O Estado de São Paulo (2020-04-04)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-12:20200404:
A12 Metrópole SÁBADO, 4 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Lorenna Rodrigues / BRASÍLIA


O Ministério da Economia se-
lecionou 80 imóveis da
União, entre eles o Parque
Olímpico do Rio, para a cons-
trução de hospitais de campa-
nha em todo o Brasil. São pré-
dios, terrenos e galpões que
estão sem uso, muitos na lis-
ta para serem vendidos.

Com a pandemia, o governo
suspendeu as licitações e repas-
sou a lista ao ministérios da De-
fesa e da Saúde, que serão os res-
ponsáveis pela vistoria das
áreas e construção dos hospi-
tais. Isso será feito segundo a
demanda de cada região, na me-
dida em que a doença avance e a
necessidade de leitos aumente.
“Precisamos ter alternativas
para a possibilidade de o siste-
ma público de saúde colapsar.
Existem diferentes cenários,
quanto mais subir a curva (de
infectados)
, mais necessidade
de atendimento. Nesse senti-
do, o governo já está com a área
mapeada”, explica o secretário
de Coordenação do Patrimônio
da União do Ministério da Eco-
nomia, Fernando Bispo.
Foram reservados espaços
nos 27 Estados. Na lista, há de
prédios históricos a grandes ter-
renos, como as áreas do Pátio
do Pari, com 120 mil m², onde
funcionava a Feira da Madruga-
da, e o Pátio ferroviário de Piri-
tuba, com 31,6 mil m², ambos
em São Paulo. No Rio, foram se-
lecionadas as instalações do Par-
que Olímpico da Barra – onde
foram disputadas as competi-
ções na Olimpíada de 2016 – , o
Edifício A Noite (na Praça
Mauá), que na época de sua inau-
guração, em 1930, chegou a ser
considerado o mais alto do mun-
do em concreto armado, e uma
área da Quinta da Boa Vista, um
parque em São Cristóvão.
Três estádios também estão
no grupo: em Curitiba (PR), o
Estádio do Paraná Clube (Vila
Capanema), em Teresina (PI) o
Estádio Rei Pelé (Trapichão) e o
Estádio de Futebol Aluízio Fer-
reira (Aluizão), em Porto Velho
(Rondônia). As arenas estão em
áreas da União cedidas aos clu-
bes. No caso de Curitiba, a área
já foi avocada para ficar na reser-
va em caso de necessidade.


Segundo Bispo, a ideia é que,
nas áreas abertas, sejam cons-
truídas estruturas temporárias,
como a que está sendo feita no
Estádio do Pacaembu, em São
Paulo. Já prédios e outras cons-
truções podem passar por refor-
mas e adaptações e serem apro-
veitados como hospitais.
A intenção foi escolher duas
áreas em cada grande centro,
uma para a triagem e outra para

internações, que tenham fácil
acesso e proximidade com hos-
pitais e centros de saúde já exis-
tentes. Foram reservados espa-
ços em todas as capitais e em
grandes centros.
Com o maior número de ca-
sos, o Estado de São Paulo é tam-
bém o que possui mais espaços
à disposição. São quatro áreas
na capital e 16 no interior. Em
São Paulo, os locais estão em
um cinturão na região central:
além dos dois terrenos há ainda
uma antiga escola na região Sul,
na área de Interlagos e da repre-
sa Billings, e um sítio com 189
mil m² na Anhanguera,
No interior, foram seleciona-
das áreas em Campinas, Bauru
e Mogi das Cruzes. Também fo-
ram reservados antigos galpões
do Instituto Brasileiro do Café
pelo País, foram selecionados

galpões e um edifício da Empre-
sa Brasileira de Pesquisa Agro-
pecuária (Embrapa), em Goiás,
e até um clube de servidores, no
Distrito Federal. Na Bahia, um
antigo prédio do Dnit, em Salva-
dor está na lista, assim como o
Edifício da Sudene, em Recife
(PE). No Maranhão, um campo
de futebol com 5,9 mil km² foi
reservado em Imperatriz. Na
Região Norte, foram listados es-
paços como o Armazém Cen-
tral, em Manaus (AM), e um gi-
násio em Porto Velho (RO).
De acordo com o secretário,
novas áreas poderão ser selecio-
nadas, à medida em que a pande-
mia avance. O Ministério da De-
fesa começou agora a vistoria
dos imóveis. Em Roraima, um
hospital de campanha em área
da União já está em fase final de
construção pelo Exército.

