O Estado de São Paulo (2020-04-08)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO QUARTA-FEIRA, 8 DE ABRIL DE 2020 Economia B7


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SILVIOMEIRA


foi o aumento de receita
registrado pelo aplicativo
fundado pelos irmãos Diz
em março deste ano

S


ARS-COV-2 é um dos milhares de coronaví-
rus que a ciência estima existir, ínfima parte
do 1,7 milhão de vírus que os modelos mate-
máticos calculam viver em animais. A destruição
sistemática e agressiva do ambiente está causando
uma explosão viral sem igual, o que pode levar nos-
so tempo a ser chamado de “século das pandemias”.
É quase certo que a covid-19 se originou de ani-
mais silvestres de origem ilegal, o que cria um novo
senso de urgência para acabar com crimes contra a
vida selvagem. Incrivelmente, não há acordo global


que trate tal ataque à natureza e, por conseguinte, à
vida humana. Aqui é onde começa a nossa conversa
sobre um antivírus para a humanidade. E se inicia
longe, na distância e tempo: Çatalhöyük é uma das
mais antigas comunidades protourbanas, datada
de 7 mil anos antes de Cristo. Bioarqueólogos des-
cobriram que três dos problemas que a levaram ao
colapso foram aglomeração excessiva, degradação
ambiental e... epidemias. Mais de 9 mil anos depois,
ainda estamos na mesma situação – e piorando.
Vivemos nossa maior crise desde a Segunda
Guerra. Muitos a previram, alertando que não ha-
via como nos defendermos ou lidarmos com uma
grande pandemia, caso acontecesse. Aconteceu.
Este vírus não é o último e quase certamente não
é o mais agressivo e duradouro. Até aqui, tratamos
epidemias e pandemias num ciclo interminável de

pânico, negligência e pânico. Não podemos seguir
assim. Para mudar, é preciso repensar tudo que
está associado ao risco biológico da e para a huma-
nidade. É preciso achar um equilíbrio entre huma-
nos e o ambiente. Sem isso, o risco biológico só
crescerá e seu custo pode se tornar insustentável.
Uma parte não trivial da mudança é que precisa-
mos instalar um antivírus na humanidade. Ele es-
tá pronto e é preciso um esforço gigantesco para
desenvolvê-lo. Assim como antivírus de computa-
dores, ele nunca ficará pronto e terá de evoluir
sempre. Não é só um artefato tecnológico, mas
um sistema ambiental, social, econômico, tecno-
lógico... que envolve e lida com tudo o que há no
planeta. Inclusive o poder. Não será fácil.
Mas em alguma hora, dados vão mostrar que a
falta de um antivírus global que teria custado “só”

dezenas de bilhões por ano causou milhares, mi-
lhões de mortes, além de um prejuízo de trilhões
nas economias globais. E isso no curto prazo.
Essa crise, que foi “só” um colapso parcial do
sistema operacional da humanidade, terá que acele-
rar, aprofundar e universalizar mudanças já em an-
damento em alguns países, cidades e organizações.
Depois dela, não voltaremos ao normal. Haverá um
novo normal, que começa a ser criado agora e terá
que ser muito diferente, para diminuir radicalmen-
te o risco de seguirmos Çatalhöyük e entrarmos
em colapso, de fato, na próxima grande pandemia.

]
É PROFESSOR EXTRAORDINÁRIO DA CESAR.SCHOOL, FUN-
DADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL
E CHIEF SCIENTIST NA DIGITALSTRATEGY.COMPANY

● Coronavírus afetou aportes em startups

IMPACTO

FONTE: DISTRITO INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Volume de investimentos
em março caiu
EM MILHÕES DE DÓLARES

63,5

220,5

126,5

18,6

MAR/
2017

MAR/
2018

MAR/
2019

MAR/
2020

18

APORTES

18

21

18

E os investimentos foram
em startups pequenas...

