A garota do lago

(Carla ScalaEjcveS) #1

Antes de Peter conseguir desbloquear seu celular e ler a mensagem completa,
a porta do vestiário se abriu lentamente. No espelho, Peter viu um policial entrar.
Escondendo-se atrás da fileira de armários, ele se deslocou depressa para a área
de chuveiros sem ser notado. Entrou num boxe, fechou a cortina e ligou a água,
ajustando o jato para longe dele. Ficou parado junto à parede, tentando não ficar
ensopado.
Um minuto se passou.
— Dr. Ambrose? — o policial chamou com voz autoritária, perto dos
chuveiros.
Peter baixou um pouco a cabeça.
— Não, sou o dr. Ledger — ele gritou, superando o barulho da torrente de
água. — Ambrose está no pronto-socorro. Algum problema com um paciente?
— Não, doutor. Nenhum problema.
Peter esperou os minutos passarem devagar, até finalmente espreitar através
da cortina. Ao ter certeza de que estava sozinho, saiu do boxe com o chuveiro
ainda ligado. Nos fundos do vestiário, havia um elevador de serviço. Peter
entrou nele e apertou o botão para o subsolo, descendo até as entranhas do
hospital. Ali, abriu a porta metálica sanfonada e desembarcou. Adentrou o
almoxarifado, cheio de materiais de limpeza empilhados em prateleiras.
Esfregões, baldes e enceradeiras industriais se enfileiravam junto às paredes,
assim como recipientes de vinte litros cheios de produtos químicos destinados a
livrar o lugar das inúmeras doenças que poderiam contaminar o hospital.
Depois do almoxarifado, Peter entrou na lavanderia. Lavadoras e secadoras
industriais funcionavam a pleno vapor, lavando e secando lençóis e cobertores.
As toalhas e as roupas brancas se achavam empilhadas em grandes carretas, que
os funcionários empurravam. Ele percebeu mais de um olhar dos funcionários,
que decerto queriam saber o que um médico, usando vestimenta cirúrgica e
jaleco, fazia no subsolo.
Peter seguiu adiante e chegou às docas de entrega de mercadorias. Três
grandes portas de garagem estavam abertas. Uma carreta ocupava uma doca, e
uma empilhadeira tirava caixotes de dentro dela. Na segunda doca, um grande
veículo de carga acabara de chegar e estacionava de marcha a ré, com o sinal de
alerta zumbindo nos ouvidos de Peter. A terceira doca estava livre, e ele
caminhou até a beira e pulou para o asfalto. Tirou o jaleco e o jogou, junto com
seu crachá, numa lixeira. Em seguida, caminhou pelos fundos do hospital e saiu
do terreno. Ao alcançar o lago, pegou a direção sul rumo à cidade. Naquele
momento, longe o suficiente, lançou um olhar para trás. Avistou a frente do
hospital repleta de viaturas policiais estacionadas em ângulos estranhos e com as

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