quase igual a nós, quase da nossa família de fato, o meu pai a fingir que não percebia
e a minha mãe a bordar mais depressa, a prima que tratava do nosso jazigo a fitar-nos
vinda de conversas secretas com os mortos, o meu irmão para mim
- Tu
o meu irmão para mim
A gente
e depois o automóvel, e depois a tua morte, e depois eu para a minha mulher - Dá-me licença que a acompanhe?
e a minha mulher primeiro espantada, depois séria, depois a sorrir - Talvez
a minha mulher - Sim
e eu ao seu lado, aflitíssimo, torto, feliz, a pensar - O que é que digo agora?
e sem dizer nada, só feliz, desculpem ter-vos esquecido, só feliz ou então talvez não
tenha esquecido, vocês vinham comigo, a minha mãe para o meu pai - Pelo menos dão-se bem os três
e de fato dávamo-nos bem os três, quer dizer não sei se nos dávamos bem, dávamo-
nos os três e agora a minha filha e eu sozinhos enquanto o porco come a lembrança do
meu irmão até eu o esquecer, fica o meu filho a olhar-me, a escolher a faca, a mostrar-
ma fingindo não ma mostrar, o meu filho para mim - Você
não zangado comigo, não a detestar-me, tão tenso quanto eu, tão sereno quanto eu,
tão decidido quanto eu, a explicar-me sem as palavras - Eu não queria eu não queria palavra de honra que eu não queria
conforme eu não queria a mulher dos anéis na pensão e, no entanto, tive-a, voltei ao
bar e tive-a, entrou comigo no quarto a perguntar - Afinal queres?
e não era que quisesse mas queria, não era que me apetecesse mas apetecia, ao
perguntar-me - Como é que te dá jeito que eu te trate?
respondi-lhe - Por amor
ela a olhar-me de banda desconfiando que eu estivesse a brincar e não estava a
brincar - Por amor
ela enquanto se despia - Não é que me custe assim tanto mas pagas um bocado mais pelo amor
acrescentando - Consoante pagas mais se houver beijos
sem que eu adivinhasse o que seria mais caro, os beijos ou o amor, a minha mãe
oferecia-me isso tudo de graça - Mas eu não sou tua mãe