O Estado de São Paulo (2020-04-08)

(Antfer) #1

A Europa, muito afetada pela
pandemia do novo coronaví-
rus, viu as vendas de veículos
novos despencarem. Na Alema-
nha, um dos mais importantes
fabricantes do mundo, os em-
placamentos registrados em
março caíram 37,7% em relação
ao mesmo mês de 2019.
Líder de vendas naquele mer-
cado, a Volkswagen encolheu
35%, enquanto Mercedes-Benz
em BMW registraram quedas
de, respectivamente, 28% e 21%
nas vendas domésticas. No ca-
so da Ford, a queda chegou a
50%. Os números são da KBA, a


agência alemã que afere os regis-
tros de veículos novos.
A forte redução nas vendas
foi ocasionada, principalmen-
te, pelo fechamento das conces-
sionárias, além da restrição à cir-
culação. As medidas foram ado-
tadas a partir de meados de mar-
ço e criaram um gargalo no siste-
ma de emplacamentos.
Outras fabricantes registra-
ram queda superior à média do
mercado alemão. A Smart, fabri-
cante de minicarros elétricos
que pertence à Mercedes-Benz,
registrou 84,4% de redução nas
vendas em março.
Algumas marcas ainda conse-
guiram conter as perdas no mer-
cado alemão. A japonesa Lexus
recuou 2,8% e a norte-america-
na Tesla, 4,4%. Uma explicação
é que as vendas de híbridos e
elétricos vinham crescendo cer-
ca de três dígitos por mês na Ale-

manha. No fechamento do pri-
meiro trimestre esse segmento
registrou aumento de 207,9%
nas vendas.
O caso curioso é o da Subaru.
Apesar da crise a marca japone-
sa conseguiu ampliar em 1,6%
suas vendas na Alemanha. Nos
demais países do continente os

resultados das vendas de carros
novos foram ainda piores.
Na Itália, por exemplo, a retra-
ção foi de 85%. O país foi o mais
afetado no continente europeu
pelo avanço do novo coronaví-
rus. Na França, a queda nas ven-
das de carros novos foi de 72% e
na Espanha, de 69%.

Na Inglaterra, a redução nos
emplacamentos foi de 44% em
março. Foram vendidos 203 mil
veículos novos a menos que no
mesmo mês do ano passado.
Com o fechamento do comér-
cio em um dos meses mais for-
tes de vendas na Inglaterra, o
mês passado foi o pior março
em emplacamentos desde o fim
dos anos 90. O mercado britâni-
co já estava em baixa por causa
da Brexit, como ficou conheci-
do o plano de saída do Reino
Unido da União Eropeia.

Volkswagen. A maior monta-
dora da Alemanha deverá cor-
tar empregos por causa da pan-
demia. Em entrevista ao canal
de TV alemão ZDF, o CEO da
Volkswagen, Herbert Diess, re-
velou que a empresa vem per-
dendo cerca de US$ 2,2 bilhões
(mais de R$ 11 bilhões) por se-
mana por causa da pandemia.
O grupo viu as vendas serem
paralisadas em praticamente to-
do o mundo. A produção foi cor-
tada pela metade. Segundo o
executivo, “apenas a China está
vendendo carros novos da mar-
ca e a Volkswagen ainda tem
que lidar com todos os prejuí-
zos semanais (leia mais acima).

Após a queda brutal nas vendas
de automóveis na China, por
causa do avanço do novo coro-
navírus, as fabricantes vão recu-
perando o otimismo. Represen-
tantes do setor preveem rápida
recuperação do maior mercado
do mundo, embora acreditem
que as vendas ficarão abaixo
das registradas em 2019.
De acordo com o diretor de
negócios do Grupo Volkswa-
gen na China, Stefan Woellen-
tein, a empresa deve quadrupli-
car as vendas de veículos no
mercado chinês. “Estamos cau-
telosamente otimistas de que
os piores efeitos da crise ficarão
para trás em dois a três meses”,
diz o executivo.
Em fevereiro, a marca empla-
cou 250 mil unidades na China.
Para março a expectativa era de
que as vendas chegassem a 1 mi-
lhão de veículos. Até o fecha-
mento desta edição os dados
não haviam sido divulgados.
Woellentein afirma que a pro-
cura ainda é baixa, mas garantiu
que a empresa está preparada
para aumentar a capacidade de
produção assim que a demanda
apresentar sinais de alta.


