Aventuras na História #235A - 02Dez22_compressed

(lenilson) #1

GRANDES GUERRAS


AS OPINIÕES DOS COLUNISTAS NÃO SÃO DE RESPONSABILIDADE DA REVISTA


B


em poucos temas na história atraem tanto o
interesse público quanto os dois grandes
conf litos mundiais ocorridos na primeira
metade do século 20 – a Grande Guerra (1914-
1918) e a Segunda Guerra (1939-1945). A destrui-
ção causada não tinha precedentes. Num espaço
de apenas três décadas, mais de 90 milhões de
pessoas morreram. E mesmo a imensa bibliografia
produzida sobre o tema parece não ser suficiente
para a compreensão do que aconteceu. Arraigado
ao senso comum, ainda está o entendimento de
que as duas guerras opuseram heróis e vilões em
uma luta por liberdade e paz. Mas isso não é ver-
dade. A complexa teia de eventos e relações que
desencadeou o cataclisma
de 1914-1945 já estava em
curso muito antes de seu
início, e teve desdobra-
mentos que ainda hoje se
fazem visíveis, não só no
cenário político dos países
diretamente envolvidos,
mas em diferentes socie-
dades, por todo o globo.
Com um olhar mais amplo, Grandes Guerras
(HarperCollins Brasil, 2022) permite a compreen-
são melhor do chamado “século de sangue” ou “era
dos extremos”, um período marcado por ultrana-
cionalismos, regimes ditatoriais, ódio étnico e de
classe e políticas de extermínio, respaldados em
teorias científicas e sociais pregadas por pesqui-
sadores e ensinadas em universidades.
Durante a Grande Guerra, a luta foi travada
entre grandes impérios (com exceção da França,
que era uma república). Já durante a Segunda
Guerra, muita coisa havia mudado no tabuleiro
político mundial: em posição oposta ao expansio-
nismo alemão e japonês estavam potências demo-
cráticas (incluindo o emergente Estados Unidos)
e o primeiro país socialista do mundo (a União
Soviética), aparentes pilares da liberdade e da
igualdade dos povos, mas tão predadores quanto

os impérios, ditaduras ou ideologias que comba-
tiam. Depois de 1945, britânicos e franceses, ain-
da que enfraquecidos, mantinham colônias de
exploração espalhadas pelo globo; e o comunismo
soviético propagara um pernicioso modelo de
ditaduras.
Sem usar de anacronismos, é possível repensar
e talvez até mesmo ressignificar alguns conceitos,
como liberdade e democracia, bem como ref letir
sobre ideologias ou doutrinas nocivas e aparente-
mente distantes ou contraditórias. Quem realmen-
te lutava por liberdade ou era livre e até que ponto
as democracias defenderam homens “livres” ao
longo dos dois cataclismas do século 20? Para
compreender isso, é preci-
so conhecer o mundo da
época, o que era tido como
ciência, o que havia de tec-
nologia e quais eram os
interesses geopolíticos.
Temos errado repetidas
vezes ao longo da História.
Parte do erro está em não
conhecer o passado. A ou-
tra parte está em não aprender com ele. Algo em
que a humanidade parece insistir. Desde fevereiro
deste ano, um país soberano europeu está sendo
paulatinamente destruído por uma grande potên-
cia mundial, sob o olhar condescendente de líderes
políticos internacionais hipócritas e incapazes de
gerenciar crises. Com a ameaça cada vez mais real
de uma Terceira Guerra Mundial é mais do que
oportuno aprender sobre o passado.

Temos errado repetidas vezes
ao longo da História. Parte
do erro está em não conhecer
o passado. A outra parte está
em não aprender com ele

COLUNA RODRIGO TRESPACH


RODRIGO TRESPACH É


HISTORIADOR E ESCRITOR,


AUTOR DE 17 LIVROS, ENTRE


ELES: GRANDES GUERRAS


(HARPERCOLLINS, 2022)


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