REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS
à estátua de Júpiter, diante da qual todos se prostram,
não por amor do ídolo, mas por causa do raio, que tem
na mão; olha para a benignidade como para um modo,
ou artifício de atrair a si a inclinação dos outros, e por
isso virtude mercenária: olha para a lealdade como
para um ato, que precisamente resulta de uma
submissão necessária: e ultimamente olha para a fama
como para um objeto vago, e incerto, e que na
realidade vale menos do que custa a conseguir.
Com os anos não diminui em nós a vaidade, e (31) se
muda, é só de espécie. A cada passo, que damos no discurso
da vida, se nos oferece um teatro nôvo, composto de
representações diversas, as quais sucessivamente vão sendo
objetos da nossa atenção, e da nossa vaidade. Assim como nos
lugares, há também horizonte na idade, e continuamente imos
deixando uns, e entrando em outros, e em todos êles a mesma
vaidade, que nos cega, nos guia. Nem sempre fomos
suscetíveis das mesmas impressões; nem sempre somos
sensíveis ao mesmo sentimento; sempre fomos vaidosos, mas
nem sempre domina em nós o mesmo gênero de vaidade.
Há vícios, que raramente deixamos, se êles pri- (32)
meiro nos não deixam; e quando com o tempo seguirmos o
exercício de obrar bem, não é porque o conhecimento, ou a
experiência nos determine, mas porque continuamente os anos
nos vão fazendo incapazes de obrar mal; e assim virtudes há,
que