A CIÊNCIA COM ROSTO DE MULHER

(Casulo21 Produções) #1

Aroma


Amargo


Havia um


aroma


amargo


por todo lugar. Já estava impregnado nos poros e
cabelos da moça pesquisadora, que, dia após dia,
brindava novas descobertas. Tinha doçura no olhar
atento e nos gestos precisos, na curiosidade que
sempre acompanhou sua existência naquela terra
de sol nascente.
O gosto amargo do chá que era servido há milênios
no continente asiático tinha explicação nas
propriedades variadas, relatadas pela cientista.
Lembrava os dias de dificuldades que enfrentou
para conseguir estudar, uma vez que escolas e
oportunidades eram negadas às mulheres da sua
época. A condição para estar na universidade foi
trabalhar como assistente no laboratório,
sem ser remunerada. 
Como alívio, provou o açúcar da inspiração,
personificada na colega de ofício, primeira mulher no
país a obter grau de doutorado em Ciências. “Se ela
pode, eu também posso!” 
As mãos pequenas espalham sobre a mesa dezenas
de folhinhas recém-colhidas. É o início do processo
que as transforma em bebida quente. O ritual é
lento e exige paciência. Remonta aos ancestrais
que em cerimônias celebravam a arte do
momento, do encontro.
A mulher observa as borbulhas da água na chaleira e
o vapor lhe invade de sensações. Ela fez descobertas
sobre as propriedades daquele verde que revelaram
ao mundo seu poder de cura e seus benefícios à
saúde. Entre vitaminas, um oxidante natural que
previne lesões celulares e que é o responsável
pelo sabor amargo.
Na mesa posta, serve o chá na porcelana que mora
em sua família há muitas gerações. Com a doce
serenidade de sempre, sem amarguras. Pois cada
gole tem gosto bom.

Inspirado na história de Michiyo Tsujimura
(Japão, 1888 – Japão, 1969), cientista
agrícola e bioquímica que pesquisou os
componentes do chá verde e registrou uma
patente do método de extração de cristais
de vitamina C de plantas em 1935.

Mudança 161
Free download pdf