Aventuras na História #235A - 02Dez22_compressed

(lenilson) #1

Pacífico e Américas (o Alasca), surgiram algu-
mas revoltas internas e novas ameaças exter-
nas. A Rússia era um ator geopolítico forte e
os demais impérios da época não perdiam a
oportunidade de tentar ameaçar suas frontei-
ras ou de fomentar rebeliões locais para que
estas minassem a ordem mantida pelos czares
com punho de ferro. Foram os problemas su-
cessórios após a morte de Pedro I (1725), so-
mados ao conturbado contexto externo, que
fizeram com que o país se visse às voltas com,
pelo menos, seis grandes conf litos internacio-
nais entre os anos 1720 e 1760.
Os 1700 foram um período de efervescência
na Europa, em que muitas Casas Reais se viram
brigando umas com as outras por conta de
descendentes não aceitos nas cortes. Nesse
contexto, uma figura marcante ascendeu ao
trono russo. Não era um czar como os anterio-
res, mas uma czarina,
Catarina II, uma nobre
de origem germânica
que, por conta do ma-
trimônio com o herdei-
ro Romanov, se tornara
“imperatriz de todas as
Rússias”. A jovem mo-
narca empenhou-se em
não apenas assimilar
os costumes de seu novo povo – era uma pa-
trocinadora da cultura eslava – como também
em “pacificar” e expandir os domínios do im-
pério.
Lançando mão da velha receita dos czares,
governou com mão de ferro, e fez com que ame-
aças fossem eliminadas antes mesmo de come-
çarem a prosperar. Seguramente, muito do que
foi escrito sobre a monarca é fruto de difamação
de seus opositores da época – o fato de ela ser
uma mulher destemida em uma corte masculi-
na não pode ser ignorado –, entretanto, a cza-
rina sabia que governar um país diverso não era
tarefa simples, e que os homens são movidos
mais por interesses pessoais do que por ideais
coletivos. Catarina governava como se jogasse
xadrez, sempre estava três jogadas na frente de
opositores – e também de aliados.


Foi sua sagacidade e persistência que fize-
ram com que os domínios se estendessem não
apenas de Leste a Oeste, mas também de Nor-
te a Sul, com uma extensão territorial que ia
do Mar Báltico ao Mar Negro. Essa visão de
abrir uma passagem entre os dois mares se
mostraria estratégica nos anos (e séculos) se-
guintes. No Norte pôs fim à longa ameaça da
Suécia, e no Sul, a conquista da Crimeia, além
de conter os turco-otomanos, fincava um pé
russo no Mar Negro – algo extremamente atu-
al. Ademais, a extensão territorial a ser cober-
ta por potenciais invasores cobraria seu preço,
como descobririam Napoleão Bonaparte e
Adolf Hitler.

O LONGO SÉCULO 19


Uma das obras mais célebres do economista
político italiano Giovanni Arrighi chama-se O
Longo Século 20. Nela,
o autor retrata como as
crises sistêmicas do
Capitalismo moldaram
o século passado. Pois
bem, para os russos o
século 20 foi de fato
longo, mas o 19 foi ain-
da maior. Não fossem
os acontecimentos dos
1800, Lenin não teria feito a Revolução de 1917,
e a história russa seria bem diferente.
Quando olhamos para a situação do país em
1812, ano que Napoleão invadiu a Rússia, ele já
era um império continental bem estruturado e
que exercia forte inf luência nas decisões de todo
o Velho Mundo. Esta, aliás, foi a principal mo-
tivação do imperador francês para reunir “o
maior exército que o homem já vira”, o Grand
Armée, e marchar de Paris até Moscou. Não
tendo conseguido atravessar o canal e subjugar
os ingleses, Napoleão via na derrota dos czares
a oportunidade de solidificar seu domínio na
Europa e, quem sabe, ao conquistar a Rússia,
chegar na joia da Coroa Britânica: a Índia.
Nada disso funcionou e Napoleão foi der-
rotado não apenas pela tenacidade de um povo
que, apesar de viver sob o cetro pesado de

CATARINA II GOVERNAVA


COMO SE JOGASSE


XADREZ, SEMPRE À


FRENTE DE OPOSITORES E


TAMBÉM DE ALIADOS


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