preocupações também mas nada de grave claro, com as crianças, graças a Deus, quase
nunca grave, as febrezitas do costume, as infecçõezitas do costume, as quedas do
costume em que geralmente não partem nada, uma nora amiga e atenta, talvez que a
sua filha, quem sabe, um cavalheiro em condições que os sossegue a todos, ainda há
homens assim, come depressa essa pedra nova porco, não esqueças essa pedra, o
empregado da oficina trouxe o automóvel para a vila e a garantia que o pneu chega
amanhã, pelo menos foi essa a resposta do representante na cidade, amanhã, o mais
tardar a seguir ao almoço mas amanhã de certeza, para além do pneu uma revisãozeca
ao motor é evidente, que não se perde nada, há sempre uma peça que necessita de um
apertãozito, máquinas são máquinas e o tempo, é lógico, vai gastando o metal da
mesma maneira que não se tem dezoito anos toda a vida, aparecem os trinta, os
quarenta e por aí fora, não ficamos sempre meninos, lá que era bom era mas a vida tem
as suas regras por vezes impiedosas, cruéis, que infelizmente não dependem de nós,
temos de aceitá-las, fazer o possível para tirar o melhor partido das contrariedades e aí
trata-se de uma questão de engenho e trabalho, de espírito positivo também, que
importante o espírito positivo, não nos deixarmos abater, acreditarmos sempre que
como diz o povo, e é bem verdade, a sabedoria não se engana, melhores dias virão, por
exemplo para si, minha senhora, começam já, houve uma maçada nos rins mas com
trabalho e paciência resolveu-se a questão e ali está, Deus nos livre disso, pronta para
outra, isto foi a brincar perdoe, ninguém normal reza pela infelicidade seja de quem for,
desejo saúde e paz a todos e agora a senhora encontra-se, felizmente, no limiar de tudo
isso com anos, sei lá quantos mas espero que muitos, à sua frente ainda que esse sorriso
e essas cores não enganem, não se deixe abater que não tem razão nenhuma para tal e
a minha mãe a escutá-lo calada como a enfermeira escutava calada, como o meu pai e
eu escutávamos calados, como o porco a comer calado, voltamos para Lisboa amanhã,
não sei se voltamos para Lisboa amanhã, talvez alguns de nós, não o meu pai, não eu,
voltem para Lisboa amanhã, não a minha irmã talvez, é um suponhamos, a ocupar
sozinha a casa da aldeia vazia, o quarto dos meus pais, os outros dois quartitos, a sala, a
horta, a nespereira, os cheiros antigos, o bolor das paredes, o relento do meu avô, da
cadela, a minha irmã
- Só queria ver-te adeus
acocorada no murito, nem era preciso chegar do emprego, via-me dali a carimbar
papéis, Sua Excelência para mim - Se nos fôssemos embora agora talvez tu
de olhos cheios de medo mas medo de quê e a calar-se de súbito enquanto iam
trazendo as celhas para a cave, porquê medo das coisas, porquê medo do sangue de um
bicho, não pares de comer porco, de engordar como o meu pai, não pares de me fitar
assim, um dos furriéis para o cabo cripto - Se tocas no miúdo o alferes mata-te
o alferes, aiué, a bater a mata com o pelotão dele, a tropeçar numa calache, numa
metralhadora ligeira já sem munições, numa mulher fardada de barriga para cima na
erva, de pernas todas traçadas, um mulato, ainda vivo, a olhá-lo, procurando uma
pistolazita com os dedos vagarosos, cegos, o meu pai colocou-lha na mão - Dispara