O Estado de São Paulo (2020-04-01)

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 1 DE ABRIL DE 2020 Especial H7


Maria Fernanda Rodrigues


Mesmo nesses tempos estra-


nhos e atribulados da quarente-


na por causa do coronavírus,


com pais tendo que se desdo-


brar entre o home office, as tare-


fas da casa e o cuidado com as


crianças, e com as próprias


crianças ocupadas com aulas a


distância e tarefas escolares, há


espaço para a introspecção e pa-


ra o autoconhecimento. Mas


não, essa não é uma matéria de


autoajuda.


Em 9 de março de 2013, o Esta-


dinho publicou uma reporta-


gem que incentivava as crian-


ças a escreverem sua autobio-


grafia e que discutia questões


como identidade, mostrando,


ou ajudando, a meninada a des-


cobrir como nos tornamos


quem somos.


“Quem é você? Olhe-se no es-


pelho. Como você é? Com quem


se parece?” Assim começava o


texto, e essas perguntas, o pró-


prio texto admitia, eram fáceis


de serem respondidas. Difícil


mesmo é olhar para dentro e des-


cobrir como somos. “Tímido, ta-


garela, nervoso, calmo, agitado,


organizado, bagunceiro, alegre,


quieto... Que características


compõem a sua personalida-


de?”, continuava. A sugestão era


seguir pensando nos ambientes


frequentados, nas coisas que


mais gostamos de fazer, nos nos-


sos sonhos.


A matéria partia de um proje-


to desenvolvido no colégio San-


to Américo, em São Paulo, no


qual os alunos de cerca de 6


anos escreviam sua história e is-


so tudo virava um livro depois. A


reportagem reproduzia algu-


mas dessas autobiografias.


Giovanna, por exemplo, con-


tou que era loira, risonha e en-


graçada, que adorava rock e não


gostava que a irritassem. Ela de-


morou quatro dias para escre-


ver sobre sua trajetória que já


entrava no sexto ano. Nela, a ga-


rota relembrou o dia em que viu


o mar e também quando saiu


correndo atrás do cachorro que


tinha roubado seu queijo.


João Pedro começou sua auto-


biografia falando dos amigos e


contou uma memória que ele


guardava com carinho e orgulho


travesso: quando escondeu,


com sua turma, todos os doci-


nhos de uma festa.


Maria Clara começou falando


sobre sua família e contou que


gostava muito de animais. Seu


sonho era participar de uma


olimpíada, na modalidade hipis-


mo. O pequeno notívago Ricar-


do contou que ficou sabendo o


que era uma biografia quando


leu uma sobre Jacques Cous-


teau, e achou que podia ser legal


escrever a dele também.


A versão online da matéria,


com o conteúdo completo pu-


blicado no blog do Estadinho , in-


dicava três livros para as crian-


ças lerem antes de se aventura-


rem na escrita de suas biogra-


fias. Eram eles: Alberto – Do So-


nho ao Voo (Scipione), de José


Roberto Luchetti com ilustra-


ções de Angelo Abu; Frida (Co-


sac Naify), de Jonah Winter; e O


Homem Peixe: A História de Jac-


ques Cousteau (Gaia/Global), de


Jennifer Berne e Éric Puybaret.


Os dois últimos estão disponí-


veis apenas em sebos.


Há muitas outras opções de


biografias para os pequenos no


mercado, lançadas mais recente-


mente. Para as crianças maio-


res, adolescentes e pais que qui-


serem conhecer a vida da artista


mexicana, a dica é a graphic no-


vel Frida Kahlo , de María Hesse,


publicada pela L&PM. Para os


menores, Frida Ama Sua Terra –


Uma História Para Conhecer Fri-


da Kahlo (Autêntica), de Silvia


Sirkise Tomi Hadida.


Pensando nos ídolos juvenis


atuais e com versões em e-book


à venda, Malala: A Menina Que


Queria Ir Para a Escola (Compa-


nhia das Letrinhas), de Adriana


Carranca, e A História de Greta


(Sextante), de Valentina Came-


rin, são boas opções de leitura.


Isso sem contar os inúmeros


volumes reunindo várias biogra-


fias, sobretudo de mulheres, co-


mo Histórias de Ninar Para Garo-


tas Rebeldes (V&R), que virou


um best-seller e fez escola, ou As


Cientistas: 50 Mulheres Que Muda-


ram o Mundo (Blucher).


E se a ideia for aliar leitura a


estudo, que tal O Menino Nel-


son Mandela (Melhoramen-


tos), de Viviana Mazza? Tem


em e-book.


Mas de volta à página em bran-


co, ou à tela do


computador.


A matéria do


Estadinho ex-


plicava para


os leitores que


estudos mos-


tram que cer-


ca de metade


de nossas características de


comportamento tem influência


da genética, ou seja, quando nas-


cemos, trazemos informações


vindas dos nossos pais. Mas que


o meio também tem grande in-


fluência na formação de nossa


personalidade.