Queda. “Há mais e mais sinais
de que os negócios estão se recu-
perando”, diz o diretor da VW.
“Até o meio do ano, podemos
voltar ao volume planejado no
ano passado”, complementou.
Segundo estimativas da
Volkswagen, este ano o merca-
do chinês deve cair de 3 a 15%
em relação ao ano passado.
Mesmo assim, os investimen-
tos do grupo alemão no país
asiático não foram alterados.
“Assumimos que a recuperação
continuará e que voltaremos a
operar num ambiente normal
de mercado em 2021”, acrescen-
tou Woellenstein.
A Volkswagen planeja vender
1,5 milhão de carros elétricos
por ano na China a partir de



  1. O país asiático, aliás, pror-
    rogou os subsídios para produ-
    ção de carros elétricos por lá.
    Segundo o jornal S outh China


Morning Post , duas políticas de
ajuda atuais, as quais tinham
término esperado para este
ano, foram estendidas até 2022.
Uma delas se refere a um subsí-
dio de até 25 mil yuans, cerca de
18 mil reais, por veículo. Outra
política que será prorrogada é a

isenção de um imposto de 10%
na compra do carro novo.
No entanto, isso pode ainda
não ser suficiente para reacen-
der as vendas de elétricos. Em
entrevista ao jornal South China
Morning Post , o gerente de ven-
das da Yiyou Auto Service em
Shanghai, Tian Maowei, disse
que os consumidores estavam
esperando um aumento nos
subsídios. E isso (extensão) vai
ter um impacto limitado no
mercado”, afirma.

Geely. A Geely Automobile
Holdings, maior grupo automo-
tivo da China, espera vendas do-

mésticas de 1,41 milhão de auto-
móveis neste ano. O número re-
presenta um crescimento de
3,5% ante o resultado de 2019.
Apesar de enfrentar a maior
dificuldade em 23 anos de exis-
tência, por causa da crise do co-
ronavírus, a empresa não pre-
tende cortar salários. Em vez
disso, informa que planeja fazer
“mudanças organizacionais” e
melhorar a eficiência.
A Geely, inclusive, iniciou a
produção de um carro novo na
China, o Polestar 2. O esportivo
será produzido apenas em terri-
tório chinês e exportado para
todo o mundo a partir de 2021.

Volkswagen. Alemã prevê alcançar resultados previstos Polestar 2. Novo esportivo já está sendo fabricado no país Indústria. 2020 terá crescimento na produção e exportação


l Abismo

l Otimismo NOVIDADES

PHIL NOBLE/REUTERS

Crise causada pelo novo


coronavírus fez com


que os emplacamentos


caíssem em todos os


países do continente


VENDA DE CARROS


NOVOS RECUA EM


TODA A EUROPA


37,7%
Foi a queda nas vendas de
veículos novos na Alemanha,
a maior fabricante do setor na
Europa, por causa da covid-19

Encalhe. Milhares de carros estão parados no porto inglês de Ellesmere, perto de Liverpool

l Referência
Geely foi considerada referência
no controle à contaminação pelo
novo coronavírus em todas as
suas fábricas chinesas.

l Polestar 2
Novo Polestar 2 começou a ser
produzido na China com motores
a gasolina e elétrico com 408 cv.
A Polestar é a recém-lançada
marca de esportivos da Volvo,
controlada pela Geely.

l VW elétrico
O Grupo Volkswagen investiu
US$ 4 bilhões (R$ 20 bilhões)
na China para fabricar o ID.3,
seu novo modelo elétrico.

l GM chinesa
A GM prepara a Wuling para
se tornar uma marca global. A
Wuling faz parte de uma joint-
venture entre a GM e a SAIC. A
marca deve lançar novos carros
na Europa a partir de 2021.

FÁBRICAS NA CHINA


VOLTAM A PRODUZIR


Montadoras começam a retomar produção e apostam em bons resultados para 2020, apesar da queda nas vendas no primeiro trimestre


DAMIR SAGOLJ/REUTERS GM/DIVULGAÇÃO

3,5%
É o quanto a chinesa Geely
espera crescer no mercado
doméstico em 2020, apesar
da queda causada pela crise.

KIM KYUNG-HOON/REUTERS

REUTERS

Retomada. Fábricas chinesas já conseguem voltar a produzir após paralisações para impedir avanço do novo coronavírus no país que foi epicentro da crise

I4DI São Paulo, 8 de abril 2020|O ESTADO DE S. PAULO|

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