficava. Restaram, porém,per-
guntas que Zevinleva para o livro, agrupadas
naquelastrêsáreasemqueconcentrasuaaná-
lise:democracia,impérioefinanças.
“TheEconomist”, diz Zevin,ofereceum
registrocontínuode confrontaçãoentreo
liberalismo clássico e os desafiosimplícitos
nessasindagações—eo faz com excepcio-
nal êxitointelectual, em ondasde influên-
ciaquehojetêmalcancemundial.
Aleiturada revista“é um antídotocon-
tra o ecletismopadrãoda maiorpartedos
relatosde ideiasliberais,que, tipicamente
inclinados a ‘noyer le poisson’[dizermuito
e explicarpouco],comodizemos france-
ses, juntamtudoeseu opostonumamistu-
rançaque recuaaté pelomenos[Adam]
Smith,se não aLockeou até antes”.E, as-
sim, poucoesclarecem.
A partirdo momentoem que otermose
tornouparteefetivado discursopolítico,
“The Economist”empunhouabandeirado
liberalismo e adefendeuvigorosamente,
“às vezesum poucoadiantedas mudanças
ideológicas eoutras,poucoatrás”, observa
Zevin.“Oqueahistóriada‘Economist’reve-
la é acorrentedominantedo liberalismo,
que teve outras,suastributárias,mas ne-
nhumatão centrale tão forte”comoessa a
quearevistasealinhaerepresenta.
Para definir a si mesma, arevistase
colocana posição de “centro extremo”,
expressão cunhadapelo barãoGeoffrey
Crowther(1907-1972),editorde 1938a
1956,assimse mantendofiel ao espírito
dos “radicais”.O que essa opçãosignifica,
alémda crençanas virtudesdo livre-co-
mércioe dos livresmercados?
No perfil publicadoem seu site, lê-se que
“The Economist”, inspirada no que disse
Crowtherem 1955,apoiou conservadores co-
mo Ronald Reagan(1911-2004) eMargaret
Thatcher (1925-2013) e endossou as ações
dos americanos no Vietnã. Mas tambémse
pôs ao lado de Harold Wilson (1916-1995) e
Bill Clinton e“aderiuaváriascausas liberais,
opondo-se àpena de morte desdeos primei-
rosdias,enquantodefendiaareformapenale
a descolonização,bem como —mais recente-
mente—ocontrolede armas e o casamento
gay”. Tambémapoiou—mas não diz —ader-
rubada do governode SalvadorAllendeno
Chile,golpesengendradospelaCIAnaAméri-
caCentraleainvasãodoIraque.
E em 1964,comoZevinregistrano livro,
“The Economist” entregou,por forçade cir-
cunstâncias inesperadas, acobertura das
atividadesdogovernomilitarnoBrasilaum
correspondenteentusiastadaspolíticaseco-
nômicasentãoinauguradas.Foiaresposta
conciliatóriacom que procurouencerrara
celeumacriadapor um artigoem que res-
ponsabilizava João Goulartpor sua própria
queda,mas tambémcriticava o“anticomu-
nismo” de seus oponentes,acusando-osde
mascararafaltadedisposiçãoparaadmitira
MICHAELNAGLE/BLOOMBERG