não bem uma pergunta, uma procura zangada como se a lata do café, uma antiga
caixa de bolachas meio oxidada e com gravuras de caça lhe pertencesse, eu, na dúvida
se lhe pertencia de fato, procurando em torno sem dar por ela, já vagamente culpado
que estranho, a minha nora um modo de falar sem pontos de interrogação que me
punha em sentido e depois alta, agressiva, de olhinho duro que não sorria, julgava, tão
diferente da minha mulher toda pedidos de desculpa e com licenças tímidos
- Fêmea de estribos altos
como diria o meu pai se o aneurisma não tivesse feito o seu trabalho - Fêmea de estribos altos
e depois uns caracolinhos na nuca, sob o cabelo comprido, a que qualquer homem é
sensível, mesmo que tente resistir firme os caracóis, com aquele não sei quê deles,
amolecem-no, se por exemplo a minha mulher conosco, e apesar das pedras, bastava-
lhe um soslaio para mim e entendia, felizmente os ramos da nespereira sempre me
escondiam um bocado mas dava a impressão que os meus dedos folhas também, ora
iluminados ora na sombra a vibrarem como os dos presos obrigados a abrirem a cova
pelo chefe de brigada da polícia política e acocorarem-se lá dentro à espera da bala, o
doutor no círculo de cadeiras do hospital - Não pode ser verdade
e tem razão amigo, não pode ser verdade mas aconteceu, quer que, a minha nora,
quer que lhe diga o sítio, quer que lhe diga o dia, duas filas de formigas, uma ascendente
e a outra descendente, desde o chão da cozinha ao parapeito da janela por onde a
nespereira entrou, além da nespereira o cemitério, a serra na qual garantiam que
ginetos, raposas, a minha mulher ainda deitada, de sobrancelhas no teto - Estava para aqui a pensar na minha mãe
com o casaco da borboleta, desde que o médico o elogiou, não no guarda-fato, nas
costas de uma cadeira como um troféu para que ela pudesse de vez em quando
orgulhar-se dele, em certas coisas não cresceste que bom, continuas menina, há alturas,
palavra de honra, em que me apetece dar um beijo na tua forma de olhar, na
simplicidade da tua alegria quando conseguias apagar de um sopro as velas todas do
bolo de anos batendo palmas a ti mesma, feliz, e eu a abraçar a garota que ainda eras
tão orgulhoso de ti, se não te importas volta a chamar-me amor tem paciência, volta a
chamar-me querido, onde para a camisa da primeira noite que a tua - Estava para aqui a pensar na minha mãe
te deu, não me apetece que me ensinem a máquina de lavar roupa nem o
esquentador nem o lugar dos objetos, apetece-me ficar feliz com a maneira como lidas
com essas complicações esquisitas eu que só sei puxar os pesos do relógio de cuco e
maravilhar-me com o teu modo de orientar o mundo, o chefe de brigada para mim a
guardar a pistola no coldre, no tom de quem revela evidências - A erva daninha arranca-se senhor alferes
maravilhar-me com o teu modo de orientar o mundo, a minha nora para mim - O seu filho
e a calar-se de súbito encolhendo os ombros e a acenar que não com a cabeça, o meu
filho que passados três meses de estar comigo, ainda em África portanto, me disse pela
primeira vez, de súbito