LIVRO DIGITAL ENCONTRO SHAKESPEARE 2.1 - 2023

(Shakespeare 2.1EU1AMn) #1

de referência intermidiática. Contudo, podemos levar mais além tal categoria pois, como
aponta Rajewsky:


As referências intermidiáticas devem então ser compreendidas como estratégias de
constituição de sentido que contribuem para a significação total do produto: este
usa seus próprios meios, seja para se referir a uma obra individual específica
produzida em outra mídia (o que na tradição alemã se chama Einzelreferenz,
―“referência individual”), seja para se referir a um subsistema midiático específico
(como um determinado gênero de filme), ou a outra mídia enquanto sistema
(Systemreferenz, ―“referência a um sistema”). Esse produto, então, se constitui
parcial ou totalmente em relação à obra, sistema, ou subsistema a que se refere. (25)

Ao considerarmos que essa descrição aponta para uma ampla definição de referência tanto
no âmbito da mídia individual quanto no sistema midiático, notaremos a riqueza de
referências exploradas por Whedon em seu filme.


3. Muito barulho por nada de Joss Whedon: um filme referencial


Como mencionado anteriormente, é interessante notar que um diretor inserido no
contexto do cinema comercial hollywoodiano escolhe fazer uma adaptação de baixo
orçamento de uma peça de Shakespeare. Mais ainda, Whedon surpreende ao escolher que
seu filme seja em preto e branco. Aqui, vemos que o diretor optou por delinear sua adaptação
com o que David J. Bolder e Richard Grusin descrevem como “hipermidiaticidade”, isto é,
quando uma obra de arte elimina a ilusão de transparência e chama a atenção para a mídia
(70).
Ao optar pelo sistema de cor em preto e branco, Whedon, além de chamar a atenção
para a mídia de sua adaptação, presta uma homenagem à história dessa mídia. O sistema de
cor do filme remete o expectador aos grandes clássicos cinematográficos de por volta da
metade do século XX. O expectador conhecedor dos filmes produzidos durante esse período
pode reconhecer referências até pela escolha do figurino do filme de Whedon. Don Pedro e
seus homens vestem ternos bem cortados e possuem uma aura dos grandes atores que já
filmados nesse figurino, como Humphrey Bogart, William Holden, Spencer Tracy e Gene Kelly.
Os vestidos também fazem menção aos figurinos das colegas de elenco desses atores, com
destaque especial para o vestido usado por Amy Acker (Beatrice) durante o baile de máscaras,
modelo que lembra o vestido usado por Audrey Hepburn no baile do filme Sabrina de 1954.
Ainda revestido pela aura referencial da tradição fílmica, Whedon usa o personagem

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