Camila Tuchlinski


Desde que o novo coronavírus
saiu da China, no início do
ano, a Santa Casa de Misericór-
dia de São Paulo monitora a
disseminação da doença. Por
ser um hospital de ‘portas
abertas’, ou seja, sem a necessi-
dade de que o paciente passe
em outra unidade de saúde an-
tes, a preocupação de haver
uma corrida em busca de aten-
dimento por infectados pela
covid-19 só aumentava, como


conta o provedor da Santa Ca-
sa, Antonio Penteado Mendon-
ça.
“Desde quando esta epide-
mia se espalhou pelo mundo
saindo da China, nós estabele-
cemos contato com as secreta-
rias de saúde do Estado e muni-
cípio de São Paulo porque so-
mos um dos principais hospi-
tais de atendimento do SUS na
região metropolitana. Quem
entra na Santa Casa é atendi-
do. Ao contrário do que acon-
tece no Hospital das Clínicas,
onde a pessoa antes de entrar
no pronto-socorro, a não ser
que seja acidente, tem que pas-
sar em uma unidade de atendi-
mento de saúde específica pa-
ra determinar se é caso de in-
ternação, para nós não tem is-
so. A pessoa chega e entra”, ex-

plica.
Quando a covid-19 chegou
ao Brasil, a Santa Casa imedia-
tamente destinou 10 vagas de
UTI especialmente para pa-
cientes com a doença. “Nós
montamos tendas para aten-
der esse pessoal. Mas os casos
que têm nos procurado são gra-
ves e estão demandando UTI.
Este é um quadro muito sério.
E nós não temos no País intei-
ro um número grande de UTIs
quanto a pandemia pode vir a
exigir da população”, avalia.
Neste momento, a institui-
ção tem um projeto para mais
80 leitos de UTI no hospital de
Santa Cecília (centro de São
Paulo) e um projeto, se preci-
sar complementar, para mais
150 UTIs específicas para o
combate ao novo coronavírus

tanto na unidade central quan-
to no hospital Santa Isabel.
Além disso, a Santa Casa
tem uma parceria com a prefei-

tura de São Paulo, na zona Nor-
te, no bairro do Jaçanã. Lá, no
Hospital São Luiz Gonzaga,
mais 100 leitos foram disponi-
bilizados para os pacientes
com coronavírus e até 150 lei-
tos no Hospital Dom Pedro Se-
gundo, na mesma região.
Hoje, a Santa Casa tem capa-
cidade para pouco mais de mil
leitos para qualquer tipo de in-
ternação. Apesar de se prepara-
rem antecipadamente, a velo-
cidade com que a doença está
se disseminando no Brasil cha-
ma atenção de Antonio Pentea-
do Mendonça, provedor da ins-
tituição há três anos.
“No fim da semana passada,
nós tínhamos duas pessoas in-
ternadas na UTI da Santa Ca-
sa pelo coronavírus. Hoje, nós
já temos perto de 20. E, no
Hospital Santa Isabel, nós tí-
nhamos cinco pacientes. Hoje
estamos perto de 11. É um
avanço muito rápido em rela-
ção ao que vinha acontecen-
do”, contabiliza.
Nesta terça-feira, 31, o Ban-

co Safra doou R$ 650 mil para a
compra de aventais para os pro-
fissionais de saúde do local.
Apesar disso, a Santa Casa ain-
da precisa de recursos para am-
pliar o atendimento. “A epide-
mia é, sem dúvida nenhuma,
extremamente séria. É olhar
para o que aconteceu com a
China, a Itália, a Espanha e,
principalmente com os Esta-
dos Unidos, para não ter ne-
nhuma dúvida que nós vamos
enfrentar um momento extre-
mamente complicado na saú-
de pública brasileira”, prevê
Antonio Penteado Mendonça.
Ele agradeceu o empenho
dos sete mil profissionais de
saúde que atuam na Santa Ca-
sa de Misericórdia, os grandes
empresários que estão fazen-
do doações e, sobretudo, a so-
ciedade. “Tem muita gente
grande ajudando, mas o princi-
pal é que a população está in-
tensamente colaborando, de
forma extremamente solidá-
ria, dentro de sua capacida-
de”.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


André Borges
Julia Lindner / BRASÍLIA


O ministro da Saúde, Luiz Hen-
rique Mandetta, resolveu bai-
xar um pouco a expectativa cria-
da em torno da cloroquina, me-
dicação de tratamento de malá-
ria que tem sido testada em ca-
sos graves de pacientes com co-
vid-19. Anteriormente, Mandet-
ta disse que os primeiros testes
científicos com uso de cloroqui-
na começraam a mostrar resul-


tados positivos e a “ciência co-
meça a achar o caminho” no
combate à doença.
Nesta sexta-feira, porém,
Mandetta disse que, após uma
reunião com médicos especia-
listas que analisaram um pri-
meiro trabalho científico publi-
cado pelo New England Journal
of Medicine , dos Estados Uni-
dos, concluiu que o resultado
não é tão promissor.
“O ‘paper’ ( o estudo original a
respeito da substância ) é muito

