REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS
a vaidade, e da esperança. Daqui vem, que para reprimir
as paixões, nem sempre é bom meio o reprimi-las; na
resistência parece que se formam, e fortificam mais;
algumas nascem só da resistência, e não podem existir
sem elas. Da dificuldade das coisas inferimos a
excelência delas; o fazê-las fáceis, e sem oposição, é o
mesmo que tirar-lhes a graça, que as fazia apetecíveis.
Em tôdas as paixões se encontra a vaidade de querer
vencer; não há vitória sem combate, e se a há, é sem
glória, e sem merecimento. Contra um campo aberto não
há desejo, nem ardor; a vaidade tem repugnância a entrar
pacificamente, armada sim; a muralha incita, porque
impede.
A vaidade, ou a soberba de uma mulher for- (107) mosa, é
quase insuportável; ainda o amor mais fino se revolta, porque o