Pois quem me contou essa história disse que essa é uma história que
termina com cada um de nós. Cada um deve imaginar o que o alfaiate
conseguiu fazer com aquele pedaço tão pequeno de tecido. Isso porque essa é
uma história que serve para nos lembrar que mesmo as coisas muito pequenas,
ainda guardam o seu brilho e o seu valor.
Abusando das repetições, “O alfaiate desatento” é um tipo de história em
tom de anedota, por isso investi em torná-la interativa, divertida. Esse recurso
linguístico é o que lhe dá conteúdo de fato, pois o enredo em si é simplório e não
apresenta um clímax, é linear. Também não é um conto cumulativo, o que
compreenderia a progressão de elementos e ações.
A expressão “não presta atenção em algumas coisas” aparece na
apresentação do personagem e em mais quatro situações, após ele tornar-se rico,
dando assim a explicação para seu declínio na sequência. Também o comentário
dirigido diretamente à plateia em tom de constatação “as pessoas falam, as pessoas
comentam” é dito mais quatro vezes além da primeira que tem função informativa
e prevê a reação negativa dos clientes do alfaiate sobre a sua vestimenta. Nesses
dois casos, nas quatro recorrências das locuções, o público vai entendendo a
dinâmica do jogo da repetição, e passa a memorizá-la e depois pronunciá-la. Para
cada uma, há uma deixa que indica o instante em que a fala será dita. Na primeira,
a frase é construída identicamente nas quatro vezes, então o espectador sabe que
virá após “Mas, ele era o tipo de pessoa que”. No segundo caso, a descrição do
acontecimento na história (o alfaiate saindo às ruas mal vestido) já indica que será
seguido do comentário sobre a reação das pessoas. Ele ainda é instigado de formas
diversas, quando faço expressão facial de lamento e quando proponho com “Vocês
sabem” e “Vocês sabem como são as pessoas”.
Oferecer o estímulo à repetição e incitar a plateia a se pronunciar, com
propriedade pois ela entendeu o exercício, confere tom de parceria na contação. Ela
se sente dentro da história e assume papel de narradora. No caso das crianças isso
fica muito mais evidente pela disposição e ousadia inerente a esta fase da vida. O
adulto responde, em geral, com insegurança e parcimônia pelo medo de errar e de
se expor.
Para que a fórmula da repetição não ocorresse sempre com o mesmo intuito
e coletasse o mesmo tipo de reação, nas passagens referentes ao interesse das