Valor Econômico (2020-03-21, 22 e 23)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 3 da edição"23/03/20201a CADB" ---- Impressa por ccassianoàs 22/03/2020@20:06:0 8


Sábado,domingoesegunda-feira, 21, 22 e23demarçode 2020| Valor|B


Empresas


|
Infraestrutura

IMPACTOSDO


CORONAVÍRUS


Fonte:ONS.* Estimativa

CaixaD'água
Níveldos reservatórioshidrelétricosdo país,em %

Norte

0

25

50

75

100

66,65 70,

21

67,

31/Mar
2019

30/Abr
2019

30/Nov
2019

19/Mar
2020

31/Mar
2020*

31/Mar
2019

30/Abr
2019

30/Nov
2019

19/Mar
2020

31/Mar
2020*

Sul Sudeste/Centro-Oeste

Nordeste

73,

0

25

50

75

100

52,
57,

33,

71,

31/Mar
2019

30/Abr
2019

30/Nov
2019

19/Mar
2020

31/Mar
2020*

80

0

25

50

75

100

39,9 45,

18,

47,4 50,

31/Mar
2019

30/Abr
2019

30/Nov
2019

19/Mar
2020

31/Mar
2020*

0

25

50

75

100

46,1843,
35,

(^18) 16,
.
Transporte de
cargas sente os
primeiros efeitos
SILVIAZAMBONI/VALOR
Lopes,sócio-diretor da RolandBerger:“As medidasdo governo não diminuem o tamanhoda conta, apenas postergam”
Logística
De São Paulo
Acriseprovocadapelocorona-
vírusjá começouaprovocar gar-
galosno transporte de carga no
Brasil.Os primeiros sintomasda
crise surgiramao longoda sema-
na passada,com a dificuldadede
caminhões para atravessarem
fronteiras(internacionaiseentre
algunsEstados)epara entregar
produtosalojas, que foramen-
contradasfechadas.
O maior temor é que, com o
agravamento da epidemia, medi-
dasderestriçãopassemaimpedir
entregas,oque poderialevar a
um desabastecimento. Hoje, po-
rém, esse cenário não está no ra-
dar,segundoastransportadoras.
A atuaçãodo governo federal
temsidoessencialparagarantira
circulação, afirmaCésar Meire-
les, presidente da Associação
Brasileirade OperadoresLogísti-
co (Abol), que reúne 32 dos
maioresoperadoresdosetor.
O Ministériode Infraestrutura
se reuniu,na noitede sexta,com
representantesde todosos Esta-
dos paradiscutirasituação.A
garantiade livrecirculaçãoda
cargafoi um dos principais con-
sensosna discussão,segundoa
pasta.O governotambémacor-
dou, com concessionáriasde ro-
dovias,a suspensãoda pesagem
dos caminhõespor 90 dias,para
agilizaro trânsito.
A União tambémtem atuado
para resolver bloqueios decami-
nhõesemfronteirasestaduais,se-
gundo Meireles. Empresas regis-
traramcasos do gênero no Rio de
Janeiro,SantaCatarinaeCeará.
As companhias também têm
encontrado problemasparache-
gar a países da América Latina —
embora, em tese, o fechamento de
fronteiras no continente não se
apliqueaotransportedecargas.
ABBM Logísticateve proble-
mas na Argentinaeno Uruguai.
Acompanhiatem buscadoacio-
nar caminhõesnos paísesvizi-
nhosparagarantira entregada
carga, segundo André Prado,
presidentedogrupo.
Outroentrave enfrentadope-
la transportadorana últimase-
manafoi o fechamentode lojas,
o que impediuentregas. Houve
casosnos Estadosdo Rio de Ja-
neiroede SantaCatarina, mas a
expectativa é que passea ser
maiscomum,dianteda suspen-
são do varejonão essencialem
outrosEstados do país.
“A partir do momentoque sa-
bemosque a carganão será en-
tregue,ocaminhãonemdeverá
sair. Entãoa previsãoé que, no
varejonão essencial,ofluxo seja
interrompidodaquiparafren-
te”, afirmaPrado.
A quedana movimentaçãoé
certa,segundo as empresas,mas
aindanão foi significativa até
agora.Por enquanto,aavaliação
é que a retraçãovirá juntoda
quedana produção,principal-
menteem setoresnão essenciais
–de eletrônicos,vestuárioetc.
Segmentos como embalagens,
alimentose medicamentosnão
deverãosofrertanto.
“Aindaé cedoparamensurar
a retração, mas haverá impacto.
A logísticaacompanhaa econo-
mia”, afirmaMeireles.
O escoamento de grãospela
