passar a própria blusa sobre aqueles olhinhos irritados pelas lágrimas e fazer com
que, finalmente, parassem de chorar.
Mas tanto sacri cio nha um grande porquê. Depois fui informada que
aquela cena intrigante, que à primeira impressão me reme a a algo beirando à
tortura, tratava-se de um exercício chamado padronização.
Enquanto Lucas era atraído por um trenzinho a arrastar-se no chão, Gabriel
estava deitado de bruços na mesa onde receberia o tal procedimento. Uma
senhora segurava sua cabecinha coberta por uma fina penugem dourada e a
exercitava, fazendo com que as maçãs do rosto tocassem o reves mento branco
da mesa, alternadamente. Ao mesmo tempo, em cada lado do bebê havia uma
outra mulher - uma professora e outra voluntária - dividindo igualmente as
mesmas funções. Numa luta covarde, es cavam e contraíam os quatro membros
da criança que, mesmo tendo consciência de sua fragilidade diante dos três
carrascos, con nuava a gritar.
A música agora já me era familiar e só era abafada por uma outra, cantada
pelo coro feminino que repe a os movimentos da padronização. O intuito não era
o de alegrar o ambiente ou distrair o contrariado Gabriel. Era preciso es mular o
cérebro não só com movimentos no corpo mas também através da audição.
O trabalho durou no máximo três minutos, eternos para a criança,
assustadores para o irmão que, ao ser pego no colo e levado para a mesma mesa,
iniciava o lamento prevendo o mesmo cansa vo des no. Gabriel, ainda aos
soluços, foi colocado no chão para arrastar-se, mas ficou está co, deitado sobre as
mãos, ignorando a presença do trenzinho.
Mais três minutos e os dois foram postos lado a lado, sentados sobre o local
ainda molhado de lágrimas, para receber um novo es mulo à oxigenação do
cérebro. Máscaras confeccionadas com um saco plás co transparente e presas
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
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