de chouriço, isto tudo em silêncio, sobre um resto de cobertor ou um pedaço de manta,
uma delas
- Catraio
e eu parado a olhá-la, nunca vi pés tão grandes, nunca vi mãos tão grandes, peitos
vazios como em África sobre as costelas magras, quatro ou cinco mulheres todas elas
grisalhas, os leprosos no rio, quietos sob os tiros, um furriel para os soldados - Não gastem o gasóleo com eles
mas já ardiam também até que por fim os unimogues partiram mato fora, o porco
sozinho num cercado a comer um balde de sopas de vinho, a prima que tratava do jazigo
a conversar com a minha irmã parada junto ao muro olhando para mim, não para o meu
pai, para mim, a minha mãe sozinha em casa - Amor
que é quando as palavras não ditas se tornam tão claras mas - Amor
por quem, o meu pai para mim - Já viste um porco deste tamanho?
com uma das orelhas pendente e a outra viva, alerta, moscas no lombo dele, no
pescoço, enquanto devorava as próprias fezes de mistura com restos, falhou uma
lagartixa na parede, não falhou um grilo, a mulher para mim - Chega-te aqui catraio
e tão escuro lá dentro, roupa no chão, desperdícios, uma ocasião o meu pai
encontrou uma das mulheres enforcada num olmo a fitá-lo, ainda talvez lá esteja no
lado norte da serra onde o meu pai se recusou sempre a ir no medo que uma voz a
baloiçar de uma árvore - Catraio
e oxalá o porco que ia matar amanhã a tivesse comido, eu ao colo do meu pai, num
unimogue da tropa, a afastarmo-nos do quimbo, cada vez menos trilhos, uma ou outra
cerca em ruína, uma vivenda a que faltavam colunas, uma cabeça de leopardo, por um
segundo apenas, a espreitar do capim e portanto uma palanca perdida a trotar por ali,
Sua Excelência num banquinho na horta a esfregar creme nos braços, o meu pai a ajudar
a minha mãe até ao sofá da sala - Não te estou a cansar?
a colocar-lhe uma almofada nas costas e a endireitar-lhe a espinha, não de camisa de
renda, com um roupão já no fio e sapatos antigos de cordões desatados, desses de verniz
dos casamentos, isto é a minha mãe que não era minha mãe com mãos pálidas, magras,
os punhos fininhos, a aliança no médio, os olhos desinteressados da gente vogando ao
acaso na gaiola das pálpebras, perto do muro deu-me ideia de um gineto a desaparecer
nas moitas não mencionando os raposos vigiando imóveis os coelhos pequenos que se
alimentavam mais de medo que de ervas, a preta que dantes me carregava às costas e
me entregava o peito vazio desistindo de fugir da tropa, imóvel, e o dedo de um soldado,
de repente sem coragem, a vacilar no gatilho, foi alguém por trás dele, acho que um
cabo, acho que um furriel, acho que um alferes, acho que o meu pai, a derrubá-la por
fim, a puxar a faca do cinto e a ajoelhar-se, lembro-me agora da lâmina, lembro-me do
sangue mas podia ser de uma cabra, de um cabíri, de um galo, tudo tão remoto, tão