(145) Os historiadores no que mais se esforçam, é em
pintar cada um a si, e introduzirem no que escrevem as
suas profissões, e inclinações. O orador todo se ocupa
em declamações, e panegíricos, ainda que os objetos
do louvor sejam totalmente indignos dêle. O militar
não faz mais que buscar ocasião para descrever
empresas, muralhas, ângulos, ataques, sítios: uma
batalha, que nunca houve, êle a faz tão certa, que até
relata a hora em que começou, como se prosseguiu, o
tempo que durou, os incidentes que teve, os nomes dos
generais, a forma do combate, os erros, ou acertos de
uma, e outra parte; e finalmente dá a razão por onde se
veio a conseguir o vencimento; ainda em um combate
verdadeiro, só o historiador teve notícia de infinitas
circunstâncias, que tendo sido momentâneas, nenhum
dos mesmos combatentes as puderam distinguir, saber,
nem ver; se o autor da história é jurisconsulto, logo faz
menção de leis, legisladores, direito das gentes, e da
guerra: a cada passo acha matéria própria para uma
larga discussão, e deixando o que pertence à história,
êle mesmo se incorpora nela, e entra a mostrar o seu
caráter: aqui vem, que Salústio, sendo historiador, todo
se cansa em moralidades, Tácito em políticas, Tito
Lívio em superstições.
O desejo de contar coisas admiráveis, e a vaidade,
que o historiador tem de manifestar que as sabe, é o
que fêz sempre inventar, e escrever sucessos fabulosos.
O inventor de coisas raras, extraordinárias, e
maravilhosas, atribui a merecimento seu, a admiração
que faz nascer no ânimo do leitor crédulo, e inocente.
A variedade de opiniões na matéria da história, faz que
esta parte da literatura, seja a mais incerta, duvidosa, e
composta muitas vêzes de engano, e imposturas. A
Heródoto (que
zelinux#
(Zelinux#)
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