malhaferroviária da Rumotam-
bémnão foi afetadode forma
significativaaté o momento, se-
gundoa companhia,que disse,
em nota,que aindairia acompa-
nharde pertoos desdobramen-
tos da crise.(TH)
Menorconsumoelevaráreservatórios
Energia
RodrigoPolito
Do Rio
A forte queda esperada da de-
manda de energiadevido ao recuo
econômico causado pela pande-
miadonovocoronavírusdevepro-
porcionar uma recuperação estru-
turaldosreservatóriosdashidrelé-
tricasdopaís,deacordocom espe-
cialistas ouvidos peloValor. Outro
efeitoprevisto por eles é apossibi-
lidade de manutenção da bandei-
ra tarifária verde (semaumento na
conta de luz) durantetodo o ano,
porcausadoconsumomaisfraco.
Oslagosdasusinasdopaís,que
já apresentam sinais de melhora
por causa das chuvas intensas
ocorridas em fevereiro, deverão
registrar omelhor nível de arma-
zenamento no fim do período se-
co,emnovembro,desde2011.
De acordo com cálculos da co-
mercializadora Trinity Energia,
considerandoum volume de chu-
vas de 90% do histórico para o pe-
ríodo, os reservatórios do subsiste-
ma Sudeste/Centro-Oeste,que res-
pondempor70%dacapacidadede
acumulação de águapara geração
de energia do país, devemchegar
aofimdoperíodosecocom45%da
capacidade. Considerando um vo-
lumede chuva na média histórica,
onívelpode chegara49%. Para
efeito de comparação,os reserva-
tóriosdasduasregiõeschegarama
18,9%emigualperíodode2019.
Segundo Paulo Mayon, consul-
tor, professor da FIA USP econse-
lheirodeempresas do setor elétri-
co, apenas a reduçãoda carga po-
de responderpor uma elevação de
7 pontos percentuais dos reserva-
tórios do país. As contas conside-
ram uma redução de 4 mil me-
gawatts(MW) médiosdo consu-
monospróximostrêsmeseseuma
queda de 2,3 mil MW médios nos
mesesseguintesatéofimdoano.
DeacordocomdadosdoOpera-
dor Nacional do Setor Elétrico
(ONS), os lagosdas hidrelétricas
do Sudeste/Centro-Oeste estão
com nível de estoquede 47,4%. A
previsão do órgão paraofim deste
mês éde 52% de acumulação.An-
tes da crise gerada pela pandemia,
ogovernoesperava que os reserva-
tórios das usinasdas duas regiões
chegassemaofimdeabril,quando
terminao período úmido, na casa
dos45%.Atendênciaéqueessenú-
merosejarevistoparacima.
“Comopassardo tempoeare-
dução da atividadeeconômica
porváriascircunstâncias,decerta
forma teremos umarecuperação
dos reservatórios”, disseopresi-
dente daconsultoria Thymos
Energia, João CarlosMello. A em-
presa estima umaqueda de 5mil
MW médios de carga em março e
abril, fazendo com que os lagos
das usinasdo Sudeste/Centro-
Oestecheguemaofimdoperíodo
úmidocom56,2%dacapacidade.
Mellodisseacreditarque, nes-
se cenário, é possívelque a ban-
deiratarifáriafiqueverde,ouseja
sem custoadicionalna contade
luz,aolongodetodooano.
A opinião dele é compartilhada
por Alexandre Americano,sócio
da consultoria Mercurio Partners.
Segundo ele, adepender da confi-
guração do regimede chuvas, é
possível que abandeira tarifária
seja verde durante todo o inverno,
quando as precipitações dimi-
nuem. Oexecutivo disseainda que
paísesondefoi feito o “lockdown”,
comoItália,EspanhaeFrança,tive-
ramquedadoconsumode20%.
O cenário de queda da deman-
da pode levar auma redução da
geração termelétricano país,po-
rém a fontecontinuará tendo par-
ticipação relevante no sistema, éo
que indica opresidente da con-
sultoria Gas Energy, RivaldoMo-
reira Neto. Oexecutivo lembra,
por exemplo, que os reservatórios
hidrelétricos iniciaram 2012em
níveis confortáveiserapidamente
despencaram, exigindo um gran-
de acionamentode termelétricas.
Oúnicosubsistemaem situa-
çãocrítica hoje é oSul, com 18%
da capacidade. A região, porém,
