dições de solo e clima que tragam certo equilíbrio
e criam uma combinação perfeita, mas também
não se pode deixar de lado o papel do homem.
“A segunda parte do terroir é a humana.
Você precisa plantá-lo, cultivá-lo, desenvolvê-lo
e depois fazer o vinho. Mas você não pode fa-
zer isso se não tiver o terroir certo. Leva tempo
para conhecê-lo, entendê-lo, vinificá-lo e cultivá-
-lo – pouco a pouco”, diz. Para ele, esse tempo
significa uma geração, pois “as vinhas precisam
crescer e depois você precisa aprender como vi-
nificar o que tem”. “Leva tempo para saber quem
você é. Como você pode vinificar o vinho se você
não sabe do que gosta? Então, é sobre pesquisa
pessoal, sobre quem você é e, em seguida, sobre
como aprender a fazer algo que você gosta de be-
ber”, aponta.
Parra faz uma comparação interessante para
exemplificar: “Um enólogo precisa aprender a
tocar a música. As pessoas podem aprender a ler
a partitura, mas todo mundo tem uma interpreta-
ção diferente daquela música – sua própria assi-
natura. É o mesmo com vinho, é muito pessoal”.
Pensemos nas suítes para violoncelo de Bach, por
exemplo. A clássica interpretação do russo Mstis-
lav Rostropovich é completamente diferente da
do norte-americano Yo Yo Ma, mas ambas, com
certeza, primorosas, de dois instrumentistas ge-
niais. Transportemos essa ideia, por sua vez, para
um Grand Cru da Borgonha em que dois pro-
dutores diferentes criam vinhos de um mesmo
terroir. Não é algo a se levar em conta?
“O terroir vai além do solo, além do clima,
além da localização e exposição. Parece piegas,
mas acho que a terra em si tem que ter um tipo
de paixão. E também tem que haver paixão na
produção de vinho”, afirma o produtor Doug
Shafer. Esse tipo de devoção é compartilhado por
ninguém menos que um dos mais famosos enó-
logos do mundo, Aubert de Villaine, do mítico
Domaine de la Romanée-Conti.
“Terroir é um pedaço de solo delimitado pelo
homem, com certas condições climáticas, ideal
para um certo tipo de vinho. É uma alquimia entre
o homem e a natureza estabelecida pela história.
O vinho que resulta de cada um desses solos tem
a sua personalidade. O aroma e o paladar não são
as coisas mais importantes — isso se altera a cada
safra —, mas sim esta personalidade, que vem da
terra. Uma energia que percebemos quando prova-
mos”, afirmou De Villaine em uma entrevista em
que resumiu também seu trabalho no vinhedo de
Romanée-Conti: “Este pedaço de terra tem sido
dedicado à excelência em fazer vinho há séculos.
Meu trabalho é de guardião deste terreno”.
Para finalizar voltamos a uma máxima de
Pedro Parra: “O terroir pode estar lá por si só,
mas para mostrar isso no vinho, você tem que ter
paixão e respeito por sua presença. Se você não
respeita essa ideia, não pensa sobre isso, não se
preocupa com isso constantemente, o terroir está
completamente perdido”.
“As pessoas
podem aprender
a ler a partitura,
mas todo
mundo tem uma
interpretação
diferente daquela
música”
Pedro Parra
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