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A12 SEGUNDA-FEIRA, 13 DE ABRIL DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO
MAURO CEZAR
PEREIRA
Esportes
O
Corinthians lembra aqueles
equilibristas que mantêm
vários pratos girando sobre
as hastes. Exige muito esforço e fôle-
go, mas enquanto eles estão girando
a plateia aplaude.
A manutenção da dependência da
venda de atletas é um sintoma ruim,
assim como a redução de valores a
receber em publicidade, sem contar
a falta que a receita de bilheteria faz.
Ainda assim o clube voltou a inves-
tir mais fortemente em 2018. Além
disso, o futebol ainda tem de carre-
gar os custos da área social, e este é
um buraco no caminho do equili-brista. Não é de hoje que essa é a reali-
dade do clube paulista.
A seguir dessa maneira, não será tão
cedo que mudará. Enquanto isso, a dis-
tância para os rivais mais fortes aumen-
ta, mas é encoberta por títulos no meio
do caminho. O risco é o equilibrista
tropeçar neste caminho. Recolher os
cacos é sempre mais difícil.
Um dado ruim foi a importante que-
da nas receitas com publicidade (47%
de redução), que consumiram o ganho
com a Copa do Brasil. Como nesta con-
ta entram tanto os patrocínios de cami-
sa quanto o valor a receber do fabrican-
te de material esportivo, a situação semostra ainda mais preocupante, pois o
clube não conseguiu transformar sua
representatividade em receita.
O Corinthians voltou a crescer em
custos e despesas, acompanhando o in-
cremento de receitas líquidas. Isto fez
com que o EBITDA (Lucros antes de
Juros, Impostos, Depreciação e Amor-
tização) fosse ligeiramente inferior a
2017 (...) negativo em R$ 3 milhões.
A base de custos com pessoal se man-teve praticamente inalterada, mas sur-
giu uma conta chamada “Futebol”
com valor de R$ 35 milhões, e que não
há mais informações a respeito dela.
Além disso, os demais custos cresce-
ram R$ 16 milhões.
Nos dois últimos anos, o clube social
apresentou déficit de R$ 16 milhões
em 2017 e R$ 22 milhões em 2018. Equem cobre esse déficit são as receitas
geradas pelo futebol.
Depois de conter investimentos em
2017, o Corinthians voltou a acelerar
em 2018. Foram investidos R$ 72 mi-
lhões, sendo quase todo o valor em
elenco profissional.
Importante: nesses dados não estão
as dívidas da Arena, que está em outro
balanço. Podemos observar impactos
em redução de receitas de bilheteria e
eventuais repasses de caixa. As dívidas
totais do Corinthians apresentaram
aumento de 12% em relação a 2017.
O grande aumento das dívidas opera-
cionais está no aumento da conta de
salários e encargos a pagar, que inclui
os valores de direitos de imagem.
Para fechar o fluxo de caixa, o clube
captou R$ 29 milhões junto a bancos.
Essas informações são trechos da
Análise Econômico-Financeira dos
Clubes Brasileiros de Futebol, deta-
lhando estudo anual feito pelo
Itaú/BBA com base nos balanços. Este
é o mais recente trabalho da equipeliderada por César Grafietti.
Agora, em abril, os clubes devem
apresentar seus demonstrativos fi-
nanceiros de 2019. Alguns, como Fla-
mengo e Bahia, já o fizeram. O do
Corinthians vem aí, e depois de um
ano sem grandes conquistas e mais
investimentos no futebol, a expecta-
tiva não deve ser otimista.
Ainda mais com o estádio, que
consome parcela nada desprezível
das receitas corintianas, fechado,
sem gerar dinheiro, mas oferecendo
despesas e não se sabe quando isso
irá mudar. O cenário é mais do que
preocupante.