tem regime hidrológicoinverso
ao do restantedo país,etendea
assistir umarecuperação dosre-
servatóriosno inverno.
ConcessõesContratosantigos,novosefuturoleilãoserãoatingidos
Roland Berger vê risco de
nova crise para aeroportos
Taís Hirata
De São Paulo
Acrise provocadapelo novo
coronavíruscolocaem riscoto-
das as concessõesde aeroportos
do país e poderá levara novos
episódioscomoode Viracopos,
que teve que entrarem recupera-
çãojudicialapósarecessãoeco-
nômicados últimos anos.A ava-
liaçãoé de Gustavo Lopes,sócio-
diretor da consultoria Roland
Bergereumdosmaioresespecia-
listasno setorno país.Para ele, o
pacote de socorrooferecido pelo
governo federalé importante,
masnãoresolveoproblema.
Na última semana, foram
anunciadasmedidas de apoioa
companhias aéreaseaeroportos,
que consistembasicamenteno
adiamento de pagamentosde ta-
rifas,reembolsoseoutorgas.
“O que tem ocorrido no setor
aéreo é um cancelamento de re-
ceita.Quemquercomprarumce-
lular pode comprardepois, mas
no caso de viagens, não. As medi-
das do governo não diminuem o
tamanho da conta, apenaspos-
tergam. Aindaécedo, mas tendo
aachar queserãoinsuficientes”,
afirmaoespecialista.
Na visãode Lopes,os aeropor-
tosvãosofrerduasvezes:alémda
queda bruscade passageiros, as
concessões deverão enfrentar
atrasosnospagamentos.
Isso porqueas tarifasde em-
barque,que representamao me-
nos50%dofaturamentodascon-
cessões,são cobradaspelascom-
panhias aéreas. Esse repassenão
é imediato—normalmente, já
existeumademora de cercade
30 dias.Comacrise das empre-
sas,ohiatotendeaaumentar.
Oimpacto do coronavírus
chega ao Brasil no momentoem
que osetor de aeroportosinicia-
va umarecuperação,após anos
de incertezaprovocados pela re-
centecrise econômicabrasileira,
que aindadeixamarcas.
Atualmente, sem umasolução
efetiva, nenhumaconcessionária
deverá ficar imune àcriseque co-
meçaagora,afirmaoespecialista.
Entreos aeroportos que vive-
ram dificuldades nos últimos
anosestá o Galeão, no Rio de Ja-
neiro. A concessionáriafez uma
renegociação em 2017, esó terá
que voltara pagaroutorgas ao
governo em 2023. Apesar do alí-
vio,ogrupo aindatem umadívi-
da relevante a quitar, avalia Lopes.
Há aindado casode Guaru-
lhos,controladopela Invepar. A
concessionária tem conseguido
pagarsuasoutorgas,mascom
atrasos.“Comaperdadereceitas,
asituaçãoficamaisdifícil.”
Acrise tambémserá dura para
as concessõesda quintarodada,
que foi leiloadaem 2019, já sob
novasregrascontratuais,mais
favoráveisaosetorprivado.
A concorrência incluiu três
blocos regionais: no Nordeste
(arrematadopela espanholaAe-
na, que fez sua estreiano Brasil);
no Centro-Oeste(queficoucom
as empresasbrasileirasde trans-
porterodoviárioSocicameSi-
nart);enoSudeste(dogruposuí-
çoZurichAirport).
“Asconcessionáriasacabamde
assumire, já no primeiroano,
tem umacatástrofe dessas.Ima-
ginacomonão fica o planode
negócios das empresas.A con-
cessãojácomeçamal”,afirma.
O impactodeveráatingir tam-
bémo leilãoda sextarodadade
aeroportos, que está marcado
para o fim de 2020e tambémin-
clui três blocosregionais(no Sul,
NorteeregiãoCentral).
“Os estudos de viabilidade já fo-
ram publicadoscom base em pre-
missas que hojeestãoerradas”,
afirma. “Nãonecessariamente im-
pediráoleilão,maspodeafetar”
Outro problemaque deverá
afetaro leilãoéacrise vividape-
los própriosinvestidores—tanto
os operadoresque já estãono
Brasilquantoosestrangeirosque
avaliamentrarnopaís.
“Na crisede 2015, 2016, o pro-
blema era no Brasil. Vieram as es-
trangeiras e entraram no país.
Agora,comumacrisetambémno
mercado global,provavelmente
ointeressevaidiminuir”, avalia.
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