Acho sempre delicado determinar faixa etária indicativa para os
espetáculos. Certamente, no caso de contos com vocabulários mais elaborados e
significados densos, não direcionamos às crianças, mas o caminho inverso creio ser
altamente viável. Os temas dos contos populares são universais e tratam de
humanidade, nos mostram diversidades culturais e de pontos de vista, expandindo
nossa consciência ética e estética. A maioria deles surgiu na coletividade em uma
época em que não havia definição de infância e sua distinção absoluta da vida
adulta. O contato com as crianças por meio da narrativa oral é um jogo de
cumplicidade em que, ao propor a experiência da imaginação, resgata no contador
sua própria infância. Contar histórias para adultos, do mesmo modo, convida a esta
viagem e retoma um hábito esquecido e incomum nesta fase da vida na era da
informação e da imagem. Enquanto conto, assisto a plateia e não há nada mais
bonito do que reparar um adulto com o olhar imerso na narrativa, hipnotizado pelas
palavras, viajando em suas imagens, desarmado de receios e pudores.
Em 2018 “Linhas e Tramas” alavancou de fato, com 20 apresentações em
cidades catarinenses e em São Paulo. Em 2019 tive uma experiência memorável em
Florianópolis, pelo edital da Fundação Cultural. Ocorreu na Casa das Máquinas, um
espaço cultural público que fica na Lagoa da Conceição, onde semanalmente as
rendeiras se reúnem para trabalhar e manter viva a herança do bilro. Na ocasião
recebemos uma turma de escola e, também compondo a plateia e ainda a cena, mais
de 15 senhoras e suas almofadas cilíndricas e coloridas. Foi emocionante narrar ao
som daquelas peças de madeira, celebrando o encontro de duas tradições,
desenvolvendo cada qual a sua trama, com os olhos de algumas divididos entre a
renda e a cena.
A narração artística é um gênero que pressupõe a adaptabilidade para
espaços e situações diversas, porém procura-se manter algumas condições
essenciais, como o mínimo de informações visuais e sonoras externas, o que influi
na imaginação do espectador, muitas vezes rivalizando com o que está sendo
apresentado.
A contação de histórias como linguagem artística está enraizada na arte da
retórica, ou seja, às técnicas empregadas para bem falar com finalidade de
comunicar com eficiência e credibilidade. Esta arte abrange cinco princípios: a
escolha dos conteúdos, a organização deles numa estrutura, a expressão usada para
a locução, a memorização do discurso e a ação (voz e gestos) em consonância com
casulo21 produções
(Casulo21 Produções)
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