Com a paralisação forçada do fute-
bol devido à pandemia, todos os clu-
bes, como os diversos setores da eco-
nomia, sentem o baque. O impacto
nas finanças é forte e inevitável. Se
no cenário pré-quarentena a situa-
ção corintiana já era essa, um tsuna-
mi pode estar a caminho. E aí não há
como o equilibrista manter girando
tantos pratos.Ciro Campos
O futebol parou, mas os trei-
nadores continuam traba-
lhando em suas casas. Agora
distantes do gramado e afas-
tados do convívio com os jo-
gadores, os técnicos brasilei-
ros mantêm a rotina de ativi-
dades na quarentena concen-
trados no celular. Mensagens
e videoconferência fazem par-
te dessa rotina de reuniões
com colegas da comissão e
membros da diretoria. O obje-
tivo deles é planejar o que se-
rá feito nos elencos após o ca-
lendário ser retomado.
O Estado conversou com
treinadores e pessoas próximas
a eles para entender como tem
sido o dia a dia de trabalho nes-
te período de isolamento. To-
dos revelam uma apreensão na-
tural com o momento, princi-
palmente pela dificuldade de
prever um prazo para o retorno
de jogos e treinos. Acostuma-
dos com uma rotina cheia de
compromissos, técnicos bus-
cam usar o tempo livre para ler,
aprender e se modernizar.
O técnico Fernando Diniz,
do São Paulo, tem recorrido aos
livros para ajudar a passar o tem-
po. O perfil do clube no Twitter
até chegou a divulgar foto do
treinador sentado no sofá en-
quanto se dedicava à leitura.
Apesar do futebol brasileiro es-
tar em férias coletivas até 20 de
abril, os treinadores continuam
a pensar no futebol e a se preo-
cupar com suas equipes, jeito
de jogar e um melhor caminho
para as competições todas.
No Palmeiras, Vanderlei Lu-
xemburgo mantém contato fre-
quente com auxiliares da comis-
são. Reuniões por videoconfe-
rência e mensagens por What-
sApp são comuns. Todos tam-
bém têm analisado vídeos de jo-
gos anteriores e conversado so-
bre possíveis mudanças no ti-
me para quando o calendário
for retomado, sem previsão.
Quando não estão envolvi-
dos com o futebol, treinadores
querem ficar com seus filhos. A
rotina do trabalho, com via-
gens e concentrações, muitas
vezes impede esse momento.
Por isso, Thiago Carpini, do
Guarani, não desgruda de Hu-
go, de 1 ano, e Caio, de 7. “A vida
do profissional de futebol é
muito corrida com jogos, con-
centrações, treinos e viagens.
Temos de abdicar de algumas
coisas. Neste período, além de
estudar, aproveito ao máximo
os meus filhos e minha família.
Apesar desse momento de in-
certeza que vivemos, procuro
tirar as coisas boas”, disse.E-MAIL: [email protected]
INSTAGRAM: @maurocezar
TWITTER: @maurocezarCorinthians, o ‘equilibrista’
Lenda da Fórmula 1, Stirling
Moss morre aos 90 anos]Considerado uma lenda da Fórmu-
la 1, mesmo sem ter sido campeão
mundial, o inglês Stirling Moss mor-
reu ontem, aos 90 anos. Segundo suamulher, Susie Moss, ele estava em
sua casa, em Londres. O ex-piloto
estava internado havia mais de qua-
tro meses por causa de infecção no
peito. Em sua trajetória, Moss venceu
16 corridas e foi vice-campeão quatro
vezes seguidas, entre 1955 e 1958.PANDEMIA DO CORONAVÍRUS
Futuro do
Paulistão será
discutido
ACTION IMAGES / PETER CZIBORRADEPOIMENTOSDepois de um ano sem
grandes títulos, a expectativa
não deve ser otimistaMarcelo Cabo,
técnico do CRBSinto falta até
da pressão
da torcida
Técnicos ‘estudam’ futebol, se apegam a
leituras e tentam encaminhar contratações
O futuro do Campeonato Pau-
lista começa a ser decidido nes-
ta quarta-feira, em reunião vir-
tual entre representantes dos
16 clubes da competição e da Fe-
deração Paulista de Futebol. Há
muitas ideias em pauta, mas
também diversas incertezas,
até mesmo da continuidade ou
não da competição. A maioria
quer que o principal Estadual
do Brasil seja finalizado de on-
de parou, mas todos sabem que
o momento é de ter cautela.O Estado conversou com re-
presentantes de alguns clubes e
da FPF e o tom da conversa é
bem parecido. Organização e
participantes querem a manu-
tenção da disputa. A ideia é a
volta dos jogos apenas quando
houver garantia de segurança
para a saúde dos torcedores e
dos jogadores. O problema é
que ninguém sabe precisar
quando isso vai acontecer. Não
está descartado o retorno sem
público, com portões fechados.
