Numa xícara branca chegavam pelas
mãos da mestra os goles de paciência
tão necessários na arte de experienciar.
As primeiras porções foram amargas
e brigavam com a doce vontade de
apressar soluções. Foi apurando o paladar
para esse gosto, tornando-o parte de sua
própria experiência como natureza que
tem seu tempo.
Também sentiu o sabor ácido do
inesperado e aprendeu a suavizá-lo com
gotas de resiliência. Exercitou o hábito de
não jogar fora as tentativas frustradas e a
fazer de cada uma um degrau. Com uma
quebrada nos quadris, esquivava-se do
orgulho machucado pelo erro. Descobriu
que ele ensina tanto quanto o acerto. E
que nada é eternamente verdadeiro.
A história da menina foi sendo tecida
com disciplina, estudo e muito
entusiasmo. Cada nova pergunta, cada
nova busca lhe enchia o coração de
alegria. Assumiu que as renúncias viriam,
mas que fazer parte desse ciclo ancestral
era mais. Por todas que pisaram ali antes
dela, pela soma de suas fogueiras. Por
todas que virão.
No início do anoitecer, ao sair da cabana,
parou em frente a uma vidraça. Mexeu
nos cabelos, sorriu, cansada. No reflexo
estava a velha mulher, seu rosto marcado.
Afortunada ao encontrá-la, encontrou-se.