matias

(Zelinux#) #1
MATIAS AIRES RAMOS DA SILVA DE EÇA

das mais lastimosas tragedias, espantam menos pelo
horror das sombras, que pelo silêncio.

(47) Mil preceitos há que nos ensinam, o quão pouco
são estimáveis em si, êsses mesmos objetos que bus-
camos com fadiga: o conhecermos a vaidade das
coisas, não basta para as não querermos; porque o
conhecimento de um mal, que se apetece, é um meio
muito débil para o deixar. No mesmo retiro temos todo
o mundo no coração, e neste vivem as paixões então
mais concentradas, e por isso mais vigorosas, e mais
fortes: o ser o lugar mais apertado não nos livra do
combate, antes o faz mais arriscado: a vaidade é como
o amor, êste quando o deixamos, sempre nos fica uma
saudade lenta, que insensivelmente nos devora; porque
é um mal, cuja privação se sente como outro mal
maior: ainda depois de passados muitos anos, a
lembrança, que às vêzes nos ocorre de um amor, que
parece acabou, sempre nos vem com sobressalto; o
coração nunca fica indiferente, e sempre recebe com
alvorôço a idéia de um ardor amortecido, e como que o
reclama. Verdadeiramente perdida a vaidade, e perdido
o amor, que nos fica?


(48) É próprio da vaidade o dar valor a muitas
coisas, que o não têm, e quase tudo o que a vaidade
estima, é vão. Que coisa pode haver, que tenha em si
menos substância do que umas certas felicidades, que
ponderada a melhor parte delas, consiste, ou em
palavras, ou em gesto: a denominação de
Free download pdf