frágil no caso de cloroquina”,
disse Mandetta. Ela tem sido de-
fendida pelo presidente Jair Bol-
sonaro como um remédio efi-
ciente para combater a doença.
Nesta semana, sem a presença
de Mandetta, Bolsonaro se reu-
niu com um grupo de médicos
para tratar do assunto.
Ontem, Mandetta não men-
cionou a reunião, mas deu seu
recado para Bolsonaro e para os
que estiveram com o presiden-
te. “Estou trabalhando com

pouca gente, mas normalmente
os ‘cabeças brancas’ aqueles
que têm mais tempo e vivência,
não só de sistema, mas de Medi-
cina, onde a gente está discutin-
do algumas possibilidades em
tempos de tantas incertezas.”
Independentemente disso,
Mandetta disse que o Ministé-
rio da Saúde vai oferecer aos
médicos do País a possibilidade
de utilizarem a cloroquina co-
mo opção de tratamento não
apenas para os casos críticos de

pacientes, como tem ocorrido
até agora, mas também para
aqueles que estão em situação
grave.
Conforme apurou A Coluna
do Estadão , os especialistas em
cloroquina que se reuniram
com o presidente na quarta-fei-
ra o alertaram: os estudos brasi-
leiros sobre o medicamento ain-
da devem demorar mais dois
meses, no mínimo. O presiden-
te da República tomou notas e
falou pouco.

Como amplamente divulga-
do nas últimas semanas, os tes-
tes brasileiros devem aconte-
cer em meio a um estudo inter-
nacional da Organização Mun-
dial da Saúde (OMS) que a Fio-
cruz está liderando no Brasil.
Chamado de Solidariedade, es-
se estudo será realizado em 18
hospitais em 12 Estados brasilei-
ros, com foco em seis substân-
cias, entre elas estão a cloroqui-
na e a hidroxicloroquina (uma
versão atenuada do remédio an-
timalárico, mas que também es-
tá sob suspeitas na França, on-
de ocorreram as primeiras análi-
ses de eficácia.

lO Ministério da Saúde recuou e
voltou considerar que o primeiro
caso da covid-19 no Brasil ocor-
reu só no fim de fevereiro, em
vez de no dia 23 de janeiro, como
havia sido informado anteontem.
O motivo da mudança foi uma
alteração no registro de um óbito
em Minas. “O Ministério da Saú-
de foi comunicado pela Secreta-
ria Estadual de Saúde de Minas
Gerais nesta sexta-feira sobre a
conclusão de investigação do
possível primeiro caso de covid-
19 no Brasil. A informação de

início dos sintomas foi alterada
de 23/1/2020 para 25/3/2020.”
Procurada mais cedo, a Secreta-
ria de Estado de Saúde de Minas
afirmou, por nota, que ainda
aguardava informações do minis-
tério para prosseguir com as in-
vestigações sobre o caso.
O ministério relatou ontem 359
mortes por covid-19, 60 a mais
do que o informado ontem. O nú-
mero de casos confirmados che-
gou a 9.056. Em 24 horas, o au-
mento no número de pacientes
foi de 1.146. A taxa de letalidade
chegou a 4%. São Paulo ainda é o
Estado mais afetado pela doen-
ça, com 4.048 casos confirma-
dos e 219 óbitos. / LEONARDO
AUGUSTO, ANDRÉ BORGES e EMILLY
BEHNKE

Parque Olímpico pode virar hospital


l Mapeamento

Ministério da Economia seleciona 80 imóveis para construção de hospitais de campanha nos Estados; lista tem prédios, terrenos e galpões


De ‘portas abertas’, Santa Casa se


prepara para pico de infectados


Corrida global por insumos faz SUS perder contratos. Pág.A

Mandetta: estudo sobre ação da cloroquina ‘é muito frágil’


Ministério recua em


relação a suposto


caso em janeiro


FABIO MOTTA/ESTADÃO

“Precisamos de alternativas
para a possibilidade de o
sistema público de saúde
colapsar. Quanto mais subir
a curva, mais necessidade
de atendimento”
Fernando Bispo
SEC. DO MINISTÉRIO DA ECONOMIA

Parque Olímpico. No Rio, área na Barra da Tijuca foi reservada e poderá ser utilizada para o tratamento dos infectados com o novo coronavírus

GABRIELA BILÓ / ESTADAO–21/4/

Hospital recebe pacientes


sem a necessidade de eles


terem passado em outra


unidade de saúde e
aumenta número de UTIs


Ajuda. Mendonça diz ter
projeto para mais leitos
Free download pdf