- Acreditamos em si
garem da Zâmbia com morteiros cento e vinte, canhões sem recuo, instrutores russos
segundo a polícia política, uns prisioneiros, trazidos na véspera, sentados na terra à
espera, as camionetas que foram busca água ao rio a voltarem, os dois helicópteros na
pista, o rio Cambo depois das árvores com a jangada de o atravessar na margem, a jiboia
que sufocou ao tentar engolir uma cabra, com as patas de trás penduradas na boca, a
minha nora para mim - Não trouxe nada que preste de Angola?
e a mão da minha mulher de repente sobre a minha sem que eu desse conta porque
tão suave, tão - Dá-me licença que a acompanhe?
magra e eu contente palavra, eu contente, eu - Posso tratá-la por tu?
a minha mulher, ainda não minha mulher, sem responder, de olhos baixos, tão
tímida, o cabelo dela castanho, não preto, pensava-se que preto, olhava-se melhor e
castanho, uma veia a latir no pescoço, as solas evitando pisar os riscos que separavam
os blocos da berma do passeio o que ainda hoje te acontece, passos longos, passos
curtos, a pergunta inquieta de vez em quando - Não pisei pois não?
eu que nem sequer tinha reparado se pisou ou não pisou - Claro que não
isto mesmo à saída do médico, isto mesmo ontem ao virmos para a aldeia, o carro a
vinte ou trinta metros da porta e tu mais lenta que o costume, apoiada com força no
meu braço, tu cansada - Não faço muito peso?
e não fazias muito peso porque não pesavas muito já, porque as pedras do rim se
tornavam a pouco e pouco mais leves que a água, os restantes alferes ao notarem-me
os galões novos em folha - Meu capitão
o primeiro sargento - Meu capitão
os furriéis - Meu capitão
as praças - Meu capitão
o milho que restolhava o arame - Capitão capitão
a minha nora encantada - Senhor capitão
e apesar de tudo isto um arrepio esquisito ao ver o porco a comer no chiqueiro e a
suspender-se de súbito com uma espécie de lágrima nas pestanas transparentes.
carla scalaejcves
(Carla ScalaEjcveS)
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