%HermesFileInfo:B-3:20200404:
O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 4 DE ABRIL DE 2020 Economia B
http://www.sodresantoro.com.br
Em cumprimento à legislação vigente e preocupados com a
saúde de todos, os leilões estão sendo realizados somente online,
sem visitação pública, a fim de evitar aglomerações.
E COM DELIVERY DOS ARREMATES, EM CIDADES NUM RAIO DE ATÉ 100 KM DO
PÁTIO ONDE O VEÍCULO ESTIVER, AO CUSTO OBRIGATÓRIO DE R$ 500,00.
Para distâncias maiores, consulte-nos sobre a disponibilidade.
Daniel Weterman / BRASÍLIA
O Senado aprovou ontem proje-
to de lei que suspende até 30 de
outubro uma série de prazos
contratuais, entre eles, decisões
de despejo liminares (provisó-
rias). A proibição só valerá para
ações que tenham sido protoco-
ladas depois de 20 de março,
quando foi decretado estado de
calamidade pública no País.
A medida coloca no papel fle-
xibilizações durante a pande-
mia do novo coronavírus no
País e dependerá agora de chan-
cela da Câmara dos Deputados
e ainda de sanção presidencial.
O texto proíbe o despejo ape-
nas no início do processo, por
força de decisão provisória. Des-
Sa forma, o despejo segue permi-
tido em caso de decisão definiti-
va, na conclusão da ação. “Nesse
momento atual de restrição de
circulação de pessoas, fica mui-
to difícil que uma pessoa seja de-
salojada e consiga um outro lo-
cal para alugar”, justificou a se-
nadora Simone Tebet (MDB-
MS), relatora do projeto.
A ação de despejo consiste na
retirada, pelo proprietário, do
inquilino do imóvel onde mora
ou trabalha, motivado por fato-
res como a falta de pagamento
do aluguel. Hoje, a desocupação
é permitida, dentro de 15 dias.
Caso o projeto vire lei, duran-
te a crise do coronavírus, esSe
despejo não poderá acontecer
mesmo no caso de não paga-
mento do aluguel, cujo contra-
to não possua nenhuma das se-
guintes garantias: caução (paga-
mento de alugueis adiantados),
fiança, seguro de fiança e uso de
fundos de investimento como
garantia do pagamento.
Inicialmente, o projeto, de au-
toria do senador Antonio Anas-
tasia (PSD-MG), previa que, se o
inquilino fosse demitido ou so-
fresse uma redução do salário,
ele poderia adiar o pagamento
do aluguel em sete meses. As par-
celas seriam negociadas e pagas
a partir de 30 de outubro, com
um acréscimo de 20% do valor
mensal. Esse trecho foi retirado
pela relatora pelo risco de uma
“moratória geral” no País.
A proposta também suspende
a regra que permite ao consumi-
dor desistir de uma compra feita
com entrega domiciliar (deli-
very) no prazo de 7 dias, mas ape-
nas para produtos perecíveis e
de consumo imediato, como ali-
mentos, e medicamentos.
Já a Lei Geral de Proteção de
Dados (LGPD), cuja vigência es-
tava prevista para agosto, só vai
valer a partir de janeiro de 2021,
de acordo com projeto de lei. O
texto original pedia que a vigên-
cia da nova legislação fosse adia-
da para fevereiro de 2022.
Após repercussão nos últimos
dias, a relatora decidiu fazer
uma nova proposta em seu pare-
cer: no texto, o marco do início
da lei será fixado em janeiro de
- As sanções administrati-
vas, no entanto, só passarão a va-
ler em agosto do próximo ano.
PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Daniel Weterman / BRASÍLIA
O Senado aprovou ontem uma
medida aumentando o rendi-
mento de motoristas e entrega-
dores de aplicativo até outubro.
O dispositivo foi aprovado, por
49 votos a 27, em um projeto de
lei que suspende regras contra-
tuais por causa da pandemia do
novo coronavírus.
