crescia a nespereira de novo e nós, na cozinha, sem nos podermos esconder uns dos
outros, olhando-nos como os mabecos, de uma forma que nos assustava, se por acaso
me demorava, às voltas com um ficheiro, dava por ela mesmo atrás de mim a arrumar
secretárias ou a lutar de gatas contra uma nódoa no soalho, aparecia, não vinha,
desaparecia, não se afastava, em nenhuma ocasião lhe escutei, creio que ninguém
escutou, a voz ou os passos conforme quase não me recordo de escutar a mulher sem
mãos que tentava encher-me a boca com o peito vazio, conforme não me recordo do
som das ervas em África, ainda agora o que escuto é o porco de amanhã a comer, a
comer, a mulher e o homem que morava com ela, acocorado num banquito raspando
uma a uma com um bocado de pau as matacanhas dos pés, uma tarde demorei-me mais
com um processo, isto pouco antes das luzes se acenderem na rua, quando as tipuanas
principiam a não ser à espera da noite, ou antes demorei-me de propósito com um
processo procurando-o nas gavetas erradas e aposto que Sua Excelência em casa no sofá
à conversa com a amiga, volta e meia uma delas
- Que má
a poisar a cara no ombro da sócia - Que má
a respirar-lhe contra o pescoço e depois uma nuca a endireitar-se envergonhada e a
regressar ao ombro de novo - Que mazona
de palma num joelho que não era o seu, de palma numa coxa, a coxa a protestar - Aí não faz-me cócegas
enquanto o porco debruçado para um alguidar de alumínio, depois de Angola o meu
pai que eu visse não tornou a beber, comia, comia e portanto os furriéis não - Com certeza meu alferes
calados, Sua Excelência para a partenére - Marota
Sua Excelência para a partenére - Grande marota
ao mesmo tempo que um indicador lhe percorria de leve o perfil desenhando-o
devagarinho no ar e os lábios poisavam num sinalzito no ângulo do queixo - Tão doce
a cabo-verdiana nem pio, quietinha, de gatas diante da nódoa como o porco diante
do alguidar a comer, se eu lhe percorresse o perfil desenhando-o no ar e os lábios
poisassem num sinalzito no ângulo do queixo - Tão doce
a cabo-verdiana sem perfume claro, sem pintura, mal penteada, pobre, de roupa a
cheirar a suor, a muita gente, a refogado, a pouco dinheiro, a mênstruo, a barrela e
portanto em lugar do indicador perfil adiante, em lugar dos lábios num sinalzito no
ângulo do queixo, amarrar-lhe as patas traseiras, pendurá-la num gancho, apanhar ao
acaso uma das facas e espetá-la depressa, eu major de operações, eu calvo, eu ruivo,
depois de colocar um pé da prisioneira no caixote do armazém do vagomestre ou o pé
da cabo-verdiana num cesto de papéis voltado ao contrário, e agora grita, tu grita, não
te cales como a minha mãe que vai morrer se cala, não aceites como a minha mãe que