Algo que tem sido sugerido
por alguns dirigentes e deverá
ser levado à reunião é a possibili-
dade de realizar os jogos com
portões fechados ou ainda limi-
te de pessoas no estádio, como
está sendo estudado na Alema-nha e em outros países euro-
peus. Apenas jornalistas e mem-
bros doe times teriam acesso às
arenas. Um outro plano, esse
que conta com menos incentiva-
dores, é levar as partidas para
cidades do interior em que há
poucos registros de casos relata-
dos do novo coronavírus.
Palmeiras, São Paulo e San-
tos pretendem se unir na luta
para que o Paulistão não interfi-
ra na preparação do trio na Li-
bertadores. Jogos no exterior
geralmente exigem que as equi-
pes façam viagens com antece-
dência, o que atrapalharia o ca-
lendário e não é seguro agora.
Com mais pontos, o Santo An-
dré lidera o torneio na classifica-
ção geral. / Daniel BatistaDaniel Paulista,
técnico do Sport'A dificuldade
é não saber os
prazos'
Eu tenho tido tempo para des-
cansar e trabalhar, visando
quem sabe o retorno próximo.
No meu caso, como estou há
pouco tempo na equipe (che-
gou no meio de fevereiro),
analiso os jogos que fizemos,
as características dos atletas e
penso nas peças que tenho e
na possibilidade de melhorar
o padrão de jogo.
Saí do Recife e vim para Ri-beirão Preto, onde estou com
a família. Tenho contato diá-
rio com meus auxiliares por
WhatsApp e telefone. Traba-
lhamos juntos. Cada um obser-
va uma área da equipe e faz
um avaliação sobre o que
achou dela. Os atletas têm um
protocolo de treinamento pa-
ra eles executarem a fim de
manter a condição física.
A grande dificuldade é que
ninguém passou por uma si-
tuação como essa. Geralmen-
te você tem paralisação de fé-
rias em dezembro, mas sabe
que vai ter uma preparação
para começar o Estadual. Ago-
ra é inédito. Na cabeça dos
jogadores também passa essa
indefinição. A dificuldade é
grande para todos nós.Estou em Maceió e tenho fei-
to reunião por vídeo com os
integrantes da comissão técni-
ca para elaborar um cronogra-
ma de intertemporada. Meu
filho, Gabriel, é meu auxiliar e
mora ao meu lado, vem sem-
pre na minha casa para conver-
sarmos. Precisamos criar uma
rotina nova: três vezes por se-
manas temos reunião da co-
missão técnica. Também te-nho passado mais tempo com
meu neto, o Bernardo.
Nas conversas a gente pro-
cura elaborar o planejamento
para os atletas. Também es-
tou focado na leitura e nos
estudos. Meu filho edita al-
guns vídeos das nossas parti-
das e mandamos para os joga-
dores um material com concei-
tos de jogo, saída de bola, posi-
cionamento. É uma forma de-
les continuarem focados e po-
dem ver a qualquer momento.
Eu brinco que faz falta o
cheiro da grama e até a pres-
são da torcida, da adrenalina
do jogo e das vaias. No clube,
costumo chegar cedo e vou
embora à noite. Minha rotina
está diferente. Tudo neste mo-
mento é uma interrogação.SÃO PAULO FCEm casa e
de olho em
elencos
mais fortes
Quarentena. O técnico do São Paulo, Fernando Diniz, aproveita os dias sem jogos para ler livros e ter mais conhecimentos