O texto ainda dependerá de
análise da Câmara. A alteração,
proposta pelo senador Fabiano
Contarato (Rede-ES), obriga
empresas como Uber, Cabify e
99 a reduzirem em ao menos
15% o valor retido nas corridas
feitas durante o período e repas-
sarem a quantia aos motoristas.
Se a corrida custa R$ 40, a em-
presa atualmente fica com R$
10 e o motorista com R$ 30, a
depender do aplicativo. Pelo
projeto, o motorista receberia
R$ 1,50 a mais nessa viagem.
Além disso, as companhias não
poderão aumentar o preço das
viagens para os usuários.
As mesmas regras também va-
lerão para taxistas, diz o proje-
to. Pelo texto aprovado, os mo-
toristas terão reduzidas em ao
menos 15% todas as taxas, co-
branças, aluguéis ou outras tari-
fas relacionadas ao serviço.
O Estado procurou as empre-
sas de transporte por aplicativo
e delivery, como iFood e Rappi,
para comentar a proposta, mas
as companhias não estavam
imediatamente disponíveis.
Em nota, o Uber não falou di-
retamente sobre a votação. Afir-
mou acreditar ser “responsabili-
dade de todos ajudar na luta
contra a pandemia do coronaví-
rus”, além de listar nove medi-
das anunciadas pela empresa
desde o início da crise, como
isenção de taxa de retirada para
restaurantes e isenção de anui-
dade para motoristas no plano
de saúde da Vale Saúde Sempre.
A Cabify afirmou que “acata-
rá quaisquer disposições que se-
jam sancionadas pelo presiden-
te da República”. “A empresa
acompanhará os próximos trâ-
mites do projeto na Câmara dos
Deputados. Adicionalmente, a
Cabify informa que vêm direcio-
nando todos os seus esforços
em desenhar possíveis ações
e/ou projetos que possam ter
efeitos positivos para seus usuá-
rios e motoristas parceiros.”
Já a 99 afirmou que “acompa-
nha a votação do PL e reafirma
que está focada em implemen-
tar ações que ajudem na gera-
ção de renda, sem interferir e
limitar a atividade privada”. /
COLABOROU BRUNO ROMANI
Lorenna Rodrigues
Eduardo Rodrigues/ BRASÍLIA
Empresas aéreas atuando jun-
tas para manter uma frequên-
cia mínima de voos nas capi-
tais. Operadoras de telefonia
coordenando ações para ga-
rantir o acesso às suas redes.
Bancos se unindo para adiar
o vencimento de emprésti-
mos por dois meses.
Acordos entre empresas con-
correntes, que em situação nor-
mal podem ser considerados in-
frações econômicas porque,
em tese, são prejudiciais aos
clientes, são tolerados e até in-
centivados pelo governo em
momentos de crise, como a
atual pandemia de coronavírus.
Com as restrições e dificulda-
des impostas pela doença, as
empresas podem se associar
em “cartéis do bem” sem serem
punidas pelas autoridades con-
correnciais, como o Cade.
Diferentemente dos crimino-
sos, o objetivo dos “cartéis da
crise”, como são chamados na
literatura econômica, não é au-
mentar o lucro dos participan-
tes, mas manter a própria ativi-
dade e o atendimento à popula-
ção.
Ontem, um projeto de lei foi
aprovado pelo Senado para fle-
xibilizar leis concorrenciais e já
há exemplos práticos de compa-
nhias que deixaram a competi-
ção de lado para garantir a ofer-
ta de serviços. Pelo texto, as
companhias não terão que noti-
ficar o Cade quando firmarem
contrato associativo, joint ven-
ture (parceria entre empresas
para fabricar um produto, por
exemplo) ou consórcio até o
fim de outubro.
É o caso da “malha essencial”
de voos ofertados pelas compa-
nhias aéreas desde a semana
passada. Ao invés de concorre-
rem entre si em um momento
de baixíssima demanda, Gol,
Azul e Latam entraram em acor-
do com a Agência Nacional de
Aviação Civil (Anac) para com-
binarem as frequências sema-
nais de viagens para as princi-
pais cidades do País.