MARÇO DE 2020 EM NÚMERO, POR TRIMESTRE

Até R$ 500 mil

Entre R$ 500 mil e R$ 5 milhões

A partir de R$ 5 milhões

Pré-Semente

Seed

Série A

8


9


1


TIPO/VALOR QUANTIDADE

Já o cenário de fusões e
aquisições está aquecido

19
15

7

(^2322)
1º TRI
2019
1º TRI
2020
2º TRI 3º TRI 4º TRI
Volume de aportes caiu
85% em março, ante
2019; fundos orientam
portfólio a cortar gastos
e explorar alternativas


baque


Um antivírus para


a humanidade


Bruno Capelas


Ainda é muito difícil prever a
duração e a intensidade do no-
vo coronavírus. Mas já é possí-
vel ver efeitos da crise no ecos-
sistema de inovação brasilei-
ro. Acostumado a grandes nú-
meros nos últimos dois anos,
o setor viu queda de 85% no vo-
lume de aportes feitos em em-
presas de tecnologia em mar-
ço, em relação ao mesmo pe-
ríodo de 2019. O valor total de
investimentos foi de US$ 18,6
milhões, segundo relatório
da empresa de inovação Dis-
trito, cedido com exclusivida-
de ao ‘Estado’. No mesmo
mês de 2019, os cheques soma-
ram US$ 126,5 milhões.

“Houve uma ruptura grande
por conta do coronavírus. Histo-
ricamente, março é um mês for-
te porque marca a retomada
após o carnaval”, afirma Gusta-
vo Gierun, cofundador da Distri-
to. A quantidade de investimen-
tos no último mês até foi igual
ao do mesmo período em 2019 –
18 cheques –, mas eles acontece-
ram em startups em estágio ini-
cial, nos chamados investimen-
to pré-semente (até R$ 500 mil)
e semente (de R$ 500 mil a R$ 5
milhões). “Em cheques meno-


res, os investidores se sentem
mais à vontade, o risco é me-
nor”, diz o especialista. “Depois
disso é mais complicado. Have-
rá desaceleração em breve.”
Startups em estágio inicial,
ainda tentando criar um produ-
to ou adequá-lo ao mercado, de-
vem sofrer menos. “Nessa fase,
importa menos a ideia e mais o
olho no olho com o empreende-
dor. E bons empreendedores
não vão sumir”, diz Marcos
Mueller, presidente executivo
da aceleradora catarinense
Darwin Startups. Ele espera
manter o ritmo de investimen-
tos este ano, aportando R$ 10
milhões em 20 empresas. Pio-
neira no País, a empresa de ino-
vação Ace (que nasceu como
aceleradora)
também prevê

seguir investindo. “Temos três
acordos para anunciar e espera-
mos fazer pelo menos 15 apor-
tes este ano”,diz Arthur Garut-
ti, executivo da área de startups
da empresa, que faz cheques en-
tre R$ 200 mil e R$ 1 milhão.
Apesar do otimismo, a pala-
vra de ordem é sobrevivência.
“Tínhamos cinco startups que
estavam captando recursos e só
duas seguem na mesa, com ter-
mos menos vantajosos”, diz o
executivo da Darwin, com 60 em-
presas no portfólio. “O impor-
tante agora é manter caixa e não
perder clientes.” Garutti vai na
mesma linha. “Muitas startups
atendem pequenas empresas. É
importante renegociar e mos-
trar parceria na hora do aperto.”

