Aventuras na História #235A - 02Dez22_compressed

(lenilson) #1

POR QUE A GUERRA?


Q


uerido(a) leitor(a), a coluna desta edição espe-
cial sobre guerras é escrita em 11 de novembro
de 2022, uma sexta-feira chuvosa, que com-
bina com a data. Não se preocupe se você não fez
uma associação imediata, pois o dia não é (tão) lem-
brado no Brasil. Entretanto, o evento celebrado é
uma memória que, apesar de dolorosa, é essencial
para a humanidade: o Armistício de Compiègne, o
fim da Primeira Guerra Mundial. Há motivo para
celebração, pois foram os acontecimentos ocorridos
dentro de um vagão de trem, em uma f loresta na
cidade francesa que dá nome ao armistício, que pôs
fim aos longos quatro anos de sofrimento. Todavia,
mesmo que as armas tivessem silenciado naquele 11
de novembro de 1918, ainda
faltaria muito para a paz.
As disputas em aberto leva-
riam aos totalitarismos e a
um novo conf lito mundial
21 anos depois.
Essa sucessão de aconte-
cimentos nos leva então a
nos perguntarmos: “por que
a guerra”? Em uma edição
especial dedicada exclusivamente a essa temática, a
indagação se torna ainda mais pertinente. E foi jus-
tamente essa a questão levantada quando, há quase
três anos, este colunista começou a escrever a coluna
de Forças Armadas e Assuntos Militares da AVEN-
TURAS NA HISTÓRIA. Nossa editora, Izabel Duva
Rapoport, a quem agradeço pela parceria, dedicação
e esmero em deixar esta revista cada dia melhor, me
questionou, antes de me confiar a coluna, sobre o
porquê eu ter escolhido como tema de pesquisa,
justamente, a guerra.
Não há uma resposta única para este questiona-
mento. Mas há um elemento que se destaca: a guer-
ra é onde vemos a verdadeira face do ser humano.
Seja pela ótica da Sociologia, da Economia, da His-

tória, ou mesmo das Ciências Militares – minhas
áreas de formação profissional –, sempre busquei
compreender esse fenômeno humano. E é isto que a
guerra é: um fenômeno. Talvez o mais fantástico; e
também o mais macabro. Não há nas linhas desta
coluna espaço para descrever o que é estudar “o
maior dos embates” ou “a política por outros meios”,
como disse o militar do Reino da Prússia, Clausewitz,
mas há para uma ref lexão: a guerra mostra a verda-
deira face dos indivíduos. Seja no calor do campo de
batalha, seja nas dificuldades às quais os civis são
submetidos, na guerra é quando o lado bom e o lado
mau dos seres humanos se mostram.
Podemos usar a teoria da “banalidade do mal” da
filósofa de origem judaica,
Hannah Arendt, para expli-
car o que leva pessoas apa-
rentemente inofensivas a
cometerem as maiores bru-
talidades, quando expostas
a certas situações. Ou, ain-
da, podemos falar em “dar
poder ao homem para des-
cobrir quem ele é”, como
disse o filósofo f lorentino Nicolau Maquiavel. Em
qual outra situação é possível compreender ou ques-
tionar ainda mais a natureza humana do que quan-
do exposta aos maiores desafios? Desafios estes que
só uma guerra é capaz de apresentar.
Guerras começam e terminam da mesma manei-
ra: disputas mal resolvidas, que desandam para a
violência generalizada, causando sofrimento até que
os seres sejam forçados a, como em Compiègne,
sentar e negociar seu desenlace. É utópico pensar,
como o atual mundo complexo em que vivemos
mostra, que as guerras tenham chegado ao seu fim
definitivo. Mas é justo e correto dizer que, apesar de
tantas razões que levam os seres à beligerância, “o
homem faz a guerra para poder celebrar a paz”.

Na guerra é onde vemos
a verdadeira face do ser
humano, seja no campo de
batalha ou nas diculdades às
quais os civis são submetidos

COLUNA RICARDO LOBATO


RICARDO LOBATO É SOCIÓLOGO E MESTRE EM ECONOMIA, OFICIAL DA RESERVA DO EXÉRCITO BRASILEIRO E CONSULTOR-


CHEFE DE POLÍTICA E ESTRATÉGIA DA EQUILIBRIUM – CONSULTORIA, ASSESSORIA E PESQUISA @EQUILIBRIUM_CAP


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