O texto explica ainda que é


com sete meses que descobri-


mos que existimos e que com 3


anos, perce-


bendo o meio


em que vive-


mos, começa-


mos a distin-


guir o que gos-


tamos. Por


fim, diz que na


infância fun-


cionamos como uma espécie de


esponja que pode absorver os va-


lores passados pelos nossos


pais e ainda as coisas que aconte-


cem com a gente – e que é assim


que, aos poucos, nos tornamos


quem somos.


Por onde começar. As profes-


soras que acompanharam os alu-


nos do Santo Américo naquele


março de 2013, Patrícia Diniz


Oliveira e Camila Assumpção


Goulart, deram dicas para a re-


portagem sobre como começar


a escrever uma biografia.


A primeira sugestão foi: con-


verse com seus amigos e peça


que eles contem como acham


que você é, já que visões diferen-


tes nos ajudam a entender mais


sobre nossa personalidade. Ler


biografias e autobiografias de


pessoas famosas também pode


ajudar – a ver, inclusive, como


esse tipo de texto é feito.


A terceira dica é fazer uma en-


trevista com os pais para que


eles ajudem a juntar as peças do


quebra-cabeça da nossa vida,


uma vez que não nos lembramos


dos nossos primeiros anos de vi-


da. Sobre o texto em si, a suges-


tão para quem não sabe como co-


meçar o primeiro parágrafo é es-


colher o simples: escreva qual é


o seu nome, quantos anos tem e


quem são os seus pais. E depois


conte sobre as coisas que gosta


de fazer, lembre dos dias espe-


ciais e dos momentos engraça-


dos. Isso tudo ajuda a compor a


nossa a história, a passar o tem-


po, e a nos conhecermos melhor


nesses dias de isolamento social.


ESTANTE


LER BIOGRAFIAS


TAMBÉM AJUDA


NO NOVO


PROJETO LITERÁRIO


PARA CONHECER


NOSSA HISTÓRIA E


PASSAR O TEMPO


l Greta


Nascida na Suécia em 2003,


a ativista ambiental Greta


Thunberg tem inspirado to-


da uma geração de crianças


e tem sido tema de alguns


livros. ‘A História de Greta’


(Sextante), de Valentina Ca-


merini, foi lançado no País


em novembro de 2019 e é


uma biografia não oficial


LIVRO

Duas ideias de projetos para as crianças fazerem durante a quarentena: escrever a sua biografia e a de seus familiares


Volta no


tempo. Em


março de


2018, o


‘Estadinho’


falava


sobre como


escrever


biografias


l Mandela


‘O Menino Nelson Mandela’


(Melhoramentos), de Vivia-


na Mazza, é uma biografia


romanceada de uma das


mais importantes personali-


dades do mundo. Acompa-


nhamos a trajetória do garo-


to que se tornaria o primei-


ro presidente negro da Áfri-


ca do Sul e Nobel da Paz


Série propõe


diálogo íntimo


entre as famílias


l Frida


Há muitos livros sobre a me-


xicana Frida Kahlo (1907-


1954), e para todas as ida-


des. Um dos lançamentos


mais recentes, para um lei-


tor mais crescido, é ‘Frida


Kahlo’ (L&PM), biografia em


graphic novel que María Hes-


se fez de uma das principais


artistas do século 20


CYNTHIA ORENSZTAJN

Caderno 2


ACERVO ESTADÃO

Dicas*


lQuando a mãe da holandesa


Elma Van Vliet ficou doente, ela


percebeu que conhecia muito


pouco do seu passado. Foi aí que


surgiu Mãe, Me Conta a Sua His-


tória , o primeiro de uma série de


livros que podem ser interessan-


tes também neste momento de


quarentena, Isso porque eles


podem funcionar como um proje-


to para as crianças desenvolve-


rem sobretudo com os avós. Es-


se livro de estreia e os seguintes,


voltados a pais, avôs e avós, fo-


ram publicados pela Sextante.


Os volumes são, na verdade,


cadernos de perguntas que de-


ram origem a outros produtos,


como jogos para famílias, inédi-


tos aqui, e viraram best-seller.


“A demanda e o sucesso de


obras como essas vêm da nossa


necessidade de nos conectar-


mos com as pessoas que são


mais importantes em nossa vi-


da”, disse a autora em entrevista


recente ao ‘Estado’.


Outro livro que pode ser de


grande utilidade neste momento



  • agora pensando em crianças


que estão aprendendo a lidar e a


nomear sentimentos novos e tam-


bém nos pequenos que se anima-


rem a escrever sua biografia – é


o infantil Emocionário: Diga o


Que Você Sente , da espanhola


Cristina Nuñez Pereira com ilus-


trações de vários artistas, tam-


bém publicado pela Sextante. A


ilustração ao lado, da argentina


Cynthia Orensztajn, por exemplo,


acompanha a explicação sobre o


que é irritação. Na obra, que está


disponível também na versão


digital, a autora nomeia mais de


40 emoções. / M.F.R.


l Malala


‘Malala: A Menina Que Que-


ria Ir Para a Escola’ (Compa-


nhia das Letrinhas) é um


misto de livro-reportagem


para crianças com biografia


lançado por Adriana Carran-


ca em 2015. É a história da


paquistanesa que levou um


tiro do Taleban, quase mor-


reu e ganhou o Nobel da Paz

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