REFLEXÕES SÔBRE A VAIDADE DOS HOMENS
o semblante pálido e horroroso, e só a deixa ornada de
palmas e troféus.
O valor não é igual em tôda a parte; porque a (70)
vaidade não é em tôda a parte a mesma. Há empresas de mais,
e de menos vaidade, por isso as há de menos, e mais valor. A
vaidade aumenta e diminui à proporção do seu motivo; e da
mesma sorte o valor diminui e aumenta, à proporção da sua
vaidade. A razão do esfôrço, regula-se pela razão da vaidade;
daqui vem, que em um conflito grande, os ânimos se elevam e
arrebatam; porque algumas vê-zes é questão do destino de um
Império; em lugar que o ardor é lento, quando só se disputa
um pôsto vantajoso. A presença de um monarca não influi
pouco na fortuna militar; então quer o soldado dis-tinguir-se
com maior excesso, porque fica sendo memorável a ação a
que assiste um rei: aquela é a ocasião, em que cada um dos
combatentes vaticina que o seu nome há de escrever-se nos
anais da história; por isso corre a assinalar-se em um dia que
há de servir de época aos séculos vindouros: nenhum entra na
peleja indiferente; todos fazem a causa sua; uns combatem
pela glória do sucesso, outros pela honra da assistência; e a
todos parece que o soberano os vê. O estrépito das armas antes
que chegue ao coração, inflama a vaidade, esta, que
comumente move, então acende.
Não é isto assim na solidão de um ermo. O (71)
mesmo homem, que fêz a admiração da guerra, pôsto em um
bosque é outro. O sussurro de uma fonte, que se despenha, o
sobressalta; o movimento de uma