Da mesma forma, os cinco
maiores bancos do País fize-
ram um anúncio conjunto de
adiamento de pagamentos de
parcelas de empréstimos por
até dois meses. O movimento,
alinhado com o governo, na
prática evita a concorrência en-
tre eles, o que poderia, por
exemplo, levar consumidores a
migrar para um uma institui-
ção que pausasse por mais tem-
po seus contratos.
Claro, Nextel, Sercomtel, Oi,
TIM, Vivo e Algar Telecom se
uniram em uma ação coordena-
da para garantir o atendimento
da população. Conjuntamente,
elas ofereceram acesso gratui-
to a canais de notícia e aplicati-
vos oficiais do governo e de ca-
nais de entretenimento.
O presidente do Cade, Ale-
xandre Barreto, disse ao Esta-
dão/Broadcast que o órgão está
vigilante para combater even-
tuais abusos. “Associações en-
tre empresas e formas de atua-
ção coordenadas entre empre-
sas que sejam formadas para
enfrentar a crise serão vistas
dessa forma. Neste momento,
temos uma crise sem prece-
dentes e faz-se necessário
uma resposta rápida do Esta-
do. Mas temos visto muitas ini-
ciativas desencontradas que
podem levar a problemas pio-
res do que estamos vivendo”,
afirmou.
Segundo Barreto, nas últi-
mas semanas, o conselho tem
recebido consultas de empre-
sas questionando se podem fa-
zer associações ou atuar con-
juntamente no período da cri-
se. Ele ressaltou que o órgão
continuará investigando infra-
ções, que ocorrem quando há
ação das empresas para fraudar
mercados e preços ou dominar
concorrentes. “O Cade está vi-
gilante para impedir que isso
ocorra. O importante é perce-
ber se os efeitos dessa coorde-
nação resultam em prejuízo.
Apenas hipóteses que tenha be-
nefícios ao consumidor serão
permitidas”.
Preços. Barreto citou ainda
projetos de congelamento de
preço que foram apresentados
por parlamentares no Congres-
so Nacional que “parecem uma
solução fácil”, mas teria o resul-
tado de afastar produtores de
mercados em que há demanda
alta pelo produto. É o caso do
álcool em gel. Se o preço for con-
gelado, retira-se o incentivo pa-
ra que novos fabricantes produ-
zam o químico, reduzindo a
oferta à população. “Temos que
evitar preços abusivos. Mas con-
gelar preços pode gerar efeitos
nefastos”, completou.
Em março, o Cade abriu um
processo justamente para inves-
tigar se fabricantes, laborató-
rios e hospitais aumentaram
abusivamente o preço de itens
ligados ao enfrentamento da
pandemia, como máscaras e me-
dicamentos. Já foram notifica-
das 80 empresas, que terão que
apresentar notas fiscais e ou-
tros documentos.
l Cenário
Governo quer iniciar na próxima semana pagamento do auxílio emergencial. Pág. B4}
Projeto aprovado pelo
Senado beneficiaria
também os entregadores
enquanto durar a crise;
texto vai para a Câmara
Aplicativos podem
aumentar repasse
para os motoristas
ANDRÉ FELPES/ESTADÃO–10/3/
Empresas
se ajudam
nos ‘cartéis
do bem’
Governo até incentiva o que em situação
normal não seria tolerado, mas Cade vigia
‘Malha essencial’. Gol, Azul e Latam entraram em acordo com a Anac’ para combinar voos
Senado aprova suspensão de despejo até 30 de outubro
‘Nesse momento atual de
restrição de circulação de
pessoas, fica muito difícil
que uma pessoa seja
desalojada e consiga um
outro lugar para morar.”
Simone Tebet (MDB-MS)
SENADORA, RELATORA DO PROJETO
Pelo texto, que ainda
precisa passar pela
Câmara, proibição vale
para ações que tramitam
desde 20 de março