Longo prazo. Para fundos “um

degrau acima” na cadeia de in-
vestimentos, com os chamados
Série A, o humor é parecido: os
aportes seguirão sendo feitos,
mas a preocupação está no port-
fólio. Criado em 2017, o Canary
faz cerca de dois cheques por
mês, de até US$ 3 milhões. É al-
go que não deve mudar muito,
diz o cofundador Marcos Tole-
do Leite. “O mercado não está
normal, mas conseguimos in-
vestir. O foco está em quem po-
de passar algum tempo sem re-
ceber um novo aporte”, afirma.
Na visão de Leite, será difícil
captar cheques maiores – a par-
tir da chamada Série B, no jargão
do setor, normalmente feitos
por fundos estrangeiros. Ele
tem preparado suas empresas
para ficar entre 18 meses e dois
anos sem captar. “Quem sobre-
viver, porém, terá um selo de
qualidade no futuro”, diz Leite.
A mesma visão é compartilha-
da pelo fundo americano Valor,
voltado para startups brasilei-
ras. “Nós somos ‘de casa’, mas
quem faz cheques maiores não
vai conseguir prestar atenção no
que acontece aqui e vai focar em
seus países”, diz o sócio Michael
Nicklas. Ele diz que tenta fechar
os aportes que já estavam em ne-
gociação, mas vê que, no curto
prazo, o foco será em cuidar do
portfólio, com 50 empresas. “Pa-
ra quem tem menos de 12 meses
de caixa, estamos buscando ro-
dadas adicionais ou novos inves-
tidores”, diz o americano.
Na visão da Kaszek, um dos
principais fundos latinos, é ho-

ra de ter cuidado. “Provavel-
mente vamos investir num rit-
mo parecido, mas com mais cau-
tela”, diz Santiago Fossati, que
lidera o fundo no Brasil, com in-
vestimentos feitos em nomes
como Loggi e Nubank. “Quem
estava pensando em lançar no-
vos produtos tem agora que fi-
car no arroz com feijão”, diz.
Nos últimos dois anos, torna-
ram-se corriqueiros investimen-
tos na casa de oito ou nove dígi-
tos (em dólares), em empresas
de estágio avançado. Eles ainda
podem ocorrer – como o aporte
de R$ 250 milhões do SoftBank
na Petlove, anunciado ontem –,
mas devem ser raros. E é bastan-
te provável que o País veja pou-
cas empresas virando unicórnio
(avaliadas em ao menos US$ 1 bi)
este ano – em 2019, foram cinco.

União. Para analistas ouvidos
pelo Estado , uma das alternati-
vas para a sobrevivência pode es-
tar nas fusões e aquisições
(M&A) entre startups. Não é o
cenário mais comum no Brasil –
por aqui, acontecem mais as
compras por grandes empresas.
Mas o mercado está aquecido:
no 1.º trimestre, foram 22 opera-
ções do tipo no País.
Segundo André Barrence, che-
fe Google for Startups de São Pau-
lo, fusões serão feitas “estrategi-
camente, em mercados ainda
pouco difundidos”. Para Gierun,
“a fusão pode trazer eficiência”,
diz. “Vai ter gente que terá de de-
sistir do sonho do bilhão e repen-
sar conceitos para ficar vivo.”

CHEQUE
Escola LeWagon
levanta US$ 19 mi
A escola de programação
francesa LeWagon, que tam-
bém oferece aulas no Brasil,
anunciou que recebeu uma
porte de US$ 19 milhões. Os
recursos serão usados na ex-
pansão global da startup, que
tem sedes em 38 cidades e
cerca de 7 mil alunos espalha-
dos pelo planeta.

[email protected]

40%


foi o aumento nos pedidos da
Zee.Now, app de delivery de
produtos para pets

52%


Não. Startups da Darwin, de Mueller, cancelaram rodadas Futuro. Leite, da Canary, vê cenário difícil até 2022


GABRIELA BILO / ESTADÃO - 8/2/2018

Básico. ‘É hora do arroz com feijão’, diz Fossati, da Kaszek

lUm dos mais tradicionais pro-
gramas de incentivo a startups
do País, o Google for Startups
Accelerator, será realizado pela
primeira vez 100% online – an-
tes, o ciclo de apoio era feito pre-
sencialmente, em São Paulo. “Se-
rá a chance de testar um novo
modelo e ver como gerar impac-
to para as startups”, diz André
Barrence, chefe do Google for
Startups São Paulo. Entre as 10
empresas do ciclo, está o unicór-
nio Loft, de construção. / B.C.

ALEX RIBEIRO / ESTADÃO-26/9/2019

TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 10/7/2018 HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO - 2/5/2019

Programa do Google


será feito à distância


pela primeira vez


Investimento em


startups já sente


efeitos da crise

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