Valor - Eu & Fim de Semana (2020-03-13)

(Antfer) #1
Sexta-feira,13demarçode2020|Valor| 9

BoapartedosBCsdo
mundodesenvolvido,
emparticularno
Japãoe nazonado
euro, estádemãos
atadas:osjurosde
políticamonetária
bateramemzeroou
estãonegativos

autoridades. Argumentamque os formula-
doresde políticaspúblicasprecisarãoim-
plementarmedidas fiscais,monetárias e fi-
nanceiras.Nenhumaáreapodedeixarde
ser coberta.Na Itália,o maiorfoco de proli-
feraçãodo covid-19fora da Ásia,o governo
localampliouos prazosfiscaispara empre-
sas nas áreasafetadaspelo víruse estendeu
o fundode suplementaçãode saláriopara
fornecerapoiode rendaaos trabalhadores
demitidos.Em situaçãodramática,o esta-
do de quarentenafoi decretadoem todoo
territórioitaliano.
ACoreiado Sul, outropaís fortemente
afetadopelo covid-19,criousubsídiossala-
riais para pequenoscomerciantes.A China
renunciou temporariamenteàs contribui-
ções para a segurança socialdas empresas.
Para os demitidos,oseguro-desemprego
podeser temporariamenteaumentado e
seu acesso, facilitado.AUniãoEuropeia
(UE)informouque vai criarum fundode
€25 bilhõespara combateros efeitosdo co-
ronavírus.Na últimasemana,oB ancoMun-
dial destinouUS$ 12 bilhõeseoFMI,US$ 50
bilhõesparaocombateàcrise.
Opresidente DonaldTrump também
anunciou medidas. Disse que pretende
promover cortesde impostossobreafolha
de pagamentos,cujo montantepodeche-
gar aUS$ 8bilhões.“Essasforamsinaliza-
ções importantes,principalmente a ameri-
cana,que ajudaram adiminuiro impacto
da crisenos mercadosdurantealgunsmo-
mentosdestasemana”, diz Gonçalves. “O
problema éque, se essascoisasnão aconte-
cerem,haveráfrustraçãonos mercadose
isso podeprovocarum efeitocontrário,
piorandoainda maisoquadroda crise.”
Algo, aliás,que já começoua acontecer
desdequarta-feira,nos EUA.
No Brasil,as primeirasreaçõesdo gover-
no ao novocoronavírusforamcriticadas
por algunsespecialistas.“O governobrasi-
leiroadotoua lógicade que tudonão pas-
sa de uma‘ma rolinha’, comodisseopresi-
denteLula no inícioda crisede 2008”, afir-
ma RodrigoZeidan, professor da New York
University (NYU),de Xangai,e da Funda-
ção DomCabral.Ele pondera que o país
tem um climaquente,o que podedesfavo-
receraproliferaçãodo vírusetambémé
maisfechadodo que a média.“Masisso
não querdizerque os brasileirosnão vão
enfrentar um problemasério. Vão, sim.”
Nestasemana,o presidenteJair Bolsona-
ro (sempartido)negouque houvesseuma
crisemundialpor causado coronavíruse
culpouaimprensa pela situação.Opresi-
denteTrumptambémtem minimizadoo
impactodocovid-19.NojantarentreTrump


e Bolsonaro,em Mar-a-Lago,na Flórida,no
dia 7, os dois líderesteriamconversadoso-
bre adisseminaçãodo víruse estimaram
que até ofim de abrilhaverá uma melhora
no quadroglobal.Oministroda Economia,
Paulo Guedes,tambéminicioua semana
afirmandoque amais eficazrespostaàcrise
do contágiotanto econômicoquantodo ví-
russeriamas“reformasestruturantes”.
Não há consenso, contudo, em tornodas
medidasque devemser tomadas parao
combateda doençaeseus efeitos na econo-
mia do país. Mesmoporqueocovid-19não
é o únicoproblemada atividadeeconômi-
ca, emboraele representeumaagravante
extraordinária.De qualquerforma,as insti-
tuiçõesfinanceiraseconsultorias conti-
nuamreduzindoas previsõespara o Produ-
toInternoBruto(PIB)desteano.Pelasnovas
estimativas,aeconomiabrasileira crescerá
menosde 2% em 2020.Algumasprojeções
jácravamem1,5%oavançodoPIB,oquere-
presentariaelevaçãopífiaem relaçãoao
1,1% obtidoem 2019.Na quarta-feira,ogo-
vernobrasileirotambémalterouparabaixo
sua estimativa. O indicadoroficialpassou
de2,4%para2,1%.
Para dar contados prejuízoscom a crise,
as sugestões levantadas até aquiincluem
desdemedidasmonetárias,com novoscor-
tesdataxabásicadejurosporpartedoBC,e
até aeliminaçãodo teto de gastospúblicos,
comopropôsesta semana,em entrevistaao
jornal“O Estadode S.Paulo”, a economista
Mônicade Bolle,diretorado programade
estudoslatino-americanosda JohnsHop-
kinsUniversity,nosEUA.

A sugestão,aindaque diantedo efeito
de uma forteturbulênciaglobal,despertou
polêmica. Vitoria Saddi, do Insper, por
exemplo, diz acreditarque a medidado
fimdoteto,oumesmo,suasuspensão,se-
ria precipitada.“Nãoé horade esquecero
teto de gastos,amenosque estejamoscon-
siderandoque a crisedo coronavírus é
comparável à recessãode 2008”, afirma.
“Para mim,elas têm proporçõesdiferentes
e, agora,seriamaisimportantee prudente
para o Brasilavançarnas reformas.”
José JúlioSennatambémvê problemas
nas principaisalternativas cogitadas até
aqui.Para ele, os sucessivoscortesde juros
promovidospeloBancoCentralnão têm
produzidoosresultadosesperados,estimu-
landoaeconomia.“Maisdomesmotam-
bém não vai funcionar”, afirmaSenna.“Por
outrolado,oExecutivotem demorado de-
maisparaencaminharpropostasobjetivas
de reformaparaoCongresso. Então,essa
não pareceser umaalternativaviável para
umproblematãoemergente.”
RodrigoZeidantambémvê entraves nas
alternativascogitadasaté aqui.“O teto de
gastosgera credibilidade,mas amarrao go-
verno”,afirma.“Abandoná-loéumadecisão
delongoprazo.Alémdomais,qualquerpo-
líticafiscalanticíclica,queresulteemgastos
substanciaisdo poderpúblico,éc ontrao
DNAdo atualgovernobrasileiro. Isso não
deveacontecer, até porque a ideologia cos-
tumasermaisfortedoqueopragmatismo.”
Zeidan, que é autorde “Economicsof Glo-
bal Business”(MITPress),observaque des-
pesaselevadas,na ordemde 5% a7%doPIB,

EUGENEHOSHIKO/AP
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